O TRADUTOR: um mergulho profundo e sensível nos impactos de um acidente nuclear catastrófico

 

No filme O Tradutor” (Un Traductor), que chega aos cinemas em 4 de abril, Rodrigo Santoro interpreta Malin, um professor universitário de literatura russa que vê sua vida transformada ao ser designado como tradutor na ala infantil de um hospital cubano. Ele serve de intérprete entre os médicos e crianças vítimas do acidente nuclear de Chernobil que acabam de chegar a Havana. Relutante a princípio, Malin passará por uma profunda mudança.

Fomos convidados para a Pré-Estréia do filme no Rio de Janeiro. Para ver também as nossas entrevistas com RODRIGO SANTORO e com os diretores, basta clicar na imagem:

Crítica

A Cuba do final dos anos 80 e as consequências do acidente nuclear de Chernobyl para milhares de famílias enviadas para serem tratadas pela famosa medicina da Ilha de Fidel compõem o pano  de fundo do novo filme estrelado por Rodrigo Santoro.

Sabe aquele filme que você vai ver sem grandes expectativas e se surpreende positivamente?
Pois é, o ARTECULT já conferiu e verificou que se trata de um filme extremamente sensível e  criado com bastante carinho. Tanto no que tange ao roteiro, como na sua produção de uma maneira geral. E depois, entendemos no final (mas não vou dar spoilers) que isto se deve a uma motivação, digamos, bem pessoal.

O contexto sócio-político em questão era limítrofe e os diretores procuram enfatizar bem o início da decadência do comunismo com detalhes bem trabalhados em algumas cenas. No decorrer da trama você acompanha o início de uma crise profunda que modificou completamente o cenário da Ilha. E este processo decadente progressivo é excepcionalmente valorizado pela ótima direção de arte que sabe se utilizar muito bem de mobiliário da época, meios de transporte e pela própria forma de vida das famílias de classe média de uma Cuba que estava prestes a ruir.

Em 89 a crise do comunismo mundial começava a chegar no seu ápice, refletida na política do líder russo Mikail Gobachov (a famosa Perestroika) e na queda do Muro de Berlim (o filme inclusive retrata a visita a Cuba deste lider soviético e a queda do muro na TV), caiu como uma bomba em Cuba, provocando uma crise financeira imensa que atingiu toda a população.

E é neste contexto em que Malin (Rodrigo Santoro), um professor de literatura russa na Universidade de Havana, é obrigado a trabalhar como tradutor num hospital. Lá, ele e os outros professores ficam sabendo que deverão ajudar o corpo médico a se comunicar com centenas de famílias afetadas pela desastre terrível da usina Atômica de Chernobyl na Rússia. Fidel tinha feito um acordo com a Rússia, recebendo milhares destas vítimas para serem tratadas no país, cuja medicina já era bem reconhecida. A situação de Malin é ainda mais difícil emocionalmente, pois fica responsável pela ala infantil, tomando conhecimento do drama de várias crianças afetadas pela radiação.

A história traça o paralelo entre sua experiência no hospital e sua vida familiar. Sua dedicação com as crianças, para as quais até desenvolve um trabalho extra de contador de histórias chegando a conhecer bem cada criança russa afetada (e aqui cabe estes parênteres: alguns atores miris são maravilhosos, principalmente Nikita Semenov que faz o papel de Alexi), é contrastada com seu comportamento familiar, mas o filme trata de justificar bem isto.

A sensibilidade para mostrar este desequilíbrio é o que mais me chamou atenção nesta obra. É o grande trunfo que nos conecta com os personagens principais. Acabamos entendendo bem cada lado e suas respectivas motivações. Aí reside o bom trabalho dos diretores Rodrigo Barriuso e Sebastián Barriuso, na minha opinião.

Os irmãos Barriuso também extraem da atuação do elenco talentoso a carga dramática suficiente para percebermos todas as dificuldades envolvidas e como cada um é afetado no decorrer da história. E já que estou falando de atuação, cabe aqui o destaque para Rodrigo Santoro. Sua performance em alguns momentos até me remeteu aos desafios de outro grande personagem que já encarnou: o Neto de Bicho de Sete Cabeças. Não exatamente pelas características do personagem, mas pela dificuldade de desenvolver uma carga dramática adequada para uma situação tão crítica como a que vive no filme. E como se isto não fosse suficiente, em “O Tradutor” Santoro ainda precisa falar bem, não só o espanhol do seu personagem, mas a língua russa (!). Ele contracena com outra atriz excelente: Maricel Alvarez, atriz argentina que encarna a enfermeira do hospital com que Malin. Maricel também teve um personagem bem interessante no filme Vergel, trata-se de uma atriz diferenciada e muito versátil.

Além das boas atuações e da sensibilidade da direção, preciso ressaltar também  a fotografia de algumas cenas e principalmente as lindas músicas incidentais que você tem o prazer de ouvir durante o filme.

Confira o trailer

 

 

 

 

 

O Tradutor é um mergulho histórico, uma obra sensível e emocionante. Uma surpresa muito boa deste início de ano, que promete bastante para o cinema mundial. Espero que tanto o filme como o ator principal tenham o devido reconhecimento. Pelo menos o filme já se encontra na lista oficial dos selecionados do Festival de Sundance! Já é um bom começo.

 

RAPHAEL GOMIDE

 

 

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Fundador, CEO e Editor-Geral do ArteCult.com (@artecult), Sócio-fundador e Editor-Geral do QuadriMundi (Quadrinhos, Mangás e Animações) @quadrimundi , sócio-diretor do CinemaeCompanhia (@cinemaecompanhia), admin do @portalteamigo no Instagram. Apaixonado pela sua família, por tecnologia e por todas as formas de ARTE e CULTURA.

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