ÀS QUARTAS

Foto : Ana Lúcia Gosling

Agora é oficial. Vamos parar com as desculpas. Motivos existem. Atropelam a vida. Se deixarmos, a vida atropela a arte. Corremos, sem focar na respiração e perdemos o ar. Mas vamos parar. Abrir espaço. Reservar o dia. Um dia que seja. Separar um momento na agenda engessada pela rotina. Um tempo para eu escrever e você ler. Para conversarmos. Ou silenciarmos juntos.

Será às quartas. Estarei aqui, capturando as ideias, pensando em voz alta. Mas com escrita baixa. Nada maiúsculo, gritante, pois gosto de suavidade. E, sei, ideias não são verdades absolutas. Escrevo para as paredes, muitas vezes, sempre esperando alguém entrar pela porta. Senta aí para um café, um vinho. Pode discordar de mim. Mas com carinho. Eu não ouço quando vociferam. E você? Deixe curtidas, críticas mas, também, doçura. Tudo recolho e transformo em aprendizado ou texto. É da realidade que nasce a ficção.

Quarta-feira… Fiquei pensando num trocadilho, um título para a coluna. Não achei nenhum bom. Pedi socorro ao dicionário analógico. Quarta de cinzas, quarta de trevas, quartã… Xô, analogias ruins! Inventei outra: quarta de crônica! Se eu tivesse um dicionário, estaria lá. Crônica no ArteCult? Sempre às quartas! “Às quartas” então.

Sempre gostei quando feriados caem nas quartas-feiras. Não dá para emendar nem viajar mas a semana se parte em duas. A rotina fica mais leve. Dois dias trabalhando, um descansando, outros dois dias ralando e, tchan-tchan!, um fim de semana de descanso ou diversão. Perfeito. Se estiver sendo uma semana difícil, recupera-se o fôlego. Se boa, degusta-se a alegria com tranquilidade.

Quarta deveria ser dia de folga habitual. Pausa para olhar o céu e sentir a brisa morna na janela. Ler um livro ou assistir à tevê. Pôr os pés no mar ou na grama do parque.

Foto: Ana Lúcia Gosling

A folga de quarta estenderia a sensação de, às terças, a noite se dilatar. Já imaginou? Mais umas horas para ganharmos a rua, beber com amigos ou ir ao teatro. Uma madrugada a mais para maratonarmos uma série ou fazermos amor, sem preocupação com a hora de acordar. Uma madrugada a menos para repararmos na nossa insônia porque haveria luzes acesas na vizinhança.

Abri uma janela. Quarta, agora, é o dia de você ler a minha crônica semanal. Pode ser indo ou voltando do trabalho. Esperando ser atendido pelo dentista. Na pausa para o almoço. À noite, na cama. Como for melhor para você. Mas lembre-se: toda quarta-feira, o ArteCult aguarda você aqui.

Espero, daqui para sempre, fazer sol às quartas.

 

ANA LÚCIA GOSLING

Ana Lucia Gosling (@analugosling)

 

 

 

 

 

Author

Ana Lúcia Gosling se formou em Letras (Português-Literatura) em 1993, pela PUC/RJ. Fixou-se em outra carreira. A identidade literária, contudo, está cravada no coração e o olhar interpretativo, esgarçado pra sempre. Ama oficinas e experimenta aquelas em que o debate lhe acresça não só à escrita mas à alma. Some-se a isso sua necessidade de falar, sangrar e escorrer pelos textos que lê e escreve e isso nos traz aqui. Escreve ficção em seu blog pessoal (anagosling.com) desde março de 2010 e partilha impressões pessoais num blog na Obvious Magazine (http://obviousmag.org/puro_achismo) desde junho de 2015. Seu texto “Não estamos preparados para sermos pais dos nossos pais” já foi lido por mais de 415 mil pessoas e continua a ser compartilhado nas redes sociais. Aqui o foco é falar de Literatura mas sabe-se que os processos de escrita, as poesias e os contos não são coisa de livro mas na vida em si. Vamos falando de “tudo” que aguçar o olhar, então? Toda quarta-feira, aqui no ArteCult, há texto novo da autora. Redes Sociais: Instagram: @analugosling Facebook: https://www.facebook.com/analugosling/ Twitter: https://twitter.com/gosling_ana

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *