IEDA DE OLIVEIRA: celebrando 30 anos de atividade literária, a autora é a convidada desta semana do AC Encontros Literários

Ieda de Oliveira (@iedadeoliveiraoficial) é escritora, pesquisadora e compositora. Formada em Letras, tem pós-doutorado em Análise do Discurso e 26 livros publicados. Como conferencista, participou de importantes eventos ligados à literatura no Brasil. No exterior, ministrou cursos de escrita criativa em Angola e São Tomé e Príncipe. Em diversas ocasiões, foi agraciada com a láurea Altamente Recomendável, concedida pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Pela mesma fundação, foi escolhida para representar o Brasil no White Ravens de Munique, catálogo onde constam os autores de literatura infantil e juvenil considerandos os mais importantes em nível mundial.

Confira abaixo a entrevista exclusiva que preparamos pra você.

 

ArteCult: Como a Literatura entrou na sua vida?

Ieda de Oliveira: Preenchendo o silêncio. Percebi, desde muito cedo, a possibilidade de dar forma às minhas percepções e materialidade às minhas fantasias utilizando a palavra. Inventei a primeira aos seis anos: Rhaimischimbilim! Abria as portas da minha fantasia e me permitia existir da maneira que eu quisesse, ser o que eu quisesse: pássaro, bailarina, flor, bruxa, espada,  ar… Tudo, absolutamente tudo, poderia e posso fazer existir por meio dela.

 

AC: Como é sua rotina de escritora? Escreve todos os dias? Reescreve muito? Mostra para alguém durante o processo?

IO: Escrevo todos os dias, não necessariamente no computador. Crio personagens e enredos e procuro registrar em um caderno, ou no celular, o que estiver mais próximo, as ideias que me surgem. Traço um plano muito mais mental do que escrito. Discuto com pessoas de minha confiança as ideias que me ocorreram e as estratégias que pretendo adotar para desenvolvê-las. Quando estou escrevendo, tenho um caminho que pretendo seguir e que muitas vezes, a maioria delas, toma um rumo inesperado. É meio mágico isso. Só tenho controle sobre a linha que escrevo, mas, mesmo assim, as palavras chegam sem eu saber muito bem que mecanismos mentais meus as elegeram. Às vezes acontece de não virem. Nessa hora me afasto do texto e aguardo. Em algum momento elas irão surgir, mas não no tempo da minha vontade. Isso é aflitivo e exige uma grande capacidade de desapego. Escrevo e reescrevo quantas vezes ache necessário.  Quando considero o texto provisoriamente pronto, mostro para alguns amigos e também encaminho para uma leitura crítica.

 

Delícias do Brasil: interação entre arte literária e arte culinária. Foto: Reprodução internet.

 

AC: No seu caso, de onde vem a inspiração?

IO: Dos “lugares” mais inusitados e imprevisíveis. De um olhar, de um  documento, de uma situação, de um comportamento…

 

AC: O fantasma da página em branco: mito ou verdade? Isso acontece com você? Em caso afirmativo, o que faz para resolver esse problema?

IO: Precisaria que você definisse qual o seu o conceito de mito e o de verdade. Penso que cada escritor tem uma realidade e um tipo de percepção. Diante de uma página em branco, escrevo ou levanto e aguardo um outro momento. Não me coloco como um estudante diante de uma prova em que será avaliado e que tem um tempo e um conteúdo a apresentar. Isso envolve uma tensão, que em mim jamais produziria bons resultados. Trabalho com intensidade e paixão, não com tensão e ansiedade.

 

Folclore em versos: boitatá e curupira: duas lendas brasileiras para os pequenos leitores. Foto: Reprodução internet.

 

AC: Um livro marcante. Por quê?

IO: Nossa! Foram tantos os livros marcantes… Em cada fase de minha vida fiz leituras eternas. Se considerar o livro que fez a condução da literatura oral para a escrita na minha vida de criança, cito As mil e uma noites. Se considerar o que me levou a perceber a imensidão da poesia na adolescência, foi O guardador de rebanhos, de Alberto Caeiro, via Fernando Pessoa. Se considerar a fase adulta, o que me fez perceber a sutileza na construção da ironia e “uma forma de dizer as coisas mais terríveis da maneira mais cândida”, na análise humana, foi Quincas Borba, de Machado de Assis. Mesmo na fase romântica, com seu primoroso “Frei Simão”, em Contos fluminenses II, apresenta já essa característica.  Se for um mergulho e inovação na linguagem e na capacidade de expressão do mágico, Guimarães Rosa em Primeiras estórias, especialmente em “A menina de lá“ e “A terceira margem do rio”. Se for para um mergulho no abismo da linguagem e da alma humana, A legião estrangeira, de Clarice Lispector, conto “Os desastres de Sofia”, se… se… Minha lista é infinita…

 

AC: Um escritor marcante. Por quê?

