Às quartas – Explosão de cores

Foto: Show do @coldplay no Engenhão/RJ – Crédito: @annaleemedia

Tears stream down your face
I promise you I will learn from my mistakes

Ouço “Fix You” e lembro-me da promessa que me fiz: aprender com meus erros, reparar minha dor.

Foi há muito tempo, numa outra vida. E Coldplay, embora mais conhecido por suas músicas dançantes, foi um dos portos onde atraquei algumas angústias. Pensei que choraria, sempre, ao ouvir “The Scientist”: No one ever said it would be so hard. Mas não. Quando pude cantá-la em público, pela primeira vez, num Maracanã lotado, em 2016 – minha voz em alto tom, misturada a milhares – a dor havia me libertado.

Naquele ano, fui ao show com dois sobrinhos. Algumas emoções ainda eram recentes. Fui preparada para brotarem. Ali, percebi tudo que já deixara para trás. E vivi um deslumbramento profundo, que me motivou a voltar. Dessa vez, sozinha.

Há pirotecnia, lasers, confetes coloridos, jogos de luz, pulseiras que acendem. Também há o principal: o conteúdo de uma obra de décadas, com músicas que trazem lembranças de viagem, praia, amores e danças.

De quebra, a simpatia de Chris Martin e sua sincera alegria de estar diante de nós. Esforça-se para agradar-nos: fala em nosso idioma, pede desculpas quando não pode falar em Português, sorri muito, sempre, um sorriso de bondade. “Levantem as mãos, desliguem os celulares, virem-se para os que estão atrás de vocês”. Cumprimenta os mais distantes, no fundo, no alto do estádio. Diz-se grato o tempo todo, oferece uma canção para a namorada que assiste ao show entre nós, pede que acreditemos no amor.

Chris nem precisava dizer nada. Sua música tem a cor, o movimento, a energia do amor e da satisfação que ele tenta reproduzir na fala entusiasmada.

Show do Coldplay no Engenhão/RJ – Foto de @annaleemedia para @coldplay

Tudo se funde. Não assistimos ao show somente; vivemos uma experiência de imersão. Em alegria, delicadeza e cor.

Estou sozinha na pista sobre o gramado. Sou uma entre milhares conectados pela música e pelo sentimento comum de felicidade. A noite é um oásis à frente dos dias difíceis, uma bolha fora da vida real. É maravilhoso estar ali.

I feel my heart beating
I feel my heart underneath my skin
And I feel my heart beating
Oh, you make me feel
Like I’m alive again

Estou viva. As batidas da música são sentidas no corpo. Lasers se espalham acima de mim. Os pulsos acesos da plateia tecem tapetes de luz ao redor de todo o estádio. Sou um ponto de luz também. Fecho os olhos e danço. Toda aquela vivacidade exorciza o estresse da espera. Diverte e emociona sentir-me tão feliz. Ao sair dali, será Reveillon: novo ano começou.

Houve um tempo em que me prometi ajustar o rumo da minha vida. Muitas coisas abracei depois disso. Muitas pessoas permiti entrarem. De outras, me afastei. Pedi ajuda quando não daria conta. Criei, do barro original, um novo corpo, que fala o que costumava calar. Que dança e escreve. Que aprendeu a luzir. Que gosta de baladas românticas mas não minimiza o valor das músicas que exaltam a alegria da vida. Porque se a vida é sentimento e dor, também é explosão de cores.

Seguimos juntos, Coldplay! We are legends, every day! 

ANA LÚCIA GOSLING

Ana Lucia Gosling (@analugosling)

 

 

 

 

 

 

 

 

Author

Ana Lúcia Gosling se formou em Letras (Português-Literatura) em 1993, pela PUC/RJ. Fixou-se em outra carreira. A identidade literária, contudo, está cravada no coração e o olhar interpretativo, esgarçado pra sempre. Ama oficinas e experimenta aquelas em que o debate lhe acresça não só à escrita mas à alma. Some-se a isso sua necessidade de falar, sangrar e escorrer pelos textos que lê e escreve e isso nos traz aqui. Escreve ficção em seu blog pessoal (anagosling.com) desde março de 2010 e partilha impressões pessoais num blog na Obvious Magazine (http://obviousmag.org/puro_achismo) desde junho de 2015. Seu texto “Não estamos preparados para sermos pais dos nossos pais” já foi lido por mais de 415 mil pessoas e continua a ser compartilhado nas redes sociais. Aqui o foco é falar de Literatura mas sabe-se que os processos de escrita, as poesias e os contos não são coisa de livro mas na vida em si. Vamos falando de “tudo” que aguçar o olhar, então? Toda quarta-feira, aqui no ArteCult, há texto novo da autora. Redes Sociais: Instagram: @analugosling Facebook: https://www.facebook.com/analugosling/ Twitter: https://twitter.com/gosling_ana

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