TCHELLO D´BARROS: Saiba tudo sobre o autor que lança três novos livros em 2024

TCHELLO D’BARROS LANÇA 3 NOVOS LIVROS EM 2024

 

Durante a pandemia, o confinamento levou o escritor Tchello d’Barros a organizar seus escritos, resultando neste 2024 em três novas publicações físicas: os volumes Cataclísmica (poesia), Estesias crônicas (crônicas) e Cerúleo escarlate (contos).

Após publicar oito livros durante a carreira, ao atravessar solitário o período pandêmico, por mais de um ano o autor realizou uma verdadeira arqueologia de seus textos perdidos, misturada com pesquisa documental e uma ou outra escrita experimental para driblar o tédio da reclusão involuntária: foram encontrados desde rascunhos, anotações em guardanapos, páginas de jornal impressas do tempo em que tinha coluna em periódicos, textos premiados em concursos, criações que integraram e-books coletivos, escritas que apareceram em plaquetes, opúsculos e zines, experimentações arquivadas em HDs, textos veiculados em blogs e sites diversos, além de um ou outro poema que emergiu em coletâneas, antologias e livros didáticos. O resultado foram três calhamaços divididos nas categorias Poesia, Crônica e Conto, as quais sofreram posteriormente uma rigorosa curadoria seletiva.

Tchello d’Barros é um escritor viajante, conhecido no Brasil – onde já se apresentou em todos os estados e também nos mais de 20 países em que seu trabalho vem sendo publicado/traduzido/exposto – como um artista prolífico, multimídia e multilinguagens, transitando também pelas artes visuais, cinema e performance. Nascido em Santa Catarina, é radicado há mais de uma década no Rio de Janeiro, onde é figurinha fácil em diversos saraus da capital e região.

O autor dedica-se desde 1993 às modalidades da prosa e da poesia, atuando como redator, roteirista e palestrante. Graduado em Comunicação Social, cursa mestrado na UFRJ. Com dez livros publicados e textos em uma centena de antologias e didáticos, tem coordenado a itinerância de sua exposição de poesia visual Convergências pelo Brasil e por vários outros países. Eventualmente, ministra oficinas e palestras e realiza curadorias em instituições culturais no Brasil e no exterior.

Cataclísmica, o primeiro dos três a vir à tona, foi lançado em março no evento Poesia Plural, na Livraria Patuscada, em São Paulo. Estesias crônicas, já impresso, e Cerúleo Escarlate vão ser lançados no Rio de Janeiro até o final do ano. O trio de publicações deve cumprir agenda de lançamento em São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Paraty (FLIP) e nos eventos de que autor participa no circuito sul-americano.

“Quando, depois de deambular por mais de 20 países, migrei para o Rio e voltei para a universidade a fim de estudar Cinema, não pensava mais em publicar livros físicos, nem em republicar minhas obras pregressas, já esgotadas. Achava que a produção literária iria convergir totalmente para o digital e que a escrita de roteiros iria se bastar na verve criativa que teimava em pulsar nos neurônios. Ledos enganos. Onde quer que vá, me pedem livros impressos, pois as pessoas realmente continuam apreciando esse objeto afetivo. E a prática dos roteiros atiçou uma faceta meio adormecida de minha escrita: as modalidades da prosa. E daí que foi o momento de reunir o que já havia escrito em crônicas, contos e outras formas narrativas para plasmar tudo em novas publicações. Assim, durante  e após a pandemia, foram aos poucos se materializando estas novas obras, que nascem no plano físico neste 2014: Cataclísmica, Estesias crônicas e Cerúleo escarlate.  (Tchello d’Barros)

 

ENTREVISTA EXCLUSIVA

Tivemos a oportunidade de conversar com o autor. Confira abaixo nossa entrevista.

ArteCult / César Manzolillo: Você é considerado um artista prolífico, multimídia e multilinguagens que, além da literatura, transita também pelas artes visuais, pelo cinema e pela performance. De onde vem tanta criatividade?