IO: Um escritor? Uma escritora. E são tantas e tão fantásticas, felizmente a cada dia ocupando mais espaços no universo literário marcadamente masculino. Sua pergunta ratifica minha fala.  Por fazer da palavra seu alimento, pela coragem, pela denúncia, pela resistência, Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus.

 

AC: Sei que você escreve literatura infantojuvenil. Como é sua relação com esse público? Costuma visitar as escolas?

IO: Escrevo desde a minha primeira manifestação literária. É um público que me atrai imensamente. Talvez pela fantasia à flor da pele, talvez pelo meu lado infância, portador de todos os sonhos do mundo, em seu desejo de buscar parceiros de fantasia. Na criança, me encanta a capacidade de mergulho imediato no universo mágico. Nos jovens, me encanta o duelo estabelecido por eles entre o pensamento lógico e a persistência de uma fantasia, que subjaz independente de sua vontade. Procuro construir um texto que possa dialogar com meu leitor e para isso considero muito relevante conhecer o contrato de comunicação que irá reger esse processo. Tenho visitado e feito palestras em várias escolas e universidades, no Brasil e no exterior, participado de bienais, festas literárias e vários programas de leitura, que têm por foco esses encontros, presenciais ou on-line.

 

O sapo e o pássaro: ave sagrada desafia os próprios limites voando rumo ao desconhecido. Foto: Reprodução internet.

 

AC: Projetos em andamento: o que vem por aí nos próximos meses?

IO: Neste ano, em que faço 30 anos de vida literária, estarei  comemorando com quatro novos títulos: a coleção para a infância Danças do Brasil (3 volumes);  o juvenil Entre medos e segredos;  o infantojuvenil Era uma vez outra vez  e o juvenil O azul de Gabriel, todos pela jovem e excelente editora Cuore. Neste momento, escrevo um romance em que já venho trabalhando há anos.

 

A escritora Ieda de Oliveira e a coleção Danças do Brasil. Foto: Reprodução Redes sociais.

 

AC: Entre os seguidores do canal de Literatura do Portal ArteCult, muitos são aqueles que escrevem ou que desejam escrever. Que conselho ou dica você poderia dar a eles?

IO: Tenham paciência. Aguardem o tempo certo da escrita. Aguardem que a história chegue até vocês. Leiam muito. Fiquem atentos aos detalhes do texto lido que lhe provocaram impacto e encantamento. Fiquem atentos ao modo como o autor construiu o enredo, os personagens, a estrutura do texto, a linguagem. Se possível, tenham um caderno para anotar suas percepções a respeito do texto lido. Criem seu método do seu jeito. Fazer um curso de escrita criativa pode, em alguns casos, ser um bom caminho também.

 

AC: Para encerrar, pediria que deixasse aqui uma amostra de seu trabalho como autora.

IO: Como disse anteriormente, estou fazendo 30 anos de atividades, tendo sido agraciada nessa trajetória com importantes prêmios, que me trouxeram muita alegria. Meu texto literário é voltado para o público adulto, infantojuvenil e infantil (alguns inclusive musicados por mim). Tenho ainda uma produção teórica voltada para professores e estudiosos de literatura. Convido-os a visitar meu site: www.iedadeoliveira.com.br , onde poderão ter uma visão melhor de meu trabalho.

 

 

O projeto AC Encontros Literários venceu o troféu APPERJ (Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro) 2021 na categoria Encontros Literários on-line.

 

Bem, é isso. Até a próxima!

 

César Manzolillo

Colunista do canal LITERATURA

Clique abaixo para ler as demais entrevistas exclusivas do projeto!

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LIVES
AC Encontros Literários

AC Encontros Literários tem curadoria e apresentação (lives) de César Manzolillo (@cesarmanzolillo).

 

Author

Carioca, licenciado em Letras (Português – Literaturas) pela UFRJ, mestre e doutor em Língua Portuguesa pela mesma instituição, com pós-doutorado em Língua Portuguesa pela USP. Participante de vinte e quatro antologias literárias. Autor do livro de contos A angústia e outros presságios funestos (Prêmio Wander Piroli, UBE-RJ). Professor de oficinas de Escrita Criativa. Revisor de textos.

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