AC Entrevista HERNANI HEFFNER: Um dos guardiões da memória do cinema brasileiro

 

Hernani Heffner é um dos principais nomes quando se fala em pesquisa e restauração do cinema brasileiro, além de curador, professor, escritor e gerente da Cinemateca do MAM Rio. Tem na sua trajetória a coordenação da restauração de filmes clássicos do nosso cinema como “Ébrio”, “Alô! Alô! Carnaval!” e “Bonequinha de Seda” (Cinédia).

Foi Curador do Festival Cine Música, de 2007 a 2014, e da temática preservação da Mostra de Cinema Ouro Preto – CineOP, de 2012 a 2016, assim como de diversas mostras para instituições como CCBBCaixa Cultural e Fundação Clóvis Salgado. Assinou a curadoria das exposições “4 x 3: A Arte do Cartaz de Cinema”, “Esboço de Cinema – A Arte do Storyboard”, “Galáxias do Cinema: máquinas, engrenagens, movimentos ou this strange little thing called love”, “O cérebro (e a caminhada) de Guido Anselmi” e “Rostos Fellinianos”, todas para o MAM Rio. É o idealizador da série /lost+found, sobre preservação audiovisual, que será exibida em dezembro deste ano no Canal Curta.

Nesta breve entrevista ele conta um pouco mais sobre a nova série, revela um de seus filmes preferidos desses tempos de pandemia e fala sobre a reabertura da sala presencial da Cinemateca, que terá várias atrações, como a comemoração dos 700 anos da morte de Dante Alighieri, entre outras.

 

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1) Você é uma referência em História do Cinema Brasileiro e durante vários anos lecionou na faculdade de Cinema da PUC-Rio, além dos cursos no MAM e em outros locais. Pretende continuar dando aulas? Algum curso à vista? Qual foi o maior aprendizado lecionando todos esses anos?

Ensinei em muitos lugares do Brasil, incluindo Acre, Ceará, Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Paraná e naturalmente Niterói, onde comecei em 2000, e Rio de Janeiro, cidade onde nasci e vivo. Não dou mais aulas regulares, mas sigo ministrando cursos aqui e ali. Vou dar um curso na ABC Rio agora em outubro chamado “Conversações sobre a História do Cinema”, sobre algumas categorias e alguns cineastas que acredito possam contribuir com um cinema à frente.

O aprendizado pode ser compreendido muito mais como a troca com os alunos, os participantes, os interlocutores, do que como um conhecimento formal. Perceber novas visões de mundo, novas energias, novas propostas, que surgem dos debates, dos questionamentos, tanto para quem “ensina” quanto para quem “aprende”.

2) A Sala da Cinemateca tinha um público fiel, apreciadores da 7ª arte, estudantes etc. Alguma previsão para a reabertura?

A Cinemateca do MAM parou por pouco tempo – entre março e julho – em termos de programação de filmes e ações culturais, por conta da pandemia. Em julho de 2020, foi lançado na internet o canal digital da Cinemateca do MAM, que em um ano de funcionamento exibiu mais de 500 filmes e alcançou cem mil visualizações completas. A sala de exibição presencial vai reabrir agora dia 9 de outubro com inúmeras atrações: mostra de filmes experimentais para crianças, comemoração dos 700 anos de Dante Alighieri, Dia Mundial do Patrimônio Audiovisual, que homenageará o produtor Claudio Petraglia, falecido este ano de covid, e o centenário da atriz Cacilda Becker, e a primeira sessão presencial do projeto Veredas do Patrimônio Audiovisual, que valoriza a preservação audiovisual. A programação prossegue também online com mostras dedicadas ao cineasta Tavinho Teixeira e ao Acervo Capixaba, com inúmeros curtas restaurados.

3) Ao longo da sua trajetória você se envolveu em diversos projetos e desempenhou as mais variadas funções, entre elas você foi curador de algumas mostras sobre cinema. Qual delas você destacaria e porquê? Algum projeto neste sentido?

Fiz algumas curadorias de mostras de filmes, mas sempre a convite de amigos. Nunca quis seguir esse caminho, até porque me sentia desconfortável, pois era muito chamado para comissões. Fiz curadoria/programação da sala de exibição da Cinemateca entre 2015 e 2019. Gostei muito dessa experiência. Compreender o público, dialogar com ele, apoiar iniciativas, promover os mais diferentes aspectos do cinema. Fiz também curadoria de festivais, o que foi uma experiência enriquecedora como estruturação, incentivo a áreas pouco valorizadas como a preservação, na CineOP, e o som, no Cine Música. E por fim fiz um tipo de curadoria mais específica, ligada a exposições. Adorei criar uma exposição sobre equipamentos de cinema, chamada Galáxias de Cinema, que ficou seis meses em cartaz e atraiu milhares de visitantes, e outra que foi um desafio conceitual, para o centenário de Fellini, explorando o universo do clássico 8 e meio. Não faço isso de forma sistemática. Nunca me senti curador de fato. Aproveitei algumas oportunidades.

Nota do Editor: Confira abaixo as imagens da exposição “Galáxias do Cinema: máquinas, engrenagens, movimentos ou this strange little thing called love” (clique para dar ZOOM)

4) Você produziu uma série sobre preservação que ainda não estreou. Quando será o lançamento? Quais foram os maiores desafios da produção da série e o que você quis enfatizar na narrativa?

Idealizei a série “/lost+found“ em 2015 a convite do Canal Curta! e a proposta original era focar nos profissionais em vez de investigar a profissão e o universo dos arquivos. Foi trabalho desenvolvido por duas produtoras, a Dilúvio e a Lúdica, conduzidas por jovens realizadores de muito talento. Era importante que os episódios fossem criados por um olhar virgem, que estaria se aproximando pela primeira vez desse universo. Acho que isso funcionou muito bem. Eu acredito que esse mundo tem um atrativo particular e que a série conseguiu captar esse encanto. E isso é um feito, porque alguns episódios tiveram que enfrentar o contexto da pandemia, o que foi um desafio logístico, sanitário e artístico. O resultado poderá ser conferido a partir de dezembro no Canal Curta!

5) Assistiu muitos filmes durante esses tempos de pandemia? Algum deles te chamou mais atenção? Porque?

Assisti menos do que gostaria e deveria. Assisti muito mais filmes que estão em preparo, sendo finalizados e encaminhados de realizadores brasileiros, alguns deles muito bons, mas ainda não lançados. De circuito, o que mais gostei foi o Be Natural, sobre a Alice Guy Blaché. O filme torna o mundo da preservação eletrizante, aventuresco, fascinante. É um dos poucos filmes que trata o tema sem tom cerimonioso.

6) A produção cinematográfica nacional sofreu nos últimos anos com as políticas culturais e agora com a pandemia. O que você diria para um estudante hoje que pretende se dedicar ao cinema? Qual direção seguir? Quais são as perspectivas?

Sempre foi assim e enquanto durar a dominação colonial estadunidense continuará assim, mas o cinema brasileiro já aprendeu a lidar com isso. Os cineastas que vierem pela frente terão que buscar os caminhos de enfrentamento, superação e alegria, que sempre acompanharam a experiência brasileira.

7) Você já tem novos projetos em mente para o ano que vem?

Não faço projetos. Sigo os rumos do vento.

 

SOBRE HERNANI HEFFNER

Hernani Heffner – Foto @zezepka

Pesquisador, graduado em Comunicação Social/Cinema pela UFF. Começou a carreira na Cinédia em 1986, onde trabalhou com levantamento de fontes e dados e conduziu a restauração de diversos filmes. Atualmente dirige a Cinemateca do MAM-RJ, onde ingressou em 1983. Já lecionou em várias universidades e cursos livres como a UFF, Fundação Getúlio Vargas, Fundação de Artes do Paraná e Puc-Rio, entre outras. É autor da pesquisa e do roteiro do vídeo “A lógica do Silêncio”, sobre a atuação da censura durante a ditadura civil-militar. Escreveu mais de 100 verbetes para a Enciclopédia do Cinema Brasileiro, assim como artigos e textos para catálogos, revistas e livros. Nas horas vagas trabalha como ator, com participações em peças, filmes e séries.

 

 

 

 

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