Tudo sobre quadrinhos Mangá – A origem da indústria segmentada por gêneros e faixa etária – Parte 1

Contando a história

Muitas pessoas acreditam, pelo traço, que MANGÁ é uma história em quadrinhos voltada para o público infantil. Mas, na verdade, mangá nada mais é do que o nome japonês para história em quadrinhos.

Com a venda de títulos japoneses para o exterior, começou-se a chamar o estilo de desenho que usa olhos grandes e linhas bem definidas (comum em muitos mangás) como estilo mangá.

A origem dos mangás remete aos Ê-makimonos, desenhos pintados em grandes rolos de pergaminhos de histórias, que eram contadas com vários desenhos conforme se desenrolavam os rolos. Esse estilo era muito comum nos séculos XI e XII.

Imagem: Ê-makimonos (fonte: Hero Factory)

Outra influência do mangá vem dos ukiyo-ê, que era a produção de gravuras em placas de madeira. Seus principais temas eram paisagens e cenas típicas da época. O termo ukiyo-ê significa literalmente “pinturas do mundo flutuante”. Esse estilo desenvolveu-se durante o período Tokugawa (1660-1867), conhecido pelo fechamento do país para o Mundo Ocidental e a proliferação da cultura japonesa para a Europa e Américas.

O termo mangá também surgiu durante o período Tokugawa. Ele foi utilizado pela primeira vez pelo artista de ukiyo-ê, Katsushita Hokusai (1760 – 1849) para designar um conjunto de obras chamado Hokusai manga. O conjunto era formado por 15 volumes, que mostravam a vida naquela época. Os desenhos dessas obras eram caricaturais. Representando as classes sociais, a vida urbana, a natureza fantástica e a personificação dos animais.

Esses temas são recorrentes nos mangás até hoje. Outro grande feito deixado por esse artista foi o manual de instruções da arte de desenhar usado por outros artistas da época.

Exemplo de ukiyo-ê (Hero Factory)

Ainda nesse mesmo período, foi produzido o primeiro livro de cartuns (histórias ilustradas) japoneses chamado Toba-ê Sankakushi (1702). O livro é considerado pelos estudiosos o primeiro livro de cartuns produzidos no Japão e o mais antigo do mundo. No livro ainda não havia utilização de balões ou quadros sequenciais, mas havia já uma narrativa, mostrando pessoas que faziam brincadeiras na cidade de Kyoto.

Com a reabertura dos portos, no início do século XIX, ingressam no país os cartuns no modelo europeu. Foram trazidos pelos ilustradores Charles Wirgman (1835 -1891) e George Bigot (1860- 1927). Wirgman casou-se e fixou-se no Japão. Ele foi responsável pela edição da primeira revista de charges humorísticas no país, a Japan Punch. Por esse feito, Wirgman é considerado o patrono da charge moderna japonesa e recebe anualmente uma homenagem em seu túmulo.

Um artista da época que trabalhou com Wirgman na Japan Punch foi Rakuten Kitazawa (1876 – 1955). Ele teve em sua arte grande influência de Wirgman.

Capa da Japan Punch (fonte: Marine Visart)

Kitazawa – Primeiro artista a criar quadrinhos com personagens regulares

Kitazawa foi quem realmente atribuiu a palavra mangá para designar os quadrinhos japoneses. Ele também foi o primeiro artista a criar quadrinhos com personagens regulares. Foi feito um grande esforço para que o termo mangá fosse adotado.

Parecido com as HQ’s no Ocidente, o mangá também começou como tirinhas, nos jornais. Depois, passou para os suplementos dominicais, até que finalmente começou a ser lançado em revistas.

A primeira série de mangá com personagens regulares foi Togosaky to Mokube no Tokyo Kembutsu (Togusaku e Mokubê passeando em Tóquio), produzida em 1902. A história era publicada em suplementos dominicais, um encadernado colorido, como acontecia nos jornais americanos, o Jiji Manga.

Outros suplementos do mesmo estilo começaram a surgir durante os anos subsequentes. Por volta de 1910, os artistas já eram vinculados às empresas jornalísticas.

Revistas mangás

As revistas de mangás originalmente eram voltadas para adultos. Só tempos depois que surgiu revista para jovens. A shonnen club foi a primeira revista para jovens, lançada em 1914 pela editora Kodansha ( uma das principais empresas do ramo até hoje, sendo responsável pelo lançamento de mangás como Fairy Tail, Nanatsu no Tanzai e Noragami e o seu mais famoso até hoje Sailor Moon).

Ela era uma revista mensal, que continha várias títulos, voltada para jovens rapazes.

A revista para o público jovem feminino só surgiu quase dez anos depois em 1923, a Shojo Club. Essas revistas foram o protótipo do que são as revistas segmentadas por gênero e idade, publicadas atualmente no Japão.

As primeiras histórias voltadas para o público infantil foram a Sho-chan no Boken (As aventuras do pequeno Sho), escrita por Katsuichi Kabashima e desenhada por Shosei Oda, lançada em 1923, e o Manga Taro (quadrinhos Taros), de Shiego Miyao, lançada no ano de 1924.

Essas duas histórias surgiram ainda vinculadas aos suplementos jornalísticos. O público infantil só ganhou revista própria três anos depois, em 1926. A primeira revista chamava-se Yonen Club.

Após o lançamento dessas histórias, o mercado foi invadido por vários suplementos de jornais e revistas voltadas para o público infantil.

Quadro do mangá taro manga e As aventuras do pequeno Cho (fonte: LAMBIEK e LEEBAKER).

O mercado editorial dos mangás já se tornara maciçamente japonês, tendo pouquíssima circulação de obras estrangeiras. Os suplementos eram feitos a baixo custo, para poder atingir a massa trabalhadora japonesa. Com o crescimento das publicações nacionais, as estrangeiras perdiam cada vez mais espaço no mercado.

Até hoje, há políticas para manter a supremacia das produções nacionais, apesar da globalização.

Na Segunda Guerra, os quadrinhos no mundo inteiro começam a ser usados como armas de manipulação de massas. Surgem os grandes heróis das histórias americanas, como Capitão América e Super- Homem.

Enquanto isso, no Japão, começam a aparecer nos mangás vilões possuindo traços caucasianos caricatos, sendo mais altos, gordos e com traços animalescos. Os mangás ridicularizavam as nações inimigas. Houve, também, uma forte censura sobre os artistas. Esses só podiam publicar quadrinhos de apoio à posição do Japão na guerra ou que enaltecessem sua História ou, ainda, mangás despretensiosas. Os artistas que desobedeciam a essa censura sofriam sanções, eram torturados e até expulsos do país por traição à pátria.

Após a derrota na Segunda Guerra Mundial, o Japão encontra-se totalmente destruído, com duas cidades arrasadas por bombas atômicas. Em consequência disso, sua população encontra-se desnutrida e a economia está em frangalhos. Nesse momento, o Japão estabelece a meta de transformar a humilhação em reconstrução, assim começando a reerguer-se.

Com a população na miséria, um modo de diversão que cresceu muito na época foi o Kami-shibai (teatro de papel). Esse teatro era feito por desenhistas e não se cobrava nada para assistir. Mas, após as apresentações, vendiam-se doces para as crianças. Essa atividade perdurou até 1953, quando começou o funcionamento das televisões no Japão. Com isso, os artistas de kami-shibai, em sua maioria, migraram para as revistas de mangás.

Darei continuidade na próxima matéria, até lá pessoal !!!

JAZZ MANHAES

Author

Sócio-fundador QuadriMundi e direção geral do Canal QuadriMundi do ArteCult.com Coordenador de todas as seções do QuadriMundi, sendo elas: Comentando Quadrinhos, Quadrinhos do Passado, Mangá e Anime, Desenho Digital de Quadrinhos e Criação de Personagens, Dicas de Desenho de Quadrinhos a Mão Livre e Comentando os Super-Heróis e sua Evolução. Estudei desenho artístico na Sociedade de Belas Artes, Desenho Artístico no SENAC e Desenho de propaganda no SENAC. Me formando em Desenho Industrial com Habilitação em Programação Visual. Também estudei fotografia na mesma instituição. Desde quando tinha 5 anos vivi no mundo dos quadrinhos com o meu tio avô Willi Mendell, dono da representação da King Features do Brasil. Publicitário, desenvolvedor web, programador e Game Designer me dediquei algum tempo a área financeira. Mas sempre desenvolvendo em paralelo minhas atividades relacionadas a quadrinhos, jogos e maquetes. Fiz varias exposições no Rio de Janeiro entre 1988 e 1995. Começei a trabalhar com o desenvolvimento de jogos (Board Games) no final da década de 80. Desenvolvi os mais variados títulos de jogos nas áreas de história e política a partir de 1990. Com uma equipe que consistia em um bom grupo de amigos, da qual tenho saudades, desenvolvi os jogos “Batalha nas Estepes”, “Mare Nostrum”, “Gladiadores” e “Semente do Futuro”. Fui dono de uma fábrica de miniaturas para D&D, AD&D e Gurps de 1988 à 1991. Participei de todas as edições da feira de quadrinhos estruturada pela Devir em conjunto com a Gibiteria Barbaras Magias na década de 1990 no Rio de Janeiro. Em algumas edições da Bienal do Livro estruturei maquetes com cenários de miniaturas para o estande da Devir. No final da década de 1990 fui para a Inglaterra, cidade de Londres onde tive a oportunidade de conhecer muitos profissionais da empresa Games Workshop, aprendendo sobre a concepção e o desenvolvimento de Board Games e miniaturas. Fui presenteado com os jogos Space Hulk e Warhammer 40K dos quais ainda tem em minha coleção até os dias de hoje. Trabalhei em varias agências de publicidade e propaganda, em treinamento executivo por 20 anos, ministrando treinamentos no IME - Instituto Militar de Engenharia e DADM na Marinha do Brasil, trabalhei na Vivo chegando a Assessor da Vice Presidência da empresa e sendo um dos mentores na criação da marca Vivo. Também atuei na Segurança Pública. Estude, na Lipe Diaz Escola de Artes Visuais, desenvolvimento de quadrinhos. Minhas influências são Jack Kirby, Jonhm Blanche, Jorge Guidacci, Jonhm Buscema, Sal Buscema, Boris, dentre outros mestres do desenho e quadrinhos. Sempre apaixonado pelos quadrinhos, Games e Board Games!! ewald.amazonas@gmail.com

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