Ana Lúcia Gosling se formou em Letras (Português-Literatura) em 1993, pela PUC/RJ. Fixou-se em outra carreira. A identidade literária, contudo, está cravada no coração e o olhar interpretativo, esgarçado pra sempre. Ama oficinas e experimenta aquelas em que o debate lhe acresça não só à escrita mas à alma. Some-se a isso sua necessidade de falar, sangrar e escorrer pelos textos que lê e escreve e isso nos traz aqui.
Escreve ficção em seu blog pessoal (anagosling.com) desde março de 2010 e partilha impressões pessoais num blog na Obvious Magazine (http://obviousmag.org/puro_achismo) desde junho de 2015.
Seu texto “Não estamos preparados para sermos pais dos nossos pais” já foi lido por mais de 415 mil pessoas e continua a ser compartilhado nas redes sociais. Aqui o foco é falar de Literatura mas sabe-se que os processos de escrita, as poesias e os contos não são coisa de livro mas na vida em si. Vamos falando de “tudo” que aguçar o olhar, então? Toda quarta-feira, aqui no ArteCult, há texto novo da autora.
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“Casa de 200 metros quadrados de área construída. 130 metros quadrados de terreno. 4 quartos. 3 banheiros. 1 suíte. 3 vagas. Aceita pet”. O corretor entra na casa com os clientes, abre as portas, aponta os cômodos: “aqui é a…
Cintia sabe ser produtiva e competitiva. De tudo, dá conta. Trabalha além do horário do expediente. Dorme só quatro horas por noite. Foca, sempre, no urgente, delegando a outro, se necessário, o que deveria ser mais importante. Aproveita o feriadão…
A cidade ainda não amanheceu. Paramos o carro na porta. Você assina os papéis da internação. As luzes estão acesas, o ar condicionado bem frio. Esperamos, sentados, chamarem seu nome. No canto da sala, um piano de cauda. Estranheza. Não…
Você está indo pra Tijuca? Importa-se de me dar uma carona? Obrigado. Você pega a Praça da Bandeira? O Maracanã? É o meu caminho! Fico um pouquinho depois mas é pertinho. Será que você pode me deixar ali no Grajaú?…
Desembarco num mundo de ostentação. Exibe-se a riqueza das suas construções. Cobre-se a cidade de luz, alardeando-se a fartura de gás e carbono e, consequentemente, energia elétrica. No segundo maior centro comercial do mundo, avizinham-se 1200 lojas, enfileirando-se as maiores…
Deixou apagadas as luzes do escritório. Era sábado. Ninguém. Os livros abertos sobre a mesa de Vinícius deixavam uma possibilidade no ar: o irmão voltaria? Se viesse, ao destrancar a porta, teria tempo de refazer-se? Sentou-se à mesa. Ligou…
– Criança não tem querer! Quantas vezes ela me disse isso. Quantas vezes engoli a frustração, abandonei o sorvete no balcão da lanchonete por ser hora do almoço. Ou suspendi o mergulho na piscina porque a barriga estava cheia.…
Quando sua casa deixou de ser minha, quis entregar as chaves aos novos donos. Cheguei cedo. Caminhei com delicadeza sobre o piso de madeira do corredor, provocando o rangido que denunciava sua chegada do trabalho. Projetei memórias, como slides, nas…
– Eu não acredito que você vai assim! – Não tem nada demais querer amor, paixão. Já me basta esse ano inteiro no caritó. – Vermelho da cabeça aos pés? Todo mundo vai achar que você está encalhada. –…
A crônica da semana não sai. Lembro-me de Machado diante da folha em branco que lhe pedia inspiração: “frouxa e manca, a pena não acode ao gesto seu”. Se era difícil para um deus, que dirá para uma aprendiz? Distraem-me…
Assim como as decorações de rua para a Copa do Mundo, parecem ter diminuído as varandas iluminadas para o Natal de 2022 pela cidade. Mas pode ser uma impressão. Quando atravesso a cidade, tenho a sensação de que, antes, os…
É uma pena a derrota do Brasil ter ofuscado o lindo gol de Neymar. Lembrei-me, de novo, do meu pai. Ele sempre dizia ser tendência chutar em cima do goleiro. O goleiro cresce diante do jogador e puxa, como um…
De 1978, guardo lembrança embaçada. Minha primeira Copa engajada foi a de 82. Aquela da seleção do futebol-arte, com Zico em destaque. Meu pai se gabava de ter dispensado o craque da seleção do serviço militar. “Não teria sido…
Vinte minutos para o jogo começar. As bebidas geladas, os petiscos preparados, os amigos instalados no sofá, o som das cornetas na vizinhança. O improvável acontece: o sinal da tevê a cabo cai. Atualizo o decodificador. Desligo o aparelho, espero…
Hoje, no projeto AC Literatura Convida, nossa colunista Ana Lúcia Gosling (@analugosling) nos traz o conto “A Cozinha da Dona Jurema“, da autora Maria Helena Mossé (@mh_297): A Cozinha da Dona Jurema Foi numa segunda feira que Dalva os viu.…