Como será o amanhã? A coexistência de grandes e pequenos eventos no Brasil

Palco Mainstage Adscendo no Tomorrowland Brasil 2024 | Foto: acervo/@ticizz

 

Na mesma semana em que Paul McCartney emocionou fãs em São Paulo, a cidade fervilhava com uma série de outros grandes eventos, incluindo os três dias do megafestival Tomorrowland, os aguardados shows de Bruno Mars e The Hives, além de apresentações de bandas nacionais e internacionais de variados gêneros. A coexistência de tantas atrações de grande porte levanta questões sobre como essa agenda cultural impacta o bolso dos fãs, o trânsito da cidade, e até o clima eleitoral que a capital paulista vive.

 

O entretenimento e os desafios financeiros dos fãs

Para quem vive a cultura e a música, essa semana parecia um verdadeiro paraíso. No entanto, a quantidade de eventos de alto perfil acontecendo ao mesmo tempo, em uma única cidade traz desafios consideráveis, especialmente para os fãs. O custo de ingressos para shows de artistas como Paul McCartney e Bruno Mars, combinados com festivais como Tomorrowland, são investimentos que precisam ser planejados com bastante cautela. Com preços que variam de R$ 500 a mais de R$ 2.000 por ingresso, além de taxas de conveniência, transporte, alimentação e hospedagem para quem vem de outras cidades, o impacto financeiro é significativo. Fãs se veem obrigados a fazer escolhas difíceis entre seus artistas favoritos, muitas vezes renunciando a uma experiência para priorizar outra.

A questão financeira é ainda mais sensível em um contexto de incertezas econômicas. Mesmo com a retomada pós-pandemia, muitos brasileiros enfrentam um cenário de inflação e altos custos de vida, o que dificulta ainda mais a participação em tantos eventos ao mesmo tempo.

 

A sobrecarga na infraestrutura urbana

Além do peso no bolso, a cidade de São Paulo, viu sua infraestrutura urbana ser posta à prova. Na mesma semana, Um trem da Linha 9 (Esmeralda), operada pela ViaMobilidade, pegou fogo na noite desta segunda-feira (14). O incêndio ocorreu próximo a estação Granja Julieta, na Zona Sul de São Paulo. Segundo a concessionária, houve um “princípio de incêndio em uma das composições que foi prontamente apagado”. Com shows acontecendo simultaneamente em arenas como o Allianz Parque e o Estádio do Morumbi, além do Tomorrowland atraindo milhares de pessoas para fora da cidade, os congestionamentos foram inevitáveis.

A mobilidade também foi afetada, já que muitos dos locais de shows são de difícil acesso via transporte público, levando a uma alta demanda por aplicativos de transporte, táxis e carros particulares. Essa combinação criou gargalos no trânsito e elevou o tempo de deslocamento, complicando ainda mais a vida de quem precisava circular pela cidade para ir a mais de um evento.

 

O impacto no cenário eleitoral

Vale lembrar que essa semana intensa de eventos ocorre em um período eleitoral. A capital paulista, em pleno processo de eleições municipais, vive uma atmosfera de campanha, debates e promessas de melhorias na cidade. A sobrecarga de grandes eventos no mesmo período acaba se tornando um assunto político, à medida que candidatos tentam captar os anseios de uma população que, além de preocupada com cultura e lazer, também lida com questões urgentes como mobilidade urbana, segurança e infraestrutura.

O grande fluxo de pessoas nas ruas, o aumento da demanda por serviços e os transtornos no transporte são questões que chamam a atenção dos candidatos, que podem explorar essa situação para propor melhorias em suas campanhas. A pressão por uma São Paulo que consiga suportar e acomodar a crescente demanda por eventos culturais, sem sacrificar a qualidade de vida dos moradores, tende a ser um ponto central nas discussões eleitorais.

Neste momento de eleições, esse cenário cultural e suas complexidades podem inspirar discussões sobre o futuro da cultura, do lazer e da infraestrutura urbana. Afinal, se a música faz parte do coração da cidade, é essencial que ela seja acessível e a cidade esteja preparada para recebê-la de forma mais equilibrada e inclusiva.

 

Eventos de médio e pequeno porte

Em meio ao brilho das grandes atrações internacionais, pequenos e médios eventos culturais também acontecem. Bandas nacionais, casas de shows menores e eventos regionais, que oferecem muitas vezes experiências intimistas e únicas, enfrentam a dura concorrência de nomes gigantes da música mundial.

Por outro lado, esse também é um momento de oportunidade para o público que não conseguiu ingressos para os shows maiores. Com o foco desviado para eventos de grande escala, muitos shows menores passam a oferecer ingressos mais acessíveis e um ambiente menos tumultuado, tornando-se uma alternativa interessante para aqueles que preferem uma experiência mais pessoal e menos onerosa.

A coexistência de grandes e pequenos eventos no Brasil, especialmente em um epicentro cultural como São Paulo, gera uma série de reflexões. Por um lado, é animador ver que o país continua sendo uma rota importante para turnês internacionais e festivais de renome mundial. A música, o entretenimento e a cultura seguem pulsando, proporcionando aos brasileiros oportunidades de vivenciar shows históricos.

 

Come to Brazil ou Stop coming to Brazil?

Esse excesso de opções em um curto espaço de tempo levanta questões sobre a sustentabilidade desse modelo a longo prazo. Os fãs podem se ver cada vez mais forçados a escolher entre experiências culturais, enquanto a cidade luta para equilibrar sua infraestrutura diante de demandas simultâneas. Sem falar que o impacto financeiro para o público pode acabar restringindo o acesso à cultura a uma parcela mais privilegiada da população.

O amanhã do entretenimento no Brasil parece brilhante, mas também desafiador. São Paulo, como uma das capitais culturais do país, exemplifica essa dualidade, oferecendo uma explosão de eventos de grandes e pequenos portes, mas exigindo dos fãs e da cidade sacrifícios e adaptações. Como será o amanhã? Depende de como equilibramos cultura, economia e infraestrutura para garantir que todos possam continuar vivenciando momentos históricos, sem sobrecarregar suas finanças e a própria cidade.

 

TICI PINHEIRO

 

 

 

 

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Author

Tici é jornalista musical, com sólida experiência no mercado da música, atuando em veículos como ROCKline e Universal Music Brasil. O foco do seu site, Vivendo de Shows, é a cobertura de shows, festivais e entrevistas. Especialista em redes sociais voltadas para o universo musical, tem contribuído para amplificar a voz de artistas e conectar fãs através de uma comunicação estratégica e engajante.

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