IMS SP – Seydou Keïta, Fotógrafo do Mali descoberto nos anos 90, tem exposição contextualizada nos 130 anos da Abolição da Escravatura

Galeria 2 expõe fotos do malinês Seydou Keïda. Fotos: Consulado Francês em São Paulo

Como forma de relembrar os 130 anos da Abolição da Escravatura, o Instituto Moreira Salles de São Paulo (IMS – SP) traz do Mali (país africano, origem de muitos escravos), um fotógrafo descoberto somente nos anos 90 durante uma mostra de imagens sobre a África, em uma galeria em Nova York. Seu nome era Seydou Keïta (pronuncia-se Seidú Ke-í-tá). Na verdade, suas fotos, no evento, estavam sem identificação, mas acabaram chamando a atenção.

 

 

Ao seu encalço foi um galerista francês, Jean Peguzzi que o encontrou e, em 1995, trouxe suas fotos para uma exposição individual na Fundação Cartier em Paris.

Mostra de fotos do malinês Seydou Keïda – galeria 2. Fotos: Consulado francês em São Paulo

Mas o trabalho do malinês vinha de tempos bem anteriores. Começou quando o tio o presenteou com uma câmera Kodak em 1935. Em 1948, após anos de aprendizagem, abriu um estúdio na capital Bumako, perto da estação de trem e se profissionalizou. Dali em diante foram mais de 30 mil fotos de inúmeras pessoas que procuravam Seydou para serem fotografados. Eram famílias, casais, grupos de amigos e mesmos indivíduos que frequentaram o pequeno espaço.

O que torna a fotografia do malinês singular é a “montagem” da cena. Geralmente as pessoas ficavam na frente de um pano estendido (amostras destes tecidos também se encontram na Galeria 2 do IMS). Além disso, a elas eram dados acessórios para compor, digamos, o visual: colares, braceletes, chapéus, cachimbos, paletós, bolsas e sapatos. A intensão era retratar uma pessoa de posses, que estava bem de vida. Outras vezes, eram carros ou motos que tomavam parte da cena, sendo um elemento de decoração e de afirmação de modernidade, já que o país se tornou independente da França em 1960.

As fotos eram feitas de modo a obter o melhor ângulo escolhido por Seydou. Era ele que, na pessoa do cliente, ajeitava a roupa, virava o queixo, mexia nos braços. Definitivamente a criatura não ficava estática, havia um ar de naturalidade – rara àquela época – nas poses capturadas pela lente do fotógrafo malinês. E foi isso que encantou muita gente e o ajudou, sem trocadilhos, a ser revelado.

Mostra de fotos do malinês Seydou Keïda. Fotos Consulado francês em São Paulo

Na exposição há mais de 130 fotos, algumas em formatos pequenos e grandes, verdadeiros murais. Todas as fotos expostas pertencem a CAAC – The Contemporary African Art Collection da Fundação Peguzzi. Apesar de muitas delas nunca terem estado no Brasil, Seydou já teve fotos expostas na BIENAL de Artes de São Paulo, edição de 1998.

A exposição está bem montada com textos explicativos sobre o contexto histórico do Mali (mas não tem versões em inglês) e a linha do tempo do fotógrafo.

Uma curiosidade: nas fotos de tamanho quadro (40 x 50 cm e 50 x 60 cm), pode-se ver, na parte inferior, a sua assinatura (datada) ao lado da provável ano em que foi feito o registro.

A exposição fica até 29/07 quando segue para o IMS do Rio.

ANDRÉA ASSIS

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Author

Carioca, mas paulistana da gema radicada há mais de 20 anos na capital. Formada em Relações Internacionais, tem mestrado em Administração de Empresas em Lyon, na França. Orgulhosa da cidade onde vive, adora mostrá-la aos visitantes, sejam eles brasileiros ou não. Procura sempre descobrir lugares novos e diferentes, por isso sempre se mantém atualizada sobre o que acontece nestas bandas. Para isso, vai sempre às exposições que pipocam aqui e acolá e é sobre elas que pretende lançar seu olhar crítico que não se restringe só às obras, aos trabalhos expostos, mas também ao ambiente: como estão organizadas, se existem informações para os visitantes, enfim, se vale a pena o leitor investir o seu tempo para ir vê-las. Eventualmente, faz críticas de filmes, mas prefere deixá-las aos mais habilitados. Mas não deixa de acompanhar os lançamentos. Humildemente, pede ao leitor paciência para com o que ele lê aqui no espaço, pois a escritura e análise pedem apuro ao longo do tempo.

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