Marcelo Maluf: o autor de A imensidão íntima dos carneiros é o convidado desta semana do AC Encontros Literários

 

Marcelo Maluf (@marcelomalufescritor) nasceu em Santa Bárbara D’Oeste, interior de São Paulo. É escritor e professor de criação literária. Mestre em Artes pela Unesp. Escreveu o livro de contos Esquece tudo agora (Terracota, 2012), o infantil As mil e uma histórias de Manuela  (Autêntica, 2013), livro selecionado pelo PNLD – PNAIC (2015), e os infantojuvenis Jorge do Pântano que fica logo Ali (FTD, 2008) e Meu pai sabe voar (FTD, 2009), este em parceria com Daniela Pinotti – livro selecionado pela FNLIJ para o catálogo da Feira de Bolonha – (2010). Publicou o romance A imensidão íntima dos carneiros  (Reformatório, 2015), livro finalista do Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA, 2015), finalista do Prêmio Jabuti (2016) e vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura (2016) na categoria estreante com mais de 40 anos. Tem contos publicados em revistas e antologias, entre elas estão: Dias de domingo (José Olympio, 2021) e Geração 2010: o sertão é o mundo (Reformatório, 2021). Vive e trabalha em São Paulo.

Site: https://malufmarcelo.wixsite.com/marcelo-maluf

 

Confira nossa entrevista exclusiva a seguir:

 

ArteCult: Como a Literatura entrou na sua vida? 

Marcelo Maluf: Eu devia ter uns 10 ou 11 anos de idade e comecei a frequentar a biblioteca municipal da minha cidade natal, Santa Bárbara D’Oeste, interior de São Paulo. A biblioteca ficava a quatro quarteirões da minha casa. A minha convivência com os livros dessa biblioteca e com o ambiente acolhedor que eu encontrava lá me marcaram profundamente. E isso durou até os meus 23 anos de idade, depois me mudei para São Paulo. Ou seja, as leituras que fiz daquele acervo estão na base do meu encontro com a literatura, com os livros e com o meu desejo de ser escritor. E afinal, com o fato de eu ter me tornado escritor.

 

AC: Como é sua rotina de escritor? Escreve todos os dias? Reescreve muito? Mostra para alguém durante o processo?

MM: Sim, eu escrevo todos os dias. Às vezes mais, às vezes menos, mas sempre estou em contato com o texto, com o fazer literário e com o processo de criação de uma história. Reescrevo sempre. Às vezes, isso até me atrapalha a seguir adiante num texto. A perfumaria deve ser deixada para o final, para não perder de vista a história. Tenho percebido isso. Pelos menos, é assim que tem funcionado para mim. Minha primeira leitora é minha companheira de vida e de arte, Daniela Pinotti. Ela também é escritora e uma crítica sem piedade, rs. Nós escrevemos juntos livros para crianças.

 

Meu pai sabe voar: livro escrito em parceria com Daniela Pinotti. Foto: Divulgação.

 

AC: No seu caso, de onde vem a inspiração?

MM: Acredito que venha de uma mistura de coisas: uma imagem, uma memória, uma frase, uma indignação, um livro que eu li. Ou seja, o que me faz sentar e escrever pode ser muita coisa. Mas uma coisa não pode faltar. Essa coisa tem que me dar entusiasmo, vontade, tem que me tocar, me provocar, me emocionar, tem que me fazer sentar para escrever. Isso tanto num texto para crianças quanto num texto para jovens ou adultos.

 

AC: O fantasma da página em branco: mito ou verdade? Isso acontece com você? Em caso afirmativo, o que faz para resolver esse problema?

MM: Eu já tive problemas com esse fantasma. Ele pode ser mito ou verdade. Eu encarei a página em branco quando me detive mais naquilo que eu acreditava que deveria escrever do que naquilo que eu queria realmente escrever. Está aí a origem do fantasma. Mas isso foi no meu caso. Cada um tem, ou não, seu próprio dilema com esse assunto.

As mil e uma histórias de Manuela foi publicado em 2013. Foto: Divulgação.

 

AC: Um livro marcante. Por quê?

MM: Sombras de reis barbudos, de José J. Veiga. Li o livro ainda na juventude e fiquei fascinado pela capacidade de Veiga em construir uma narrativa que era insólita, mas que dizia tanto do real. Ou seja, foi quando entendi que eu queria ler mais livros com aquela estética. Depois encontrei o realismo-fantástico latino-americano e, claro, nosso contista maior, Murilo Rubião.

 

AC: Um escritor marcante. Por quê?

MM: Lygia Fagundes Telles. Pela paixão que emanava pela literatura e que me contaminou. Pelo texto: elegante, conciso, fantástico e objetivo. Pelo conselho que me deu e que me serve até hoje.

 

AC: Na sua opinião, que características um bom conto deve apresentar?

MM: Um bom conto deve ter a capacidade de contar nas entrelinhas, de dizer uma outra história, de alargar o enredo, de abrir-se, mesmo que tenha um final fechado, de ser enxuto, de produzir em poucas páginas uma força maior do que ele.

 

AC: Projetos em andamento: o que vem por aí nos próximos meses?

MM: Para 2023, lanço um romance novo chamado Os últimos dias de Elias Ghandour, além da reedição do meu primeiro romance, A imensidão íntima dos carneiros. Também lanço novos livros para crianças: O coração que saiu pela boca, O mistério de todas as coisas e A odisseia do Spray grego, este em parceria com Daniela Pinotti.

A imensidão íntima dos carneiros: romance premiado será relançado em 2023. Foto: Divulgação.

 

AC: Entre os seguidores do canal de Literatura do portal ArteCult, muitos são aqueles que escrevem ou que desejam escrever. Que conselho ou dica você poderia dar a eles?

MM: Darei o mesmo conselho que recebi da Lygia Fagundes Telles: LER. LER. LER. ESCREVER. ESCREVER. ESCREVER. Nessa ordem.

 

AC: Para encerrar, pediria que deixasse aqui uma amostra de seu trabalho como autor.

MM: Um conto brevíssimo extraído do meu livro Esquece tudo agora (2012, fora de catálogo).

ANTES DA CHUVA

O sapo descansou no colo da morta. A língua capturou um inseto. Chovia. A água ia limpando o rosto inchado da moça, os vermes iam descobrindo os seus orifícios. Os urubus dançavam no céu ao som das trovoadas.

A enxurrada carregou o corpo para dentro do rio. As piranhas jantaram, os jacarés preferiram a capivara. Uma pedra deteve o cadáver. Somaram-se folhas, gravetos e garrafas de plástico sobre a sua pele muda. Ganhou peso. No fundo do rio bateu a cabeça. O menino pescou o esqueleto.

 

O projeto AC Encontros Literários venceu o troféu APPERJ (Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro) 2021 na categoria Encontros Literários on-line.

 

César Manzolillo

Colunista do canal LITERATURA

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AC Encontros Literários

AC Encontros Literários tem curadoria e apresentação (lives) de César Manzolillo (@cesarmanzolillo).

 

 

 

Author

Carioca, licenciado em Letras (Português – Literaturas) pela UFRJ, mestre e doutor em Língua Portuguesa pela mesma instituição, com pós-doutorado em Língua Portuguesa pela USP. Participante de vinte e quatro antologias literárias. Autor do livro de contos A angústia e outros presságios funestos (Prêmio Wander Piroli, UBE-RJ). Professor de oficinas de Escrita Criativa. Revisor de textos.

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