Tchello d’Barros: Em nossa contemporaneidade, não há consenso em definir com uma palavra ou conceito os dias em que vivemos: filósofos, antropólogos, sociólogos etc. divergem sobre isso. Eu iniciai minha carreira num momento de vida, na primeira metade dos anos 1990, quando se falava que estávamos na pós-modernidade, uma transição com muitas revoluções comportamentais em que uma característica seria a fragmentação. Nesse contexto, percebi que, a exemplo de grandes artistas como Leonard Cohen, Etham Hawke ou Marina Abramovic, eu não precisaria me limitar a apenas uma linguagem artística. Então, fui atrás de formação: começando pela faculdade de Letras, cursos técnicos de Artes Cênicas, oficinas de Audiovisual, projetos de extensão na Pintura e dezenas de oficinas e workshops. Eu queria ser o contrário de um Volpi, que só pintava bandeirinhas, ou de uma Helena Kolody, que só escrevia haicais. A multifacetação era uma marca daquele tempo, e eu queria transformar isso em potência criativa. E, para ampliar isso tudo, com o passar dos anos, houve toda uma trajetória acadêmica e de vivências dentro e fora do Brasil, sempre fazendo cursos, sempre aprendendo técnicas e tecnologias. E não vou parar nunca de estudar: no momento, por exemplo, faço mestrado na UFRJ, pesquisando Poesia Visual, Videoarte e outras expressões híbridas. Há coisas que uma imagem não consegue dizer, assim como as palavras também possuem limitações simbólicas, e esta entrevista é uma prova disso. E cá entre nós, transitar por meios e linguagens distintos é mais divertido também…

Fim do Camiño Inca: peregrinação de 4 dias pelos Andes com chegada ao santuário sagrado de Machu Picchu

 

ArteCult: Ao longo de 2024, serão três os livros que você terá lançado. Fale um pouco sobre eles.

Tchello: O primeiro deles, Cataclísmica100 poemínimos e hum manifesto (São Paulo: Desconcertos Editora, 2024), lançado em março em São Paulo, é um livro de poemas experimentais: uma coleção de textos breves, nanopoemas, também chamados de poemínimos, em uma tônica que transita entre o rigor formal na montagem dos versos e instigantes combinações sonoras e visuais nos jogos de palavras. O arco temático fala sobre relações humanas, vida em sociedade, aspectos inusitados do cotidiano, mas também (não sem algumas ironias) sobre amor, sexo, fé, política e até mesmo alguma metalinguagem poética de ocasião. Além disso, apresenta como bônus uma prosa poética lavrada na tradição dos manifestos literários.

Já o Estesias crônicas (Ouro Preto: Caravana Editorial, 2024) é o 10º livro na carreira, porém se trata do meu primeiro volume no gênero da prosa, no caso uma seleção de crônicas dos meus tempos de jornalista com coluna fixa em jornais impressos e outras mais recentes, veiculadas no âmbito virtual. Nelas, são reveladas alguns pontos de vista sobre temas que transitam entre a picardia do cotidiano nas relações humanas, passando por miradas próprias do fazer literário, até suspeitas observações estéticas no universo das artes. Enquanto que, em dado texto, encontraremos um microensaio sobre a nudez na arte contemporânea, noutro momento somos convidados a refletir sobre a presença do poético em nossas vidas, ao passo que o universal assunto das viagens é pontuado por aspectos que transitam entre o inusitado e o onírico.

Por fim, encontra-se no prelo o inédito Cerúleo escarlate, que reforça essa transição para a prosa ficcional, com um punhado de contos, alguns seminovos outros saindo do forno. O livro se propõe a ser meio que um secreto de local de encontro entre pessoas, personas e personagens. Em geral, gente um tanto desencaixada do mundo como ele é ou deslocada da vida como ela está. São personagens e enredos fora dos padrões da aceitação social que performam, reais ou imaginados, momentos em que, sem querer, terão de se defrontar com as perplexidades da vida, as instabilidades do amor ou as palpitações da morte. É o matador de aluguel que vive um inusitado dilema. A artista que decide entregar-se de corpo e alma à obra mais marcante de sua vida. A jovem sonhadora que, em um encontro onírico com o amado, acorda dentro de uma palavra…

Embora os livros sejam independentes entre si, aqui e ali se entrevê um fio condutor que os aproxima, pois em todos os casos emergem cenas de realismo fantástico, trechos de roteiros, diários mentirosos, notícias falsas de jornais reais, recordações suspeitas, flashes de fofocas, cartas modificadas, anotações de telefonemas, ofícios carimbados, sonhos surreais, confissões de desconhecidos, rabos de conversas, alucinações premeditadas e até sussurros de musas invisíveis. A vida em si é a melhor matéria-prima para o fazer literário…

 

A mostra individual de Poesia Visual Convergências itinerando pela Europa: aqui em exposição no Studio d’Arte Il Graffiacielo, em Arezzo, Itália.

 

 ArteCult: Poderia comentar algo a respeito de sua experiência como roteirista?

 Tchello: Como quase ninguém lê roteiros, talvez valha a pena dizer duas coisas: a primeira é que, em meu caso, essa paixão pela sétima arte vem da infância, adensada na adolescência de um garoto cheio de espinhas na cara que, aos 14 anos, frequentava cineclubes. Lembro que o primeiro filme a que assisti na telona foi uma película de Truffaut. Já havia trabalhado em diversas funções do audiovisual, inclusive tendo dirigido um documentário na Amazônia, mas somente na década passada é que fiz uma graduação na área. Por conta da vertente literária pulsante, não demorou para eu descobrir que a área com que mais me identificava era a do roteiro. Por mais que essa modalidade tenhas suas especificidades formais, no fundo prevalece o paradigma da narrativa ficcional, a arte de contar uma boa história. Então, hoje, há já um portfólio de curtas, docs, videoartes, videopoemas e afins roteirizados por mim. Além da gestão da Fluxo Filmes, tenho disseminado na web o Banco de Roteiros, onde disponibilizo para produtores e diretores os novos roteiros que vão sendo criados. Resta acrescentar que, a partir da pandemia, tenho roteirizado uma série de videoartes que reúnem talentos de dezenas de artistas latino-americanos, obras produzidas em direção remota que contam com criações de poetas, artistas visuais, músicos, atores, dançarinos etc., junto ao Colectivo de Escritura Migrante. Uma vez por ano, nos reunimos, sempre em algum país da América do Sul, para exibir  videoartes e criar novas obras coletivas. De resto, tem sido assistir a essa produção audiovisual, seja na internet, seja nos festivais da vida…

No espetáculo teatral Memórias de Fogo, no qual os poemas visuais são projetados em mapping nos corpos dos atores e num cenário de 30 m²

 

 

ArteCult: Conto e crônica. Por vezes, os dois gêneros se confundem. O que poderia nos dizer a respeito?

 Tchello: De fato, é muito comum encontrarmos crônicas com elementos ficcionais, e, da mesma forma contos que parecem mais um relato ensaístico ou uma opinião sobre determinado tema escamoteado em enredos rasos ou personagens que mais parecem veículos de citação da visão de mundo do autor. Mas também é necessário comentar que alguns prosadores – em qualquer das duas modalidades – o fazem com maestria, seja aquele cronista que salpica aqui e ali seu texto com elementos da narrativa ficcional, seja aquela contista se vale das premissas da crônica para levar o leitor até o final de sua história. Há quem defenda que o que vale é que o efeito pós-leitura cause no leitor o prazer estético que só é possível com a leitura de um texto bem construído. Mas estamos no Brasil, um país que aprendeu a valorizar a crônica como nenhum outro, um gênero que consagrou nomes como Nelson Rodrigues, Clarice Lispector e mesmo poetas como Vinícius de Moraes e Carlos Drummond de Andrade. E penso que é um tipo de privilégio nosso idioma ter gerado contistas do naipe de João do Rio, Lygia Fagundes Telles ou Dalton Trevisan. Somos seres com demandas internas de fabulação, e, num país ainda pouco dado à leitura de longos romances, a arte universal do conto é quem preenche essa necessidade, seja com histórias curtas, seja com essa tendência de nanocontos tão apreciada pela geração Tik Tok.

Travessia de balão pela selva amazônica desde os geoglifos acreanos até a fronteira da Bolívia

 

 ArteCult: Poemeto, nanopoema e poemínimos. Como definiria esses conceitos?

Tchello: Poemas curtos não são uma novidade: pululam lá e cá pela história da literatura em tudo quanto é canto do mundo, vide os haicais nipônicos, os limericks irlandeses ou as metafóricas kennings escandinavas. Mesmo na poesia brasileira, sempre houve generoso espaço para a poesia dita epigramática, sendo que, em nossa poesia popular, sempre reinaram as quadrinhas e trovas de apenas 4 versos. Mas o séc. XX trouxe seus manifestos, rupturas e disrupções, além de muita experimentação formal, como o concretismo, o poema-piada e o poema-minuto. Na passagem para a pós-modernidade, parece que o tempo ficou mais curto e que as pessoas ficaram com pressa, surgindo um tsunami de poemas breves, inclusive com invenções muito brasileiras, a exemplo do Poetrix e da Aldravia. A velocidade hodierna, manifestada também nas redes sociais pede essa poesia breve, em pílulas, sorvidas de um só gole. A poesia possível EM 140 caracteres é o X da questão. E aí vão surgindo essas nomenclaturas paralelas, como o poemínimo (que na verdade tem origem no México) e outros menos votados. Mas é para isto que existem os pesquisadores e teóricos, que, com a distância segura do tempo e as lupas da teoria literária, vão dizer para as gerações futuras quais formas e termos se consagraram. Pra nós praticantes contemporâneos, vale a experimentação em nosso tempo presente.

Tchello é roteirista e diretor na Fluxo Filmes realizando os videoartes do latino-americano Colectivo de Escritura Migrante.

 

ArteCult: Você fundou na internet o The Virtual Museum of Visual Poetry. De que trata esse projeto?

Tchello: Em 1993, criei meu primeiro poema visual, uma modalidade híbrida entre palavra e imagem que mescla as linguagens da Literatura com as Artes Visuais, que aproxima a palavra do desenho. No entanto, não se trata de uma modalidade popular, conhecida, sendo na verdade bastante restrita em nossos país. Daí que, após a virada do milênio, decidi entrar numa cruzada quixotesca para disseminar esse modo tão especial do fenômeno poético, resultando numa sequência de palestras, projeções de imagens em eventos, exposições coletivas e individuais, curadorias, publicações impressas e virtuais, oficinas e cursos. Disso tudo resultaram: meu livro de poemas visuais Convergências (que já itinerou por 11 estados e 7 países), uma série de 20 mesas-redondas sobre o tema ao longo dos anos, inclusive fora do Brasil, inclusive na Bienal do Livro do Rio. E ainda, minhas criações em Poesia Visual integram mais de dez livros didáticos em diversas editoras. Dessa atividade toda foram publicados dois livros de pesquisadoras, o Three Visual Poems from Tchello d’Barros, da estadunidense Mary Duerksen, pela Stetson University (EUA) e Tchello d’Barros Olhos de Lince, de Renata Barcellos, pela UFRJ. Isso tudo fez com que meu trabalho passasse a figurar em publicações e exposições em mais de 20 países. Assim, senti a necessidade de criar um espaço na web em que qualquer pessoa pudesse acessar a produção contemporânea, e assim nasceu em 2016 a página em redes sociais The Virtual Museum of Visual Poetry, a maior comunidade no planeta, contando já com mais de 2 mil poetas, professores, pesquisadores e interessados em geral.

Capa do documentário “Tchello Plural” (Cinsete Produtora) e cartaz da mostra retrospectiva (FURB) de 30 anos de vida artística

 

ArteCult: Para finalizar, deixe aqui um texto de sua autoria, quem sabe algum pertencente a um dos livros a serem lançados em 2024.

Tchello: Do ainda recente livro Cataclísmica:

 

a vida é cheia de riscos

e pode ser dolorido

pois o viver vem sem aviso

vem de frente e de trás

de cima e de baixo

nos pega desprevenidos

a vida parece um rabisco

e aquilo que mais dói

nem parece fazer sentido

seja aquele beijo não dado

a palavra que ficou calada

ou amor que não foi vivido

 

Em 2024: Tchello d’Barros declamando seus poemas é figurinha fácil nos diversos saraus do Rio e região

OS LIVROS

 

CATACLÍSMICA | SINOPSE E FICHA TÉCNICA

 

Cataclísmica100 poemínimos e hum manifesto consiste na coleção de textos breves que dialogam com os livros anteriores do autor, mantendo a experimentação formal como eixo da elaboração dos poemas. O autor traz a lume uma série de poemetos, ou nanopoemas, também chamados de poemínimos, em uma tônica que transita entre o rigor formal na montagem dos versos e instigantes combinações sonoras e visuais com eventuais jogos de palavras. O arco temático fala sobre relações humanas, vida em sociedade, aspectos inusitados do cotidiano, mas também (não sem algumas ironias) sobre amor, sexo, fé, política e até mesmo alguma metalinguagem poética de ocasião. São quatro capítulos: Dantes, Devir, Porvir e Hodierno, cada um reunindo textos que se aproximam seja pela forma, seja pelo conteúdo. Além disso, há um bônus no livro, uma prosa poética: o manifesto Ode à Pindorama Contemporânea, texto iniciado em guardanapos na cafeteria do Theatro Municipal de São Paulo, no âmbito das comemorações do centenário da Semana de 22. A obra reúne poemas de diferentes fases da carreira de Tchello d’Barros, que já conta com três décadas de atividades no cenário nacional e internacional. Cataclísmica chega para somar no catálogo da Desconcertos Editora (SP), conhecida por valorizar a produção poética contemporânea no Brasil.

 

Um dos poemas do livro:

 

A VIDA É UM RISCO

a vida em si é um risco

e pode ser dolorido

não tem mapa nem aviso

o mundo ataca de frente

e por mais que você enfrente

te pega desprevenido

a vida é um rabisco

e do muito que nos dói

por vezes não faz sentido

aquele beijo não dado

um verbo que jaz calado

o amor que não foi vivido

 

Dados da obra

 

  • Título: “CATACLÍSMICA” ®
  • Autor: Tchello d’Barros ©
  • Gênero: Poesia
  • Páginas: 140 págs.
  • Formato: 14 X 21 cm
  • Ano: 2024
  • Edição: Desconcertos Editora
  • Projeto gráfico: Multi-Prisma
  • Orelha: Drª. Urda Alice Klueger
  • Prefácio: Franklin Valverde
  • Posfácio: Prof. Dr. José Endoença Martins
  • Imagem da capa: “Labyrintithesis” – poema visual de Tchello d’Barros

 

 

ESTESIAS CRÔNICAS | SINOPSE E FICHA TÉCNICA

 

Estesias Crônicas é o 10º livro deste escritor, cuja carreira vem sendo pautada por uma prolífica produção em prosa e poesia. Porém, trata-se do primeiro volume de crônicas do autor, nas quais são revelados alguns pontos de vista sobre temas que transitam entre a picardia do cotidiano nas relações humanas, passando por miradas próprias do fazer literário, até suspeitas observações estéticas no universo das artes. Enquanto que, em dado texto, encontraremos um microensaio sobre a nudez na arte contemporânea, noutro momento somos convidados a refletir sobre a presença do poético em nossas vidas, ao passo que o universal assunto das viagens é pontuado por aspectos que transitam entre o inusitado e o onírico. A fina ironia, a originalidade nas abordagens, e a leveza na leitura, presentes em sua obra pregressa, são também o fio condutor desta nova obra de Tchello d’Barros.

 

Trecho de uma das crônicas

“Tratava-se de um macaco sentado sobre uma pilha de livros, olhando fixamente para uma caveira humana, em sua mão direita. A mão esquerda no queixo. Esse macaco pensativo imediatamente me evocou a figura do Pensador, de Rodin, mas também Hamlet, em sua antológica cena com a caveira.”

 

Dados da obra

 

Título: “ESTESIAS CRÔNICAS” ®

Autor: Tchello d’Barros ©

Gênero: Prosa

Modalidade: Crônicas

Páginas: 60 págs

Formato: 14 X 23 cm

Ano: 2024

Edição: Caravana Editorial

Projeto gráfico e capa: Caravana

Imagem da capa: “Monturos” – poema

visual de Tchello d’Barros

 

 

CERÚLEO ESCARLATE | SINOPSE E FICHA TÉCNICA

 

Cerúleo Escarlate apresenta uma coletânea de contos inusitados, como o encontro secreto entre pessoas, personas e personagens. As histórias, por vezes um tanto surreais – mas sempre bebendo em flashes da realidade vivida pelo autor – tratam gente um tanto desencaixada do mundo como ele é ou deslocada da vida como ela está. São personagens inadequadas aos valores da sociedade vigente, geralmente fora dos padrões da aceitação social, performando, reais ou imaginados, momentos em que terão que se defrontar com as perplexidades da vida, as instabilidades do amor ou as palpitações da morte. É o matador de aluguel que vive um inusitado dilema. A artista que decide entregar-se de corpo e alma à obra mais marcante de sua vida. A jovem sonhadora que, em um encontro onírico com o amado, acorda dentro de uma palavra… São contos curtos que eventualmente transitam por narrativas de viés realista  e que enveredam por ambientes cromáticos e diálogos com esdrúxulos palavrórios. Noutros, emergem cenas de realismo fantástico, trechos de roteiros, diários mentirosos, notícias falsas de jornais reais, recordações suspeitas, flashes de fofocas, cartas modificadas, anotações de telefonemas, ofícios carimbados, sonhos surreais, confissões de desconhecidos, rabos de conversas, alucinações premeditadas e até sussurros de musas invisíveis. Cerúleo Escarlate é o livro de transição de um Tchello d’Barros que, vindo da poesia experimental, mergulha agora na prosa ficcional.

 

Trecho de um dos contos

 

“Um pouco mais ao sul, florescia aquele par de lábios naturalmente rubros. Duas pétalas úmidas, de tulipas escarlates, cujos breves sorrisos tímidos revelavam um raro colar de pérolas. Pousava minha atenção sobre aqueles lábios túmidos, tépidos, que, mesmo silentes, salientes, pareciam sussurrar segredos. Vistos de lado, um morango orvalhado. De frente, um coração dobrado. Um pouco mais ainda ao sul, o queixo de curva suave, cujas linhas de contorno se prolongavam, até encontrar as pequenas orelhas. Estas, vigiadas por brincos discretos, que se escondiam entre aqueles cabelos, que emolduravam sua face de esfinge.”

 

Dados da obra

 

  • Título: “CERÚLEO ESCARLATE” ®
  • Autor: Tchello d’Barros ©
  • Gênero: Prosa
  • Modalidade: Contos
  • Páginas: 170 págs.
  • Formato: 14 X 21 cm
  • Ano: 2024
  • Edição: Ed. Personal
  • Projeto gráfico: Multi-Prisma
  • Orelha: Anamaria Kovács
  • Prefácio: Rodrigo Starling
  • Imagem da capa: Mandala de Tchello d’Barros

 

REFERÊNCIAS

Cataclísmica (poemas). São Paulo: Caravana Editorial, 2024. 144p.

Estesias crônicas (crônicas). Ouro preto: Editora Desconcertos, 2024. 70p.

Cerúleo escarlate (poemas). Rio de Janeiro: Editora Personal, 2024. 170p.

 

 

EXCERTOS DA FORTUNA CRÍTICA

 

Vivemos em tempos de redes sociais, espaços privilegiados para a publicação e divulgação da poesia concreta, da poesia visual, assim como também a chamada poesia discursiva. Tchello d’Barros, entre os poetas brasileiros, é um dos que melhor entendeu todas as possibilidades que as redes oferecem, brindando a todos e a todas com as suas criações.”

Prof. Dr. Franklin Valverde Escritor e pesquisador – São Paulo/SP – 2024

 

 

“A qualidade poética deste autor reside justamente aí: nas maneiras como o desejo de olhar universos se casa com a intenção de ler e unir versos. Apreciar a escrita de Tchello d’Barros descortina as possibilidades das sonoridades da linguagem.”

Prof. Dr. José Endoença Martins Escritor, pesquisador e crítico literário – Blumenau/SC – 2024

 

“Além de todas as características sobre a parte técnica e formal da construção tchelliana, podemos observar, igualmente, a questão imagética e/ou visual a determinar uma paisagem quase palpável à sensibilidade do leitor. Na verdade, o tempo todo, Tchello d’Barros tira proveito do espaço em branco do papel (não fosse ele um dos maiores poetas visuais do mundo) e do que se encontra às margens do texto, e dá relevância ao silêncio contido na respiração dos versos. Talvez, esse espaço silencioso anteceda à própria palavra, criando climas que ultrapassam o próprio poema.”

Tanussi Cardoso Poeta e crítico literário Rio de Janeiro/RJ – 2017

 

“Tchello d’Barros (…) representa todo “um movimento” em si. Não só um artista em constante movimento – viajante de olhar raro e atento, sempre em constantes deambulações por vários países e Brasil afora –, mas um dos autores que melhor congrega, embasado nas possibilidades de produção/divulgação das novas ferramentas digitais. Utilizando-se de mecanismos semióticos, e manipulando com grande mestria seus signos – ele atua com rara inventividade no diversificado campo das artes, de todas as artes. Sim, o poeta-plástico Tchello d’Barros é um mundo, um mundo (em si) mesmo – um mundo de muito trabalho, engenho e invenção. Um mundo efêmero, é certo, mas que traz em si qualquer coisa de perene, quem sabe de eternidade.”

Ronaldo Werneck Jornalista, ensaísta e poeta – Cataguases/MG – 2015

 

 

SOBRE O AUTOR

TCHELLO D´BARROS. Foto: Divulgação.

Tchello d’Barros é escritor e artista visual, catarinense de Brunópolis radicado em Rio de Janeiro. Viveu em 15 cidades, tendo realizado atividades culturais em todos os Estados do Brasil e deambulou por 21 países, produzindo o conjunto de sua obra a partir de Blumenau, Maceió, Belém e Rio de Janeiro. Atua profissionalmente com produção cultural, roteiros p/ audiovisual e curadorias/editorias independentes, ministrando também oficinas literárias em eventos e instituições culturais. Passou por diversas universidades estudando Literatura, Artes Visuais, Teatro e Cinema, graduando-se em Comunicação Social na UFRJ, onde atualmente cursa Mestrado. Publicou o primeiro poema em 1993 e desde lá foram publicados os livros: “Palavrório” (Poemas, 1996), “Olho Nu” (Poemas, 1996), “Letramorfose” (Poemas, 1998), “Olho Zen” (Poemas, 2000), “Afloramor” (Poemas, 2003), “Cordelaria Tchellópolis” (Poemas, 2008), “Convergências” (Poemas visuais, 2015), “Interlocutórios” (Entrevistas, 2016), “Cataclísmica” (Poemas, 2024) e “Estesias Crônicas” (Crônicas, 2024), além de diversos opúsculos e plaquetes, disponíveis nas plataformas digitais. Seus contos, crônicas, artigos, ensaios e poemas também estão publicados em mais de uma centena de coletâneas, antologias e livros didáticos, além de veicular seus escritos regularmente em diversos meios impressos e virtuais. Tem itinerado internacionalmente com a mostra Convergências, uma retrospectiva de suas criações em Poesia Visual, projeto que inclui palestra, oficina, livro, vídeo, curadorias e debates. Coordena o evento literário Poesia Plural, que acontece anualmente em Rio de Janeiro e São Paulo. Fundou na internet o The Virtual Museum of Visual Poetry, maior comunidade mundial em torno da Poesia Visual. Tem autografado seus livros regularmente em edições das Bienais do Livro de São Paulo e Rio e diversas feiras do livro pelo Brasil; Participou em variadas funções em mais de 50 produções em Cinema/Audiovisual. Suas obras visuais já integraram mais de 200 exposições pelo Brasil e em diversos países, como no Centre d’Art Contemporain (Suíça), no Museo Sperimentale d’Arte Contemporanea (Itália) ou no anuário de artes Maintenant (EUA). Suas criações visuais, textuais e cinemáticas já foram expostas/publicadas/exibidas em Alemanha, Argentina, Cabo Verde, Chile, China, Colômbia, Dubai, Espanha, França, Hungria, Índia, Inglaterra, Itália, México, Portugal, Rep. Tcheca, Suíça, Turquia, Uruguai, USA e Venezuela. Integrou o Colegiado Setorial de Literatura e também de Artes Visuais (2004-2010 Minc/Funarte) na formulação do Plano Nacional de Cultura – PNC. Realizou diversas curadorias em instituições como Museu da República, CCBB-Rio, Funarte e eventos nacionais como o Fórum Brasileiro de Literatura (SC), Congresso Brasileiro de Poesia (RS), Encuentro Internacional de Escritura Migrante I-Poem@ (MG), Psiu poético ((MG) e outros em vários países latino-americanos. É membro do Instituto Imersão Latina, que organiza anualmente encontros culturais em países latinoamericanos. O conjunto de sua obra vem amealhando dezenas de resenhas críticas, além de estudada academicamente, seja com citação em artigos ou objeto de pesquisa, como na dissertação “Three Visual Poems”, por M. Duerksen (Stetson University/EUA) ou tema do pós-doutoramento “Tchello d’Barros Olhos de Lince – Poesia Visual em Perspectiva”, por R. Barcellos, (UFRJ). Além das dezenas de distinções, premiações e certificações recebidas ao longo da carreira, a produtora de audiovisual Cinsete realizou o documentário “Tchello Plural” (2023), sobre seus 30 anos de atividades artísticas.

Dedica-se desde 1993 às linguagens de Literatura, Artes Visuais e Audiovisual. Catarinense radicado no Rio de Janeiro, atua como curador, roteirista e produtor cultural. Graduado em Comunicação Social, cursa mestrado na UFRJ. Com 10 livros publicados e textos em cerca de uma centena de antologias e didáticos, suas obras visuais já integraram mais de 200 exposições nos 20 países que percorreu em constantes atividades artísticas. Eventualmente ministra oficinas, palestras e diversas atividades culturais no Brasil e exterior.

 

Tchello d´Barros. Foto: Divulgação.

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Author

Carioca, licenciado em Letras (Português – Literaturas) pela UFRJ, mestre e doutor em Língua Portuguesa pela mesma instituição, com pós-doutorado em Língua Portuguesa pela USP. Participante de 32 coletâneas literárias. Autor do livro de contos "A angústia e outros presságios funestos" (Prêmio Wander Piroli, UBE-RJ). Professor de oficinas de Escrita Criativa. Revisor de textos. Toda quinta-feira, no ArteCult, publica um conto em sua coluna "CONTO DE QUINTA", que integra o projeto "AC VERSO & PROSA" junto com Ana Lúcia Gosling (crônicas) e Tanussi Cardoso (poemas).

11 comments

  • Maravilhoso poder acompanhar a trajetória de uma pessoa que eu conheço há tantos anos.So quem esteve ao seu lado desde o começo ,sabe quanto você batalhou para chegar onde está agora, mesmo que você tenha nascido super dotado com tantos talentos nada seria se não tivesse batalhado tanto… Eu ainda tenho aquele desenho das musas que você me deu amigo, estou esperando que com sua morte no futuro possa valer milhões assim como um rembrant brincadeirinha… eu espero que você viva por muitos e muitos anos espalhando sua arte sua poesia e o seu sucesso ,pelo mundo afora. o mundo está muito feio, onde quer que você vá, pelo menos ilumina com a sua luz alguns corações

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  • Eu já tinha sentido a grandeza da obra tchelliana pelo contato direto com seu trabalho na galeria OLugar, mas depois desta entrevista tenho agora mais noção no âmbito racional para falar sobre. Próximo passo é ler suas obras, começando com Cataclísmica que já possuo em mãos. Como apreciador da arte e como artista reafirmo seu lugar de referência para mim, na literatura e na videoarte.

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  • Amei a entrevista! Parabéns!! Há quase duas décadas venho acompanhando o trabalho deste multiartista que é o Tchello. Inclusive, já o entrevistei no passado, visitei sua exposição Convergências no Rio, adquiri alguns de seus livros e estamos sempre nos encontrando em algum projeto literário, seja virtual ou virtual ou presencial. Mas toda vez eu me surpreendendo com seu imenso talento, criatividade e dinamismo, O meu amigo já não faz arte, ELE é a própria Arte! Parabéns!

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  • Trajetória incrível, querido amigo! Teu trabalho artístico é um.estimulo para os outros artistas, nós, simples mortais. Grande abraço.

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  • Perfeita essa página com todo seu extenso e rico histórico. Você é um artista plural, necessário e um ícone contemporâneo na linguagem de poemas visuais principalmente. Você vai deixar um legado cultural poético diverso pras gerações futuras. Muito importante isso. Devemos sempre pensar que o nosso conhecimento e talento devam ser compartilhado, pois, se uma ou duas pessoas usufruírem bem da nossa obra já terá valido a pena. E você com certeza tem e terá centenas de “aproveitadores” do seu talento. Que bom isso. Parabéns.

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