João Candido Portinari recebe do Governo Italiano a Condecoração “Ordine della Stella d’Italia”

 

O ArteCult foi convidado para acompanhar, no consulado da Itália no Rio de Janeiro, a cerimônia de entrega da Condecoração “Ordine della Stella d’Italia” para João Cândido Portinari, diretor do Projeto Portinari. Alguns dos outros brasileiros que já ganharam essa honraria estão Chico Buarque, Gilberto Gil e Toquinho.

João Cândido é filho de Cândido Portinari e, através do seu Projeto, um trabalho maravilhoso que já possui mais de 40 anos, procura agora democratizar o acesso às obras do seu pai.

Não deixe de ver nossas matérias sobre as exposições Portinari para Todos (MIS – SP) e Portinari Raros (CCBB – RJ).

Entre os convidados estavam personalidades do meio cultural, amigos e familiares de João Candido que retribui a presença de todos e a honraria recebida com um discurso emocionado e intimista, comentando sobre a origem de sua família e todos os laços que a unem, bem como seu trabalho de vida, à Itália.

Confira abaixo as imagens da cerimônia e também as entrevistas exclusivas cedidas ao ArteCult:

Conversamos com o embaixador italiano Francesco Azzarello, cineasta Silvio Tendler, João Candido Portinari e seu filho, João Carlos Portinari . Confira !

Confira abaixo mais imagens da cerimônia :

 

SOBRE PORTINARI

PORTINARI. Foto: Reprodução Site Projeto Portinari

Candido Portinari nasce em 29 de dezembro de 1903, numa fazenda de café perto do pequeno povoado de Brodowski, no estado de São Paulo. Filho de imigrantes italianos, de origem humilde, tem uma infância pobre. Recebe apenas a instrução primária. Desde criança manifesta sua vocação artística. Começa a pintar aos 9 anos. E – do cafezal às Nações Unidas – ele se torna um dos maiores pintores do seu tempo.

Aos quinze anos parte para o Rio de Janeiro. Matricula-se na Escola Nacional de Belas-Artes. Em 1928 conquista o Prêmio de Viagem à Europa, com o Retrato de Olegário Mariano. Esse fato é um marco decisivo na trajetória artística e existencial do jovem pintor. Permanece em Paris durante todo o ano de 1930. A distância, pode ver melhor a sua terra. Decide: Vou pintar aquela gente com aquela roupa e com aquela cor…

Portinari retorna, saudoso de sua pátria, em 1931. Põe em prática a decisão de retratar nas suas telas o Brasil – a história, o povo, a cultura, a flora, a fauna… Seus quadros, gravuras, murais revelam a alma brasileira. Preocupado, também, com aqueles que sofrem, Portinari mostra em cores fortes a pobreza, as dificuldades, a dor. Sua expressão plástica, aos poucos, vai superando o academicismo de sua formação, fundindo a ciência antiga da pintura a uma personalidade experimentalista moderna. Segundo o escritor Antonio Callado, sua obra constitui um monumental livro de arte que ensina os brasileiros a amarem mais sua terra.

Companheiro de poetas, escritores, jornalistas, diplomatas, Candido Portinari participa da elite intelectual brasileira numa época em que se verifica uma notável mudança na atitude estética e na cultura do País. Este seleto grupo reflete, ainda, sobre os problemas do mundo e da realidade nacional. A escalada do nazifascismo e os horrores da guerra, bem como o contato próximo com as históricas mazelas do Brasil reforçam o caráter trágico da vertente social da obra de Portinari e o conduzem à militância política. Filia-se ao Partido Comunista. Candidata-se a deputado federal, a seguir a senador, não se elegendo porém em nenhuma das duas candidaturas. Mais tarde, com o acirramento da repressão política, exila-se por certo tempo no Uruguai.

O tema essencial da obra de Candido Portinari é o Homem. Seu aspecto mais conhecido do grande público é a força de sua temática social. Embora menos conhecido, há também o Portinari lírico. Essa outra vertente é povoada por elementos das reminiscências de infância na sua terra natal: os meninos de Brodowski com suas brincadeiras, suas danças, seus cantos; o circo; os namorados; os camponeses… o ser humano em situações de ternura, solidariedade, paz.

Pela importância de sua produção estética e pela atuação consciente na vida cultural e política brasileira, Candido Portinari alcança reconhecimento dentro e fora do seu País. Essa afirmação de seu valor se expressa nos diversos convites recebidos de instituições culturais, políticas, religiosas, para realização de exposições e criação de obras; nos prêmios e honrarias obtidos nas mais diferentes partes do mundo; na aura de amizade e respeito construída em torno de sua imagem; no orgulho do povo brasileiro, tão bem representado em sua obra.

