
Cena do filme “Terra Estrangeira”, de Walter Salles e Daniela Thomas
O otimista não se destaca quando está tudo bem; claro que não. Quando o vento está favorável é fácil sorrir, brincar, dançar. Mas, quando o bicho pega, a vaca vai para o brejo e o copo seca, eis que surge o desafio. Não tem metade cheia, ele está VA-ZI-O. Empty! Deu para entender, Pollyanna?
Então… “Não está fácil para ninguém.” Pois é, sem dúvida – “Tá feia a coisa”. É de conhecimento geral da Nação e também fora dela que “The situation is black.”…
Tudo bem, tudo bem, já entendi, eu sei que é demais pedir que olhemos pelo ponto de vista da Lei Mística, a lei da causa e efeito – estamos encarando os políticos que chegaram lá pelo voto. E tantos de nós evitamos a discussão política por tanto tempo. “Política e religião não se discute”. “Detesto política”. “Isso não me interessa”. Está certo, essa idéia de Lei Mística não é todo o mundo que vai comprar, então apresento outra. E, para os pessimistas de plantão, aqui vai a boa notícia: a política virou um assunto mais importante do que o futebol!
E, como descobrimos, política tem, sim, a ver com tudo na nossa vida, inclusive com cinema! Palavras-chave nos remetem a um passado recente – impeachment, golpe, corrupção, marajás – só para citar algumas, fora o fato de o MinC ter sido rebaixado a secretaria.
A era Collor volta e meia nos vem à cabeça. E essa foi uma obscura era para o cinema brasileiro, sua pior fase, toda a cadeia de produção foi destruída com uma canetada. Mas o cinema do nosso país pode passar por momentos difíceis, agonizar, mas não morre. A média de filmes anuais saltou de quase zero no início dos anos 90 para mais de 20 na segunda metade da década.*
Carla Camuratti, com “Carlota Joaquina, princesa do Brasil” marca a retomada do cinema brasileiro, e em “Terra Estrangeira”, Laura Cardoso tem um ataque do coração ao receber a notícia do confisco da poupança pela televisão. Os filmes falam da nossa história mesmo quando isso não está explícito – são histórias cujos significados entendemos melhor do que ninguém.
O MinC foi criado em 15 de março de 1985 pelo presidente José Sarney, extinto por Collor, voltou com Itamar e agora, outra vez , pelo breve tempo de um piscar de olhos, foi rebaixado a secretaria. Igual só que totalmente diferente, porque não se conta uma história duas vezes da mesma maneira.
Os brasileiros, já calejados que estão, atentos e mobilizados, gritaram, cantaram, protestaram e rapidinho o MinC voltou. Ufa! Não deu nem tempo de pararem as máquinas e o que estava em produção, pré ou mesmo no campo das ideias, seguiu o seu caminho. E que bom que a vida segue.

Em “Terra Estrangeira”, Manuela, personagem de Laura Cardoso, tem um enfarte ao saber do confisco da poupança.

Eryk Rocha ganha prêmio de Melhor Documentário em Cannes
“Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho, polêmicas à parte, todos que viram dizem que é um belo filme, apesar de não ter levado o prêmio. “Aquarius” não levou, mas “Cinema Novo” levou! L`Oeil D`Or! Prêmio de melhor documentário para o filme de Eryk Rocha! Que maravilha! Filmes que merecem um post para cada um, uma especial atenção!
Não vi e já gostei. Estou aguardando ansiosamente, espero que vocês também! E viva o cinema brasileiro! Viva!
LINKS
*O Cinema da Retomada – livro de Lúcia Nagib com depoimentos de 90 cineastas dos anos 90 (Editora 34 pág.13 )
Poema de Carlos Drummond de Andrade – José – http://www.algumapoesia.com.br/drummond/drummond14.htm
Carlota Joaquina, princesa do Brasil , 1995 de Carla Camurati
- http://www.imdb.com/title/tt0109380/?ref_=fn_al_tt_1 (mais informação)
- https://www.youtube.com/watch?v=wk9ZE7C9P58 (o filme)
Terra Estrangeira, 1996 – de Walter Salles e Daniela Thomas
- http://www.imdb.com/title/tt0114651/ (mais informações sobre o filme)
- https://www.youtube.com/watch?v=ElHOI_hCuP4 (o filme)
- https://www.youtube.com/watch?v=g1rofNG5ix8 (cena final)
O histórico do Ministério da Cultura: