Santiago Nazarian: o autor de Mastigando humanos é o convidado desta semana do AC Encontros Literários

Santiago Nazarian (@nazarians) é paulistano de origem armênia. Publicou mais de dez livros, entre eles Mastigando humanos, Biofobia, Neve negra, Fé no infernoA morte sem nomeFeriado de mim mesmo e Pornofantasma. Em 2003, recebeu o Prêmio Fundação Conrado Wessel de Literatura por seu romance de estreia, Olívio. Em 2007, foi escolhido um dos autores jovens mais importantes da América Latina no Hai Festival (Bogotá). Em 2012, lançou seu primeiro romance juvenil, Garotos malditos, contemplado no programa Petrobras Cultural. Tem obras traduzidas em países da América Latina e também da Europa. Paralelamente ao seu trabalho como autor, exerce ainda as funções de tradutor e roteirista.

Confira abaixo a entrevista exclusiva que preparamos pra você neste Dia Nacional do Escritor. Aproveitamos a oportunidade para agradecer a todos os autores que já passaram pelo AC Encontros Literários nestes dez meses de existência do projeto. Não ignoramos a riqueza, a diversidade e a qualidade da Literatura Brasileira. Esperamos ter a oportunidade de levar ao público em geral muitas outras histórias de sucesso e talento.

 

ArteCult: Como a Literatura entrou na sua vida?

Santiago Nazarian: Eu venho de uma família de leitores e artistas. Meu pai é artista plástico, minha mãe trabalhou muito tempo em livraria, biblioteca; então eu sempre tive livros em casa. Meus pais se separaram quando eu era pequeno, e a cada ano minha mãe ia tirando os quadros dele da parede para dar mais espaço a novas estantes de livros. Acho que, nessa guerra entre literatura e artes plásticas, a literatura ganhou.

 

AC: Como é sua rotina de escritor? Escreve todos os dias? Reescreve muito? Mostra para alguém durante o processo?

SN: Eu escrevo todos os dias quando estou trabalhando num livro novo. Depois de publicado, eu preciso de um tempo para arejar, renovar ideias e posso passar um bom tempo sem escrever. Geralmente eu mostro só para quem pode me ajudar no livro, como o historiador especialista no genocídio armênio que me ajudou na pesquisa de Fé no inferno; no meu próximo, o protagonista é um adolescente catarinense, então mandei o livro para um jovem amigo de lá, para ele checar as expressões/gírias regionais.

Fé no inferno: problemas de classe, etnia, gênero e orientação sexual em foco. Foto: Reprodução internet.

 

AC: No seu caso, de onde vem a inspiração?

SN: Da cocaína. Haha, não (bem, talvez já tenha vindo em algum momento), mas atualmente é de tanta coisa, filmes, games, livros… Esses dias um amigo artista plástico me encomendou um texto sobre canibalismo, e a inspiração do que escrever veio do mercado; vendo o povo comprando carcaça de frango e soro de leite, veio a ideia de que a carne mais barata do mercado é desse gado que ainda apoia o presidente.

 

AC: O fantasma da página em branco: mito ou verdade? Isso acontece com você? Em caso afirmativo, o que faz para resolver esse problema?

SN: Não. Nunca. Eu nunca tive crise de criatividade. Eu pensava nisso outro dia, se essa crise só acontece em quem faz muito sucesso, que é cobrado, quando esperam um novo hit. Como eu sempre trabalhei à margem, sempre fiz o que quis e tive sorte de sempre conseguir publicar por grandes casas.

 

Neve negra: suspense psicológico e drama familiar. Foto: Reprodução internet.

 

AC: Um livro marcante. Por quê?

SN: O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, foi o livro que me fez querer ser escritor, na adolescência: essa escrita cínica, glamorosa e homoerótica.

 

AC: Um escritor marcante. Por quê?

SN: João Gilberto Noll. Foi um autor que comecei a ler no início da idade adulta, me mudando pra Porto Alegre, seguindo os cenários das histórias dele nas minhas caminhadas. Depois, quando fui publicado, nos tornamos amigos, dividimos mesas de debates e de bares; foi triste quando ele faleceu.

 

AC: Sei que você também atua como tradutor. O que poderia nos dizer sobre essa atividade?

SN: Me ensina muito sobre escrita, mesmo quando o livro é ruim. Aliás, livro ruim é o que mais eu traduzo, porque é o que mais vende, então também é o que as editoras mais compram. Mas sempre há algo para se extrair na tradução, seja um novo vocabulário, seja uma nova estrutura… Atualmente tenho traduzido muito pra dublagem também, que é um novo desafio, tornar a linguagem o mais oral possível…

 

Frankenstein, de Mary Shelley, foi traduzido por Santiago Nazarian. Foto: reprodução internet.

AC: Projetos em andamento: o que vem por aí nos próximos meses?

SN: Eu vou lançar um livro infantil ilustrado em parceria com um amigo, de maneira totalmente independente, ainda este ano. Pro ano que vem, tem um romance, ou uma novela, já pronta, mas ainda não fechei com uma
editora.

 

AC: Entre os seguidores do canal de Literatura do portal ArteCult, muitos são aqueles que escrevem ou que desejam escrever. Que conselho ou dica você poderia dar a eles?

SN: Façam a minha oficina literária e sejam felizes para sempre. Ou não. O importante é fazer por prazer, escrever por prazer, porque os frutos são sempre limitados…

 

Bem, é isso. Até a próxima!

 

César Manzolillo

Colunista do canal LITERATURA

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AC Encontros Literários

AC Encontros Literários tem curadoria e apresentação (lives) de César Manzolillo (@cesarmanzolillo).

 

 

 

Author

Carioca, licenciado em Letras (Português – Literaturas) pela UFRJ, mestre e doutor em Língua Portuguesa pela mesma instituição, com pós-doutorado em Língua Portuguesa pela USP. Participante de vinte e quatro antologias literárias. Autor do livro de contos A angústia e outros presságios funestos (Prêmio Wander Piroli, UBE-RJ). Professor de oficinas de Escrita Criativa. Revisor de textos.

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