Carlos Gomes no teatro, uma obra para brasileiros!

Luciano Quirino. Foto: Guga Melgar.

 

Eu jamais imaginei que Carlos Gomes fosse um homem negro, tampouco os percalços que atravessaram seus dias. E isso faz com que eu o admire ainda mais. Quando falamos em maestros brasileiros, logo me vem à mente Carlos Gomes, Villa Lobos e João Carlos Martins, no entanto, as portas do mundo se abriram para nós através do senhor Carlos Gomes com a música “O Guarani”.

O Guarani (originalmente O Guarany: Romance Brasileiro) é um romance histórico escrito por José de Alencar, desenvolvido em princípio em folhetim. No dia 1º de janeiro de 1857 é publicado o capítulo inicial do romance no Diário do Rio de Janeiro, para no fim desse ano ser publicado como livro, com alterações mínimas em relação ao que fora publicado em folhetim. Mais tarde “O Guarani” foi adaptado à ópera por Carlos Gomes em 1870.

Luciano Quirino em “O Maestro Selvagem”. Foto: Guga Melgar.

Uma das coisas que mais admiro no teatro é poder que ele tem de educar, esclarecer e desnudar tantas histórias, sinto-me feliz por isso. E quando tenho a oportunidade de saber mais de nós, mais dos brasileiros, confesso que fico radiante com as artes cênicas.

No Centro Cultural da Justiça Federal, o espetáculo “Maestro Selvagem” está em temporada, eram poucas pessoas na plateia, mas desde quando o brasileiro preocupa-se com a história do país? Até ontem Maria Leopoldina, para mim, era apenas a esposa de D. Pedro, longe de ser a responsável pela nossa Independência, nada de homem montado em cavalinho bradando “Independência ou Morte!”. Há muito a ser contado, fato, e no teatro há essa contribuição, por meio de dramaturgias onde se coloca muitos negros e muitas mulheres apagados a serem vistos. É o caso desse maestro, por exemplo.

A montagem é bela, conta com audiovisual e a iluminação do mestre Aurélio de Simoni. Não tenho muito a dizer do figurino e cenário, mas posso me perder em parágrafos ao me lembrar do texto forte da dramaturga Miriam Halfim, direção de movimento do Marcelo Aquino e principalmente do ator Luciano Quirino.

A dramaturgia desvenda tantos absurdos vivenciados por Carlos Gomes, sua trajetória está muito bem contada através da retina da dramaturga. Marcelo Aquino faz com que nossos olhos deslumbrem com os movimentos que o personagem traz. São lindíssimos, planamos diante do belo, em nós nasce alegria de ver movimentos tão sofisticados.

Já o ator Luciano Quirino defende sua performance com intensidade, seus olhos em chamas, sua voz, sua aparência, tudo faz com que enxerguemos o grande maestro, que brilhou na Europa, ao lado de grandes nomes, como Wagner, por exemplo.  Luciano faz o possível para enxergarmos a injustiça feita ao compositor, compositor esse que abriu as portas para a música brasileira, para as nossas composições. Como um Furacão, ele atua de um lado para o outro arrastando as correntes, na intenção de quebrar os grilhões da invisibilidade, e o faz com a perfeita entrega no palco do teatro.

Luciano fisicamente parece lembrar o maestro com seu bigode, assim como sua representatividade negra.

Impossível não trazer a essa escrita uma das mais belas canções que tive a oportunidade de conhecer nessa montagem, “Quem Sabe”, que em audiovisual o belíssimo Ney Matogrosso canta com sua voz iluminada.

Quem Sabe?! é uma das primeiras e mais famosas modinhas do compositor brasileiro Antônio Carlos Gomes (mais conhecido como Carlos Gomes), com letra de Bittencourt Sampaio. Carlos Gomes a compôs em 1859, então com 23 anos. Nesse período, o Nacionalismo e o Romantismo estavam em alta no campo das artes. O Romantismo, em especial, influenciou a composição, já que tinha por características a melancolia e o pessimismo, que eram conhecidos como o “mal do século”.

Luciano Quirino em “O Maestro Selvagem”. Foto: Guga Melgar.

