com César Manzolillo
ULISSES
Silas e Douglas eram escritores iniciantes. Assistindo a uma conferência num evento literário, ouviram do palestrante que dois importantes autores portugueses haviam decidido escrever um livro juntos: o primeiro redigia um trecho, o outro continuava a história. Eles resolveram reproduzir essa ideia. O resultado da experiência pode ser conferido a seguir:
“Ulisses jamais foi visto na companhia de outras pessoas. Nunca cumprimentava os vizinhos, não tinha amigos, parentes nem animais de estimação. Também não tinha emprego. As pessoas comentavam que vivia de herança. Morava na última casa da vila fazia pelo menos 40 anos. Dona Mirtes, atualmente com 90 anos de idade, era a única moradora do lugar mais antiga do que ele. Quando uma loja de roupas femininas foi inaugurada nas redondezas, Ulisses passou a postar-se diante das vitrines por horas, queria examinar cada detalhe dos vestidos expostos. Se alguma vendedora vinha ao seu encontro oferecendo ajuda, ele a repelia com um gesto rude.
O pessoal da loja até chegou a chamar a polícia. Só que Ulisses não estava cometendo crime algum, e nada pôde ser feito contra ele. Esse doido espanta os fregueses, alegou a gerente. Em vão. Um dia, Ulisses passou a fotografar os modelos. Um mês depois, na véspera do dia de finados, rendeu as vendedoras com uma faca e exigiu que elas o deixassem entrar na vitrine. Lá dentro, começou a estrangular um manequim de cabelos ruivos vestido com um longo vermelho. Jogou o manequim no chão e pisou em cima dele com decisão ao mesmo tempo que gritava: Não aceito pessoas falsas! Pessoas falsas não merecem viver! Abaixo os simulacros! Nesse dia, Ulisses finalmente acabou preso.”
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Bravo!
Graciosamente tragi-cômico!! Merecia um curta na tela!! Parabéns!!