Especial Oscar 2018 – Três Anúncios para um Crime

Três Anúncios para um Crime – poster divulgação IMDB

Já começo a review perguntando, caro leitor: você sabe onde fica o estado de Missouri, na gloriosa e poderosa nação norte-americana ? Se tiver a curiosidade e acha-lo na parte sul, mais a leste do país, provavelmente entenderá a problemática da história no filme.

Missouri é o estado onde se encontra a cidade de Ebbing, cenário (e digo, quase uma personagem) do enredo (faz parte também do título original em inglês: Three Billboards outside Ebbing, Missouri). É também um dos territórios da “Minoria Esquecida”, a parcela da população que votou em Trump.

Lá, todo mundo conhece todo mundo. Sabe dos valores, sabe dos heroísmos, sabe da decência. Mas também dos podres. E quando algo sai dos trilhos do que normalmente se é esperado, aí o comportamento descarrilha para a polarização: se você não pensa como eu, então está contra mim. E vem daí a escalada da violência e não há redenção para aplacar a ira. A vingança se torna o objetivo, o fim.

Woody Harrelson e Frances McDormand – foto divulgação IMDB

Os três anúncios se referem a três outdoors, o estopim da história. Postos por Mildred Hayes (Frances McFormand), a mãe que teve a filha assassinada, eles reclamam do xerife da cidade, Willoughby (Woody Harrelson) que não fez, ainda, nenhuma prisão. Toma partido do chefe, o policial Dixon (Sam Rockwell) que passa a confrontar Mildred que, por sua vez, já calejada com os espancamentos do ex-marido, revida. E está pronto o caminho pavimentado para conflitos que descambam para uma violência, por vezes, irracional.

O interessante do filme é que, com o seu desenrolar vai-se notando que as pessoas não são preto-e-branco. Elas são muito mais cinzentas na verdade. São muito mais complexas do que se normalmente pensa. Elas carregam dentro de si o vil, o ultrajante, mas também a compaixão, a humanidade. E isso dá espaço ao roteirista (Martin McDonagh que também é o diretor) a colocar na boca dos personagens, um humor típico do sarcasmo crítico diante das situações paradoxais. Isso garante boas risadas. Porém, como disse no início, não há redenção.

Frances McDormand e Sam Rockwell – foto divulgação IMDB

Vale a pena conferir ? Sim, vale. Filmes assim são muito necessários para as pessoas refletirem e deixarem o coração ser bagunçado.

Tem chance no Oscar 2018 ? Tem. Além de Melhor Filme, a atuação de Frances é bem convincente e ela vem colhendo os prêmios festivais a fora. A interpretação de Sam Rockwell é arrebatadora como o policial preconceituoso, violento e infantil e pode levar o de Melhor Ator Coadjuvante (Woody foi indicado também, mas diante da performance de Rockwell, não dessa vez). A história também pode levar o Oscar de Melhor Roteiro Original para McDonagh (também diretor, no entanto, não foi indicado … Vai entender …). Quanto a trilha sonora original e montagem não apostaria.

Faturou, neste ano, 4 Globos de Ouro para as categorias de Melhor Drama, Melhor Roteiro, Melhor Atriz para Drama Frances McDormand e Melhor Ator para Drama Sam Rockwell. Também levou 5 prêmios do “Oscar” britânico, o BAFTA, em: melhor filme, melhor atriz, melhor ator coadjuvante (Rockwell), melhor roteiro original e melhor filme britânico.

Veja o Trailer original legendado:

ANDRÉA ASSIS

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Author

Carioca, mas paulistana da gema radicada há mais de 20 anos na capital. Formada em Relações Internacionais, tem mestrado em Administração de Empresas em Lyon, na França. Orgulhosa da cidade onde vive, adora mostrá-la aos visitantes, sejam eles brasileiros ou não. Procura sempre descobrir lugares novos e diferentes, por isso sempre se mantém atualizada sobre o que acontece nestas bandas. Para isso, vai sempre às exposições que pipocam aqui e acolá e é sobre elas que pretende lançar seu olhar crítico que não se restringe só às obras, aos trabalhos expostos, mas também ao ambiente: como estão organizadas, se existem informações para os visitantes, enfim, se vale a pena o leitor investir o seu tempo para ir vê-las. Eventualmente, faz críticas de filmes, mas prefere deixá-las aos mais habilitados. Mas não deixa de acompanhar os lançamentos. Humildemente, pede ao leitor paciência para com o que ele lê aqui no espaço, pois a escritura e análise pedem apuro ao longo do tempo.

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