CONTO DE QUINTA: O pé esquerdo

O PÉ ESQUERDO

Sinal de trânsito da Rua da Glória esquina com a Rua da Esperança. São 16h15, véspera de um feriado prolongado. Do lado direito, esperando para atravessar, Magali e seu cachorro Max. Naquele dia, não se tratava de um simples passeio, os dois estavam a caminho do veterinário. Ao lado deles, Palmira, 91 anos, coincidentemente, tem consulta marcada com o gastroenterologista às 16h30. Ainda do lado direito, Camilo e Diogo dirigem-se a um café recém-inaugurado nas redondezas. Camilo ainda não sabe, mas no bolso da camisa de flanela xadrez estreada naquele dia, Diogo leva um par de alianças com o nome de ambos gravado. Do lado esquerdo, igualmente aguardando que o sinal fique verde, a jovem Milena e seu violoncelo, atrasados para a aula de música. Próximo a ela, Jorge, contente com o resultado do golpe que acabou de aplicar num idoso no caixa eletrônico do banco situado quase em frente à delegacia. Por ali também está Helena. Carregando Murilo no colo, ela volta de uma visita à casa de Margarida, avó do menino e sua sogra, que se recupera de uma cirurgia de catarata. E Cosme, morador de rua conhecido na região. Enrolado num cobertor velho e rasgado, encaminha-se à paróquia de Nossa Senhora da Anunciação, onde pretende encontrar Violeta, que atua na pastoral da saúde e sempre o ajuda com doações de roupas e alimentos. Ao longe, bem no início da Rua da Glória, montado numa Kawasaki Ninja que desliza na pista a 110 km/h, vem Roberto. No cruzamento com a Rua da Esperança, ele fura o sinal vermelho e atinge Milena. Desmaiada no meio da via, em torno dela, uma poça de sangue, o violoncelo destruído e seu pé esquerdo, decepado com a violência do choque.

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No próximo sábado, dia 9/11, você é meu convidado para o evento abaixo, que faz parte da Festa Literária Carioca (FELICA) 2024. O local da oficina é o seguinte: