Domingos Pellegrini: o autor de Mulheres esmeraldas é o convidado desta semana do AC Encontros Literários

O escritor Domingos Pellegrini. Foto: Divulgação.

 

Domingos Pellegrini (@domingospellegrini) nasceu em Londrina (PR). É formado em Letras e trabalhou também como jornalista e redator publicitário. Publicou mais de 50 livros nos gêneros romance, novela, crônica, infantojuvenil, poesia e conto. Venceu 6 vezes o Prêmio Jabuti. É autor de livros juvenis long-sellers: A árvore que dava dinheiro, As batalhas do castelo e Perfeito de todo jeito, por exemplo. Seu primeiro romance é Terra vermelha. O mais recente, Mulheres esmeraldas, será filmado.

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@domingospellegrini

 

Confira abaixo a entrevista exclusiva que preparamos pra você.

 

ArteCult: Como a Literatura entrou na sua vida? 

Domingos Pellegrini:  Meus pais se separaram em Londrina quando eu tinha sete anos, e fomos morar em Assis, onde minha mãe alugou casa que pintor foi pintar, levando uma pilha de revistas “O cruzeiro” para forrar o chão contra respingos. Como nasci em julho, eu tinha entrado na escola com menos de sete anos e já sabia ler, sílaba por sílaba, e assim comecei a ler no chão Millôr Fernandes, o Vão Gogo, gostando tanto que dei de esconder algumas revistas no guarda-roupa. Mas o pintor viu isso e, acabando a pintura, disse que me deixava todas as revistas que restaram inteiras, de modo que a literatura entrou na minha vida com Millôr e graças a um pintor.

 

AC: Como é sua rotina de escritor? Escreve todos os dias? Reescreve muito? Mostra para alguém durante o processo?

DP: Escrevo quase todo dia, sem me forçar, porque é a coisa que mais gosto de fazer e sempre tenho o que escrever, seja crônica para jornal, romance, juvenis, infantis. Agora estou reescrevendo contos, para antologias. Tempo de Crescer, histórias de meninos e meninos, está saindo pela editora Moderna como paradidático. Outras duas antologias formam um casal de livros, A maior ponte do mundo, com o subtítulo histórias de homens, com todos os protagonistas homens, e Rodando a saia, histórias de mulheres, com todas as protagonistas mulheres. Também estou reescrevendo juvenis e infantis para republicação. Então estou me reescrevendo setentão.

 

A árvore que dava dinheiro: long-seller juvenil. Foto: Reprodução internet.

 

AC: No seu caso, de onde vem a inspiração?

DP: Da observação dos fatos e das pessoas, geralmente formando uma frase mental que será início de uma história. No caso de romance, geralmente isso vem depois que fico grávido de um assunto, me enchendo de informações e pensamentos até que essa massa mental e emocional se transforma num começo de história. Daí, mais importante que a inspiração será a finalização, ou seja, para onde levar a história, para não me perder no caminho. Um romance é como uma viagem longa, você tem de prever tudo no início, senão nem saberá como fazer as malas e chegar lá. Assim, já no começo de romances, sempre pensei nas palavras finais; por isso, por exemplo, o romance Terra vermelha começa e termina com as palavras terra vermelha.

 

AC: O fantasma da página em branco: mito ou verdade? Isso acontece com você? Em caso afirmativo, o que faz para resolver esse problema?

DP: Nada faço, porque nunca tive esse problema. E agora, quando não estou engravidando, vi que devo usar o tempo para fazer o que sempre posterguei: reescrever livros mal-acabados por pressa ou complacência. Assim, estou me dedicando a reescrever, como a antologia de poesia Caminhos do coração e o livro de haicais A graça da garça, entre outros.  Levando em conta que ainda vou organizar também a antologia de contos Tanto amor, vejo que não me faltará trabalho, que para mim é um prazer.

 

As batalhas do castelo foi lançado pela editora Moerna. Foto: Reprodução internet.

 

AC: Um livro marcante. Por quê?

DP: Pelos caminhos de minha vida, do romancista escocês A. J. Cronin, que ganhei de prêmio em 1963, aos 14 anos, como vencedor de concurso de redação no Instituto de Educação Monsenhor Bicudo, em Marília. Eu me  atormentava tentando entender os mistérios do Infinito, da Eternidade e da Existência, e Cronin matou a charada contando que, na mesma idade, pensou que o Infinito não pode mesmo ter fim, pois o que haveria depois do final do Infinito? Isso me preparou para o livro Tao Te King, que depois revelaria ser Deus “a palavra que inventamos  para expressar nossa perplexidade diante do Infinito e da Eternidade”, um livro completando o outro.

 

AC: Um autor marcante. Por quê?

DP: Quem deve achar um autor marcante é o público e/ou os críticos, os educadores, o jornalismo cultural e, claro e acima de todos, o próprio público leitor. Que reconhece isso nos autores com linguagem pessoal (estilo) e visão própria do mundo e da vida. Vide Guimarães Rosa, um médico cosmopolita na vida mas, na literatura, cultivando um mundo ultrassertanejo…

 

AC: Na sua opinião, que características um bom conto deve apresentar?

DP: Tanto conto quanto romance ou qualquer gênero deve ter um modo próprio de tratar a língua, que chamam de estilo, e uma também própria visão do mundo ou da vida, focada num ou em alguns acontecimentos interessantes e reveladores. Um bom conto não apenas conta uma história de forma envolvente como, também, traz alguma face da existência vista com graça, no melhor sentido da palavra, de dádiva, descoberta ou revelação. Por exemplo, o conto “O encalhe dos trezentos” é todo de parágrafos com frases longas, entremeadas de pontos e vírgulas, como a representar a terra se fazendo barro, mas, quando seca o atoleiro do encalhe e o barro se transforma em torrões, também a linguagem muda, com frases curtas entre muitos pontos, revelando até graficamente a união temporária no encalhe e a desunião usual dos caminhoneiros.

 

Terra vermelha: primeiro romance. Foto: Reprodução internet.

 

AC: Projetos em andamento: o que vem por aí nos próximos meses?

DP: Não sei. Nunca me dispus a escrever nada, sempre as histórias apareceram como se pedindo para ser contadas.

 

AC: Entre os seguidores do canal de Literatura do portal ArteCult, muitos são aqueles que escrevem ou que desejam escrever. Que conselho ou dica você poderia dar a eles?

DP: O conselho de Leonardo da Vinci, de que nada há de mais sofisticado que a simplicidade. E, se não está te dando tesão escrever, como esperar isso dos leitores?

 

Aproveite e confira Sete dias de agonia, longa-metragem dirigido por Denoy de Oliveira baseado em conto de Domingos Pellegrini:

 

O projeto AC Encontros Literários venceu o troféu APPERJ (Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro) 2021 na categoria Encontros Literários on-line.

 

César Manzolillo

Colunista do canal LITERATURA

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AC Encontros Literários

AC Encontros Literários tem curadoria e apresentação (lives) de César Manzolillo (@cesarmanzolillo).

 

 

 

Author

Carioca, licenciado em Letras (Português – Literaturas) pela UFRJ, mestre e doutor em Língua Portuguesa pela mesma instituição, com pós-doutorado em Língua Portuguesa pela USP. Participante de vinte e quatro antologias literárias. Autor do livro de contos A angústia e outros presságios funestos (Prêmio Wander Piroli, UBE-RJ). Professor de oficinas de Escrita Criativa. Revisor de textos.

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