Ary Coslov é o diretor do espetáculo, que não pecou em nos agraciar com um trabalho bem costurado, sóbrio e tão necessário. O diretor é responsável pelas nascentes que correm com majestade através dos textos e outros elementos teatrais.

Penso ser essa uma obra muito importante para nós, não somente por termos um busto do maestro na frente do nosso Theatro Municipal, mas pela grandeza e genialidade do artista.  Ele foi o mais importante compositor de ópera brasileiro e patrono da cadeira de número 15 da Academia Brasileira de Música. Ele muito menino começou a tocar com o pai, perdeu a mãe e depois perdeu filhos.  Não teve uma vida afortunada, mas deixou que a arte mergulhasse na alma dele, foi brilhante diante das intempéries, mais que isso, não deixou seu espírito brasileiro esmorecer.

Penso que quando vamos ao teatro e nos deparamos com a musicalidade desses maestros, já é um motivo de darmos a montagens créditos, é o caso de “Calango Deu”, da Suzana Nascimento, que inicia sua obra com “O Trem Caipira” do Villa-Lobos, no teatro Ziembinski na Tijuca, também em temporada.

Obras que merecem seguir!

 

Sinopse

A história de um dos maiores compositores do Brasil, Carlos Gomes, será contada nos palcos do teatro e estreia em breve na capital fluminense. Escrita por Miriam Halfim, “Maestro Selvagem” nasce com o intuito de mostrar para o público a beleza das composições e também a controversa personalidade de um dos artistas nacionais mais renomados e ainda hoje pouco conhecido, que possui uma trajetória tumultuada e repleta de fatos surpreendentes.

 

Ficha Técnica – Maestro Selvagem

  • Texto:  Miriam Halfim
  • Direção: Ary Coslov
  • Atuação: Luciano Quirino
  • Participações especiais: Larissa Nunes, Gustavo Maya e Ricardo Lopes
  • Cenário : Marcos Flaksman
  • Iluminação: Aurélio de Simoni
  • Figurino: Samuel Abrantes
  • Direção de movimento: Marcelo Aquino
  • Assistente de direção: Johnny de Castro
  • Assessoria de imprensa: Alessandra Costa
  • Projeções mapeadas: Renato Krueger
  • Assistente de cenário: Bidi Bujnowski
  • Assistente de Figurino: Vinicius Eco
  • Cenotécnico: Humberto Jr e equipe
  • Fotógrafo: Guga Melgar
  • Programação visual: Isio Ghelman
  • Mídias sociais: Rafael Gandra
  • Produção executiva: Bárbara Montes Claros
  • Direção de Produção: Celso Lemos
  • Realização: MM – Halfim Produções Artísticas Ltda

SERVIÇO

Maestro Selvagem

  • Onde: Centro Cultural da Justiça  Federal.
  • Av. Rio Branco 241, Centro
  • Datas: de 04 a 27 de outubro
  • Dias: Quinta e sexta, às 19 h. Sábado e domingo, às  18h.
  • Ingressos: R$50,00 (inteira) e R$ 25,00 (meia)
  • Lotação: 141 lugares
  • Duração: 70 minutos
  • Classificação: 14 anos

Paty Lopes (@arteriaingressos). Foto: Divulgação.

 

Facebook: @PortalAtuando

 

 

 

 

 

 

 

 

Author

Dramaturga, com textos contemplados em editais do governo do estado do Rio de Janeiro, Teatro Prudential e literatura no Sesi Firjan/RJ. Autora do texto Maria Bonita e a Peleja com o Sol apresentado na Funarj e Luz e Fogo, no edital da prefeitura para o projeto Paixão de Ler. Contemplada no edital de literatura Sesi Fiesp/Avenida Paulista, onde conta a História de Maria Felipa par Crianças em 2024. Curadora e idealizadora da Exposição Radio Negro em 2022 no MIS - Museu de Imagem e Som, duas passagens pelo Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com montagem teatral e de dança. Contemplada com o projeto "A Menina Dança" para o público infantil para o SESC e Funarte (Retomada Cultural/2024). Formadora de plateia e incentivadora cultural da cidade.

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