O jornalista e fotógrafo Pedro Mendes Levier abre a exposição “Entre Fronteiras”, no Centro Cultural Correios RJ, sobre migrantes em busca de refúgio e suas histórias.

Com curadoria de Carlos Bertão e design expográfico/iluminação de Alê Teixeira, a mostra traz fotos inéditas no Brasil, a partir de 28 de setembro.

Pedro Mendes Levier abre a exposição “Entre Fronteiras”, no Centro Cultural Correios RJ, trazendo fotos inéditas no Brasil, de diversas regiões do que ficou conhecida, entre migrantes, em lugares como a Ilha de Lesbos, na Grécia e regiões da Rota dos Balcãs, trajeto de diversos migrantes a caminho da Europa ocidental, com curadoria de Carlos Bertão e design expográfico/iluminação de Alê Teixeira, a partir de 28 de setembro.

Realizado entre 2019 e 2020, o trabalho envolve fortes componentes humanos e se concentrou em regiões fronteiriças do Espaço Schengen (formado por 26 dos 27 países que formam a União Europeia), em países como Bósnia, Grécia e Macedônia do Norte. Lugares onde migrantes eram confinados e enfrentaram grande resistência para continuar seu caminho em busca de refúgio em países da Europa ocidental.

A mostra certamente vai impactar os visitantes, pois transporta a uma época em que os migrantes já eram pessoas confinadas em suas realidades e espaço, logo antes da epidemia da COVID-19 confinar o restante do mundo.

“Entre Fronteiras” por Pedro Mendes Levier

“O Jogo” – é assim que pessoas em busca de refúgio se referem ao momento em que vão cruzar alguma fronteira. Em 2019, meses antes da pandemia da COVID-19, o mundo via crescer tanto uma nova onda migratória em direção à Europa ocidental.

Em dezembro daquele ano, visitei a região montanhosa e rural do noroeste da Bósnia, perto da fronteira com a Croácia. O governo criou um campo de refugiados no meio da mata, em um antigo aterro sanitário. Chamado de Vučjak, o lugar gerava apreensão de diversas organizações de defesa dos direitos humanos.

Situado em um vale a 10 quilômetros da pequena cidade de Bihać, as condições eram muito precárias e apenas a Cruz Vermelha tinha autorização para entrar. Quando cheguei, a neve deu uma trégua e parou de cair por alguns dias. Mas a chuva, o vento e o frio permaneceram. Quase 700 pessoas – todas homens – faziam uma greve de fome, que já durava 4 dias, para protestar contra as condições desumanas que enfrentavam. A polícia local diariamente recolhia migrantes pelas estradas ou em prédios e fábricas abandonadas, e os levavam para o campo de Vučjak: um descampado sem assistência médica, com acesso precário à água e à energia elétrica. A piora do inverno, com previsão da volta de neve e quedas bruscas de temperatura, indicava que uma enorme tragédia humanitária estava prestes a acontecer.

Em outra parte da Rota dos Balcãs, estive na região montanhosa do município de Kumanovo – noroeste da Macedônia do Norte, fronteira com a Sérvia. Lá, fica o acampamento de trânsito de Tabanovce. Migrantes chegavam no meio da madrugada, recebendo atendimento médico e uma cama para poder descansar por alguns dias, antes de seguirem viagem. A partir das primeiras horas da manhã, uma equipe de paramédicos percorria as montanhas em busca de quem precisasse de comida ou algum tipo de ajuda.

Um ponto onde se iniciam muitos desses percursos era o Campo de Moria – na ilha grega de Lesbos. Estive lá em fevereiro de 2020 – semanas antes do campo entrar em lockdown por causa da COVID-19. Sete meses depois, no auge da pandemia, o campo ardeu em chamas e foi completamente destruído. Moria era um desastre anunciado: um lugar construído para acomodar 2800 pessoas, mas que já reunia quase 20 mil homens, mulheres e crianças. Nessa época, a pequena ilha grega estava em ebulição – moradores protestavam contra o contínuo crescimento do Campo de Moria – os botes, com pessoas em busca de refúgio, vindos da Turquia, chegavam diariamente. Jornalistas e fotógrafos não eram bem-vindos. Acho que tive sorte: em uma situação tensa a caminho do campo, o que salvou meu equipamento foram as bandeiras do Brasil coladas tanto na câmera, como no meu casaco.

Um registro de tempo, de pessoas vivendo confinadas em condições desumanas, logo antes do mundo entrar em um outro tipo de confinamento.”

