Por trás do texto

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Vou contar uma história. Em geral, estas quatro palavras, juntas, ganham a atenção de quem está por perto e atento ao palestrante. Aprendemos, desde cedo, a ouvir historinhas de ninar, casos, fábulas contadas pelas doces vozes de mães, pais ou de alguém querido e com tempo pra nos oferecer. Um mundo novo é, então, projetado por trás dos nossos olhos, como uma tela de cinema imaginária, cheia de fantasias, dramas e romances. Somos instigados e formados, lá na primeira infância, a interagir sentimentos, ainda desconhecidos, com a dramaturgia. Depois, donos de nossos narizes, fazemos as escolhas.

Por isso, conhecemos tantas pessoas apaixonadas por uma boa história. Até meados do século XX, esta paixão era saciada pela literatura, o teatro e o jovem cinema. Os livros faziam as vezes de bons companheiros. Formavam e informavam. Ler os grandes autores distinguia, socialmente, quem os citava. Saber ler, entender e apreender um bom texto sempre revolucionou cabeças.

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Já afirmei aqui que sou contra obrigar jovens estudantes a ler os clássicos, como forma de incentivar a leitura ou, até mesmo, como alguns defendem, estimular o raciocínio. São jeitos de oferecer. Qualquer coisa nova carece de uma boa apresentação, de incitar a experimentação, a curiosidade.

Todos gostamos de uma boa história. Então, por que a dificuldade, comprovada, em formar novos leitores? Por que algumas gerações deram a escritores como Machado de Assis, Guimarães Rosa, Proust o status de clássicos, gênios criadores? Outra linguagem; tempos incompatíveis; a geração TV recebe tudo mastigadinho e já não gosta de pensar???

Acho que não é nada disso. Faça uma experiência: dê ao seu filho, sua sobrinha ou amiga(o) adolescente o livro “No Urubuquaquá no Pinhém”, de Guimarães Rosa. Marque a novela, que está no livro, “O Recado do Morro”. Espere alguns dias e pergunte, sem pressão, o que achou. Se for surpreendido, comemore. Se não, chame “a vítima” e assistam juntos ao vídeo, link abaixo, no qual José Miguel Wisnik discorre e desvenda o que está por trás do texto e muito mais, claro. Depois me fale sobre o efeito causado. Você também vai curtir.

Há uma infinidade de maneiras de se oferecer um texto, principalmente se o intuito é criar, em novos leitores, o famoso e saudável hábito de ler.

Vídeo:

 

Author

Marco Simas é cineasta, escritor e roteirista. Mineiro de Nepomuceno, radicado há muitos anos no Rio de Janeiro. Sempre ligado ao cinema, como roteirista e diretor, realizou vários filmes de curta-metragem,entre eles, os premiados "Um dia, Maria", "Solo do Coração" e "Com o andar de Robert Taylor". É ainda autor dos livros "Barbara não quer perdão", "Último Trem" e "Aqui Estamos Nós - Identidade".