Candido Portinari morre no dia 6 de fevereiro de 1962, vítima de intoxicação pelas tintas. Na última década de sua existência cria, para a sede da Organização das Nações Unidas, os painéis Guerra e Paz. Na concepção do diretor do Projeto Portinari, João Candido, essa obra-síntese constitui o trabalho maior de toda a vida do pintor. O mais universal, o mais profundo, também, em seu majestoso diálogo entre o trágico e o lírico, entre a fúria e a ternura, entre o drama e a poesia. Na avaliação do artista Enrico Bianco,  Guerra e Paz são as duas grandes páginas da emocionante comunicação que o filósofo / pintor entrega à humanidade.

 

SOBRE JOÃO CANDIDO PORTINARI

João Candido Portinari. Foto: Divulgação.

João Candido Portinari é o fundador e diretor-geral do Projeto Portinari, e único filho de Candido Portinari.
É matemático e engenheiro de telecomunicações (Paris 1963), com doutorado pelo Massachusetts Institute of Technology, o MIT (1966).

Foi premiado com o Prêmio Jabuti, em reconhecimento ao Catálogo Raisonné da obra completa de seu pai, publicado em 2004, e também ganhou o prêmio Prêmio Sérgio Milliet, em 2005, e a Ordem do Mérito Cultural, sendo também eleito pela Associação Brasileira de Críticos de Arte como Personalidade do Ano em 2012, entre outros prêmios.

Também colaborou com vários livros sobre a vida e a obra de Portinari, com destaque para o livro “O Menino de Brodowski” (1979), e “Candido Portinari, o Lavrador de Quadros” (2003), entre outros.

 

 

Não deixe de assistir nossa live com João, quando deu uma verdadeira AULA MAGNA sobre a obra do seu pai:

 

SOBRE O PROJETO PORTINARI

Dezessete anos após a morte de Candido Portinari, o jornal O Globo publicaria:

Portinari, o pintor. Um famoso desconhecido. Mais de 95%  da obra do maior pintor brasileiro contemporâneo hoje é inacessível ao público, guardada em coleções particulares. O que foi feito do trabalho de um homem que, durante toda a sua vida, exprimiu emocionadamente a alma, o povo e a vida brasileira? O escritor Antonio Callado já havia denunciado também:

[…] Candinho se vai tornando invisível. Vai continuar desmembrado o nosso maior pintor, como o Tiradentes que pintou?

Em 1979 nasce o Projeto Portinari (www.portinari.org.br). Seu diretor, João Candido, dirigindo-se ao pai em carta-prefácio póstuma, que introduz a primeira publicação do Projeto Portinari, declara:

[…] é como brasileiro que me sinto no dever de trabalhar para que todos possamos nos reencontrar com tua obra e, através dela, com nós mesmos.

Inicialmente voltado para o resgate sistemático, minucioso e abrangente da vida e da obra de Candido Portinari, bem como da época em que viveu, o Projeto visa também colocar a obra do artista a serviço da tarefa maior de busca da nossa identidade cultural e preservação da memória nacional. Além disso, pretende contribuir para uma ação sociocultural ampla, voltada para melhor compreensão do processo histórico-cultural brasileiro. Empenha-se, ainda, em exercer uma atuação voltada especialmente a crianças e jovens, tomando por base os valores sociais e humanos presentes em todo o universo portinariano, para suscitar uma reflexão sobre a realidade brasileira e mundial. Assim Antonio Callado sente e descreve a iniciativa pioneira do Projeto Portinari:

“Na casa do arquiteto francês Grandjean de Montigny, há um trabalho de amor e técnica que fixa para a posteridade a obra de Portinari… Pessoalmente ainda não vi, no Brasil, um trabalho tão minucioso e tão inteligente para manter viva a memória de um artista… um projeto que constitui um marco histórico: é assim que um país se firma nas suas raízes culturais…”

O resgate pelo Projeto Portinari da memória da vida, da obra e da época de  Portinari se processa por meio do levantamento, organização e pesquisa de informações, bem como da digitalização de imagens. Nessa perspectiva, o Projeto  já apresenta os seguintes resultados: levantamento de 5.300 pinturas, desenhos e gravuras atribuídos ao pintor, assim como de mais de 25 mil documentos sobre sua obra, sua vida e sua época; pesquisa da autenticidade das obras (“Projeto Pincelada”); processamento digital das imagens; organização do arquivo de correspondência (mais de 6 mil cartas) e do acervo de fotografias históricas, filmes e recortes de mais de 10 mil periódicos, livros, monografias, textos e memorabilia; registro de mais de 70 depoimentos de artistas, intelectuais, políticos, amigos e parentes de Portinari, totalizando mais de 130 horas gravadas (“Programa de História Oral”); publicação do Catálogo Raisonné “Candido Portinari – Obra Completa”, primeira publicação dessa natureza em toda a América Latina.

A atuação sociocultural do Projeto Portinari se dá pela disponibilização da obra do artista ao público, a exemplo da produção da primeira exposição retrospectiva da obra de Portinari – mostra realizada em 1997, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP); da edição e/ou participação na edição de publicações alusivas a Portinari; da criação de material para divulgação da vida e da obra de Portinari;  do planejamento e execução do “Projeto Guerra e Paz” – restauração dos painéis em ateliê aberto a estudantes e público em geral, no Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro, além de exposição ao público do Brasil e do exterior.

No campo socioeducativo o Núcleo de Arte-Educação e Inclusão Social  implementa projetos de ensino-aprendizagem que associam diretamente a obra de Portinari aos princípios de uma Cultura de Paz. Podem ser citados, entre outros, a exposição itinerante “O Brasil de Portinari”; o projeto “Se eu fosse Portinari”; as  exposições “Portinari – Arte e Ciência” e “Tempo Portinari”; o projeto “Portinari – Arte e Meio Ambiente”; o programa educativo do “Projeto Guerra e Paz”; o projeto “Portinari – Bauzinho do pintor”: a primeira edição, dedicada à literatura,  relaciona a obra do artista ao livro Menino de Engenho, de José Lins do Rego; a segunda associa a pintura de Portinari a questões do meio ambiente.

É importante ressaltar, ainda, o fato de que, desde sua criação dentro da área científica da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, o Projeto Portinari busca interagir com outros campos do conhecimento, em especial os de ciência e tecnologia, no sentido de criar e adaptar novas metodologias e técnicas que possam ser úteis a pesquisadores e instituições empenhadas em projetos congêneres.

Em reconhecimento ao trabalho que desenvolve, o Projeto Portinari conta atualmente com o patrocínio das empresas Queiroz Galvão Exploração e Produção, Ibope e Megadata; e os apoios do Ministério da Cultura, da PUC-Rio, da Portinari Licenciamentos, do escritório Luís Guilherme Vieira Advogados Associados, da Nauru e da Galeria Dom Quixote.

E do poeta Carlos Drummond de Andrade mereceu as seguintes palavras: “Trabalham discretamente os executantes do Projeto, mas deve cercá-los a confiança e o carinho dos que pensam no Brasil de amanhã nascendo do espírito e das mãos dos brasileiros de hoje.”

É fundamental mencionar que o trabalho do Projeto Portinari não teria chegado aonde chegou sem a colaboração e o empenho dos pesquisadores e profissionais que, com seu trabalho, contribuíram para a criação do acervo do Projeto Portinari e, mais amplamente, para o seu desenvolvimento em suas diversas áreas de atuação. Foram eles: Adriana Kauffman, André Arraes, Angela Lessa, Angela Villela, Angela Maria Mega e Chagas, Antonio Gusmão, Antonio Roberto Neiva Blundi, Carolina Matheus, Celso Alves da Cruz, Christina S. Gabaglia Penna, Ciro Mariano, Claus Meyer, Daniel Benevides, Daniel Menascé, Daniel Schwabe, Enrico Bianco, Fábio Ruiz, Georges Svetlichny, Georgina Staneck, Guilherme Teixeira, Ingrid Beck, Jean Boghici, Jean-Paul Jacob, José Antonio Faria Corrêa, Jussara Celestino, Kátia Nunes Machado Braune, Leonel Kaz, Letícia Brandão, Lúcia Meira Lima, Luís Fernando Diniz Junqueira Barbosa, Luiz Felipe Moraes, Luiz Tucherman, Madalena Diegues, Marcello Dantas, Márcia de Oliveira Castro Lopes, Marcos Leite de Araújo, Marcos Martins, Maria Christina Guido, Maria do Carmo Alves, Maria Helena Magalhães Castro, Maria Lúcia Faria Rodrigues, Maria Pierina Camargo, Maria Rita Gaivão, Marisa Marques, Nicolau Drei, Paula Ypiranga dos Guaranys, Paulo Costa Ribeiro, Peter Schneider, Queiroz, Raul Renteria, Regina Ferraz, Richard Romero, Robson Mattos, Romulo Fialdini, Rosana de Saldanha da Gama Lanzelotte, Rose Ingrid Goldschmidt, Rui Milidiu, Salvador Monteiro, Sidney Paciornik, Simone Diniz Junqueira Barbosa, Solange de Oliveira e Almeida, Sueli Medeiros, Vera Madalena de Lira, Vera Maria de Abreu Alencar e Walter Annibal Etchegarray.

 

Site do Projeto Portinari: www.portinari.org.br

 

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One comment

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