Sobre Pedro Mendes Levier

Nascido e criado no Rio de Janeiro, Pedro Mendes Levier passou seus primeiros anos profissionais atuando como redator, roteirista e diretor, em agências de propaganda e produtoras audiovisuais, como W/McCann e Conspiração Filmes.

Desde 2014, integra o time jornalístico do programa Fantástico, na TV Globo. Apaixonado por narrativas visuais, concluiu em 2022 um mestrado em Documentário e Fotojornalismo na renomada agência de fotografia Magnum Photos, fundada em 1947 por grandes fotógrafos como Henri Cartier-Bresson, Robert Capa, George Rodger, entre outros. O mestrado foi realizado em parceria com a escola francesa de fotografia – Spéos Photography School.

Pedro participou de exposições coletivas na Galeria da Magnum (Paris) e na InsideOut (Shangai). Seu trabalho fotográfico foi reconhecido em diversos eventos internacionais, tendo recebido prêmios nos festivais PX3 Prix de La Photographie Paris, Grand Prix Photo Reportage Paris Match, Tifa – Tokyo International Foto Award, Budapest International Photo Award, Documentary Family Awards, entre outros.

Sobre Carlos Bertão (Curadoria)

Carioca, advogado, formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, com mestrado na Universidade de Nova Iorque (NYU), trabalhou em escritórios de advocacia no Rio de Janeiro, São Paulo e Nova Iorque.
Em 1980, foi contratado pelo Banco Mundial, em Washington, onde trabalhou por quase vinte anos.
Colecionador de obras de arte há mais de 40 anos, ao se aposentar do Banco Mundial retornou ao Brasil e passou a se dedicar à produção e curadoria de exposições.

Foi curador, entre outras, de exposições no Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro, Espaço Cultural Correios, em Niterói,no Centro Cultural do Banco do Brasil, em Brasília, no Centro Cultural da Caixa Econômica Federal, em São Paulo, no Museu de Arte Contemporânea do Estado de Mato Grosso do Sul – MARCO.

Hoje divide seu tempo entre o Rio de Janeiro e Bonito, MS, tendo concebido e executado o projeto IMERSÕES MS, que envolveu um trabalho de residência do renomado artista plástico Carlos Vergara na região da Serra da Bodoquena, também com a previsão de uma exposição no Museu de Arte Contemporânea do Estado de Mato Grosso do Sul – MARCO e a preparação e execução de um livro e de um vídeo do trabalho desenvolvido durante a residência.

Foi, também, Curador da exposição CONSCIÊNCIA, do artista peruano Ivan Ciro Palomino, produzida pela ONU, e realizada no Centro Cultural Correios RJ, no período de 25/09/19 a 19/01/20, que foi visitada por 143.524 pessoas.

Em todas as exposições que curou, nas quais apresentou obras de mais de 40 artistas, Carlos Bertão contou com a participação de Alê Teixeira, que foi responsável pelo design e pela iluminação delas.

Serviço

Exposição: “Entre Fronteiras”
Artista: Pedro Mendes Levier
Curadoria: Carlos Bertão
Design expográfico e iluminação: Alê Teixeira
Abertura: 28 de setembro de 2023 às 15h
Visitação: 28 de setembro a 11 de novembro de 2023
De terça a sábado, das 12h às 19h
Local: Centro Cultural Correios RJ – 2º andar – salas B e C
Rua Visconde de Itaboraí, 20 – 20010-976 – Rio de Janeiro – RJ
Censura Livre
Gratuito
Apoio: Centro Cultural Correios RJ
Assessoria de Imprensa: Paula Ramagem
Público alvo: O projeto pretende atingir estudantes, professores, artistas, críticos, visitantes do espaço cultural, frequentadores do Centro do Rio e público em geral de faixa etária, nível socioeconômico e cultural diferenciados.
Como chegar: metrô (descer na estação Uruguaiana, saída em direção a Rua da Alfândega); ônibus (saltar em pontos próximos da Rua Primeiro de Março, da Praça XV ou Candelária); barcas (Terminal Praça XV); VLT (saltar na Av. Rio Branco/Uruguaiana ou Praça XV); trem (saltar na estação Central e pegar VLT até a AV. Rio Branco/Uruguaiana).
Informações: (21) 2253-1580 / E-mail: centroculturalrj@correios.com.br
A unidade conta com acesso para pessoas cadeirantes

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