Andréa del Fuego: A escritora e mestra em filosofia, autora do premiado romance Os malaquias, é a convidada desta semana do AC Encontros Literários

 

Andréa del Fuego (@andreadelfuego) nasceu na cidade de São Paulo e é autora de romances, contos e literatura infantojuvenil. Seu romance Os malaquias (2010), vencedor do Prêmio Saramago de Literatura, foi publicado na Alemanha, na Itália, na França, em Israel, na Romênia, na Suécia, em Portugal e na Argentina. Atuou ainda como colunista do programa Entrelinhas (TV Cultura), quando teve oportunidade de produzir matérias sobre importantes escritores brasileiros e estrangeiros.

Confira a entrevista exclusiva que preparamos pra você.

ArteCult: Como a Literatura entrou na sua vida?

Andréa del Fuego: Entrou pela porta da escola pública. Foi de forma apaixonante desde o início, uma professora muito dedicada fez a aproximação de forma delicada e contundente. Nunca mais a esqueci, devo tudo à Célia Aiko, minha querida professora. Mas a literatura também não é só os livros, é um jeito de captar o mundo. Como disse Raduan Nassar, também leio o livro da vida. Parece clichê, é mesmo, mas a matéria bruta está no mundo.

AC: Especificamente com relação ao ato de escrever, que procedimentos costuma adotar? Escreve todos os dias? Reescreve muito? Mostra para alguém durante o processo?

AF: Meu ato de escrita é intenso, com distanciamentos esporádicos a favor da própria escrita. Escrevo todos os dias, muitas vezes em cadernos, e há períodos onde a escrita é pelo ar, sem palavras, um novelo que tento alinhar mentalmente. Reescrevo muito, é quase a maior parte do trabalho. Excepcionalmente, meu último romance, A pediatra, não teve reescrita. Costumo mostrar o texto apenas para meu marido, que é meu primeiro leitor há 30 anos, mas estou num momento em que tenho deixado essa escrita no escuro, sem esse retorno imediato, para não interferir numa organicidade do texto. Mas isso faz parte de um processo que pode mudar com o tempo.

As miniaturas, romance de Andréa del Fuego. Foto: Reprodução internet.

 

AC: No seu caso, de onde vem a inspiração?

AF: Da vida, do ordinário, do prosaico, da dor. Tudo que envolve corpo e relações, por exemplo. A arte também me inspira, porque é a linguagem crua, nosso único material de trabalho.

A pediatra. O romance narra a história de Cecilia, uma pediatra que não gosta de crianças. Foto: Divulgação.

AC: O fantasma da página em branco: mito ou realidade? Isso acontece com você? Em caso afirmativo, como lida com a questão?

AF: Pode acontecer, mas para isso, faço exercícios comigo mesma de organização prévia. Sei o que vou escrever antes de começar, não propriamente a trama, mas o tom. O tom é essencial, este vou tateando até encontrar. É trabalho. As musas, se elas existem, só dão as caras se você estiver trabalhando.

AC: Um livro marcante. Por quê?

AF: O Evangelho Segundo Jesus Cristo. Foi o primeiro livro do autor [José Saramago] com o qual tive contato, e o espanto foi tremendo. As razões são muitas: pela audácia do tema, pela arquitetura da trama, a voz narrativa que se aproxima de um dos maiores personagens ocidentais como nenhum outro autor e, também, pela cartografia da nossa humanidade.

AC: Um autor marcante. Por quê?

AF: Cem anos de solidão, [de Gabriel García Márquez], porque é uma sinfonia, uma Capela Sistina, uma obra monumental.

AC: Você escreve contos e romances. Sente-se mais confortável produzindo narrativas curtas ou longas?

AF: Uma junção dos dois. Gosto de escrever romances, mas curtos, com efeito do conto, de uma leitura em um único bloco.

Os malaquias. Livro recebeu o Prêmio  Saramago de Literatura. Foto: Divulgação.

AC: Sei que você também escreve livros infantojuvenis. Como se relaciona com esse público?

AF: A relação é rica, são leitores, aos menos os adolescentes, que me procuram para falar da leitura e da experiência com o livro. Não escrevo infantojuvenis há muitos anos, mas pretendo retornar. É uma escrita, para mim, mais objetiva, com contornos mais claros.

AC: Projetos futuros: o que vem por aí nos próximos meses?

AF: Continuar a reescrita de um romance que estou encarando há cinco anos, organizar meus contos e escrever um novo romance cujo tema já me cutuca todos os dias.

AC: Entre os seguidores do canal de Literatura do Portal ArteCult, muitos são aqueles que escrevem ou que desejam escrever. Que conselho ou dica você poderia dar a eles?

AF: Escrever como se não fosse publicar. Em algum momento, essa experiência merece ser vivida, a selvageria da linguagem.

Aproveite e confira também a participação de Andréa del Fuego no programa Provoca (TV Cultura), apresentado por Marcelo Tas:

 

Bem, é isso. Até a próxima!

César Manzolillo

Colunista do canal LITERATURA

 

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Author

Carioca, licenciado em Letras (Português – Literaturas) pela UFRJ, mestre e doutor em Língua Portuguesa pela mesma instituição, com pós-doutorado em Língua Portuguesa pela USP. Participante de vinte e quatro antologias literárias. Autor do livro de contos A angústia e outros presságios funestos (Prêmio Wander Piroli, UBE-RJ). Professor de oficinas de Escrita Criativa. Revisor de textos.

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