Um Senhor Estagiário (2015): A “nova” terceira idade que não se conforma com o velho

A modernidade implementada pela “revolução cibernética” – intitulada assim por muitos – possui facetas palpáveis nos vários setores da sociedade, não fugindo a regra, muito pelo contrário, o setor comercial e econômico. Na verdade, talvez seja neste o grande impacto desta mudança, que não apenas impulsionou o desenvolvimento de novas tecnologias, mas a implementou em sua cadeia produtiva.

“Um senhor estagiário”, dirigido por Nancy Meyers – Simplesmente Complicado (2010) – e protagonizado por Robert De Niro (Ben) e Anne Hathaway (Jules) retrata este impacto de gerações, escancarado pela nova mentalidade instituída pelas gerações YZ: tecnologia, produtividade e informalidade. Desta forma, ao ser inserido em um “novo ambiente de trabalho”, Ben Whittaker, no auge dos seus 70 anos e entediado com seu status de aposentado, terá a desafiadora tarefa de se adaptar e contribuir nesta nova dinâmica empresarial.

Copyright 2015 Warner Bros. Entertainment Inc. and Ratpac-Dune Entertainment LLC

Apesar de cômico, a situação pode gerar dúvidas, já que a figura de um estagiário comumente é atribuída a indivíduos com pouca idade. Será que é tão simples a contratação de um estagiário? Observe que, em um sentido jurídico, estágio não é sinônimo de trabalho (emprego) e isso se justifica exatamente por sua precípua finalidade: proporcionar ao estudante um ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido em um ambiente de trabalho.

Logo, para nosso protagonista ser juridicamente enquadrado como estagiário no Brasil, não basta que este se disponha a ocupar a vaga; inúmeros requisitos legais previstos na Lei nº 11.788/2008 devem ser cumpridos sob pena de se configurar em seu lugar uma legítima relação de emprego. Vale relembrar que a condição de aposentado em nosso pais não incapacita o cidadão de continuar no mercado de trabalho, exceção apenas daquele que se aposenta em razão de sua limitada capacidade física/mental para o labor – aposentadoria por invalidez.

Portanto, a condição de estudante torna-se um requisito indispensável, não podendo a empresa sobrepujar tal exigência. No tocante à remuneração, fique atento: quando o estágio guardar caráter obrigatório ele pode ser gratuito; na forma não-obrigatória ele deve ser remunerado, mas, como não trata-se de emprego, este valor não precisa ter como piso o salário-mínimo. Como a bolsa de estágio não possui caráter alimentar (sustento próprio ou familiar), seu quantitativo deve possibilitar ao estudante o subsídio de desenvolvimento profissional (compra de livros, transporte, instrumentos de sua área de estudo).

Assim, feito esse parêntese, a trama, em sua primeira parte, se desenvolve sem muita profundidade, pautada principalmente nas divertidas dificuldades – totalmente compreensíveis – sentidas por alguém que está fora do mercado de trabalho e acostumado com uma rotina mais estática e hierárquica. Os colegas de trabalho de Ben (De Niro) são jovens e adeptos à cultura pop contemporânea, dando margem para situações divertidas que nos arrancam boas gargalhadas.

Percebe-se que por seu uma pessoa mais madura, o protagonista acaba por se tornar um “paizão” para seus jovens e inexperientes colegas, que sofrem com as triviais situações existentes em uma corporação de trabalho – namoro, desorganização, pressão e cobrança. A chefe (Hathaway), incorpora muito bem o ativismo feminino que já se encontra consolidado no mercado de trabalho, momento em que as mulheres assumem posições outrora restritas à figura masculina.

Copyright 2015 Warner Bros. Entertainment Inc. and Ratpac-Dune Entertainment LLC

Em seu segundo ato, o filme ganha contornos mais bem-desenvolvidos, dando um toque de drama e seriedade que agrada bastante. Assim, foge de uma comédia despretensiosa para retratar, de fato, questões de cunho social e pessoal. Neste ponto, é relevante considerar que a condição de idoso do protagonista o fez enfrentar estigmas impostas por todos, sendo ele, com o decorrer da trama, quebrado e repensado.

Nesse sentido, o Brasil atribui a condição de idoso para àquele que possui 60 anos ou mais, existindo, inclusive, um Estatuto específico sobre a matéria – Lei nº 10.741/2003. Entre suas disposições, vale realçar o direito à profissionalização e ao trabalho garantido a este grupo (capítulo 26), que sempre deverá ser estimulado e o proporcionado com o respeito as condições físicas, intelectuais e psíquicas do indivíduo.

CONFIRA O TRAILER

 

 

 

 

“Um senhor estagiário”, assim, torna-se um filme agradável, que não possui grandes pretensões em seu discurso, mas que diverte e ganha na figura de Ben um personagem agradável e inspirador. A imagem do idoso vem sendo mudada no mundo todo, se desprendendo do horrendo adjetivo de “inutilidade” para, em seu lugar, ser enxergada como sinônimo de vitalidade e deleite. O júbilo de viver não tem idade e que possamos propagar isto!

 

Ate a próxima!

DENI FILHO

 


ArteCult – Cinema & Companhia

Siga nosso canal e nossos parceiros no Instagram para  ficar sempre ligado nas nossas críticas, últimas novidades sobre Cinema e Séries, participar de sorteios de convites e produtos, saber nossas promoções e muito mais!

@artecult , @cinemaecompanhia , @cabinesete ,
@cinestimado , @sinistros.bagulhos e @hospicionerdoficialp

#VamosParaOCinemaJuntos

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *