Com Ana Lúcia Gosling

Foto: Jakub Zerdzicki, em Unsplash
Toda semana, uma prosa. Parece fácil, não é.
Nem sempre se encontra um bom assunto. Nem sempre o assunto bom inspira um bom texto. Nem sempre o que emociona é coisa sobre o que se quer falar.
Eu me recolho. Para uma escritora, é um contrassenso. No dia em que lhes escrevo, por exemplo, testemunhei História: o Papa se despediu do plano terreno. Eu queria e devia falar de Francisco. Sobre quando voltei a rezar por querer proteger seu idealismo dos males. Mas este é, também, o assunto sobre o que quero calar. Processar, enquanto a ferida vira cicatriz.
Passamos pela Páscoa. Lancei mão de uma receita improvisada, gostosa. À mesa, muita conversa e um brinde com água de coco e coca zero. Apenas eu e meu filho. Nas datas religiosas e festivas, penso na vida ter-me surpreendido com um futuro diferente do imaginado: no passado, haveria mais gente, a família que se desfez, os parentes que partiram. Mas é lindo saber que estamos bem, completos, felizes. Apesar de. Renderia uma crônica?
Meus ensaios poderiam render. Três coreografias para um festival, que me esforço para relembrar, de forma natural, e não me vem, ainda. Há brancos entre uma e outra parte, tempo perdido de treino, no fim de uma semana em que, indisposta, não estudei nem pratiquei. A ansiedade da espera da apresentação, o cansaço de duvidar de mim. Por outro lado, a diversão no movimento, na dança, no poder e no reinventar a fé. Os passos que, conforme os anos avançam, me custam mais para serem leves. Mas eu vencendo a dificuldade, repetindo, repetindo, até conseguir.
O trabalho em pausa. Respiro no feriado, depois do enorme desafio proposto. As últimas duas semanas dedicadas a aprender o que nunca fiz, a assumir riscos, mesmo com medo. Apoiando aqueles de quem me despeço sem saber se, para onde for, me acolherão. Não perdi o sono. Mas os efeitos da ansiedade se sente no corpo. Ganhei nova motivação. Mas do conforto da casa que me abriga é difícil abrir mão.
Para o corpo, dieta desinflamatória. Algumas taxas alteradas pelo estresse não hão de vencer-me. Atravessar dias nervosos sem chocolate nem batata é como atravessar desertos sem um cantil. Na falta de companhia que me diga o que preciso ouvir para manter-me firme, eu mesma me dou a mão e insisto: “Persista! Logo passa…”
Uma semana sem inspiração. A pena congela. Luto, festa, dança, trabalho, estresse, tratamento. Amanheceres, viagem diária até o trabalho, com biguás sobrevoando, abraços, risadas, mensagens dos amigos. Crônica da semana, devolutiva do mestre, leituras amigas. A emoção de ser lida e entendida. A vida pulsa, rica, e nem cheguei aos detalhes dos fatos que lhes conto. Ainda assim, nada se esparrama na tela vazia.
Em mim, só silêncio. Envio a página vazia para a coluna? Ou distraio vocês com estas anotações? Seguem!


Confira as colunas do Projeto AC Verso & Prosa:
com César Manzolillo














Não apenas distraiu, como nos emocionou. Reminiscências e reflexões são sempre bem-vindas, Ana. Beijos!
Obrigada, querido! A história não veio, apelei pra “hipnose” rsrs
A tela vazia nos leva a uma reflexão profunda. Não adianta fazer planos para a vida que não sabemos os planos que ela tem para você. Vivamos! Sigamos em frente com fé e resiliência!
É verdade. Uma amiga sempre me diz “fazemos planos e Deus dá risada”.
Mas a nós cabe continuar sonhando. Sem sonho é que nada se realiza mesmo. rs