Nossa, faz tanto tempo que não apareço por aqui, né? Eu bem sei disso, uma verdadeira eternidade… Mas a vida corrida, o caminhar louco dos ponteiros do relógio, o tempo irrefreável, atrapalharam um pouquinho e me fizeram demorar um tanto a mais do que eu gostaria. Afinal, escrever sobre gastronomia para o ARTECULT – esse assunto tão apaixonante e que me é tão caro – é inegavelmente um grande prazer!!!
Eu já estava finalizando um artigo sobre risoto – sim, isso mesmo, o nosso bom, velho e amado risoto… – e até tive que fazer uma adaptaçãozinha no texto pra transformá-lo de nono em décimo artigo, quando apareceu a oportunidade de falar sobre outro tema. Pensei: por que não? Aproveitar que ele tá mais fresquinho, por ser uma experiência mais recente, e interromper essa ausência desagradável.
Resolvi visitar o VOGUE SQUARE, complexo inaugurado em novembro de 2016, que reúne gastronomia, wellness, entretenimento, serviços, hotelaria e offices, situado na Barra da Tijuca, bairro da zona oeste do município do Rio de Janeiro – e o fiz em dois momentos. No primeiro, conheci a TASCA FILHO D´MÃE (http://tascafilhodamae.com.br), restaurante de comida portuguesa capitaneado pelo chef Álvaro André e, na segunda oportunidade, quase que no dia seguinte, visitei o CHEZ HEAVEN (https://www.chefheaven.com.br/), um bistrô francês que apresenta culinária variada e sofisticada de autoria da chef Heaven Delhaye.
Mas vamos do princípio, de modo a contextualizar a experiência, na medida em que tudo ocorreu de forma meio ocasional.
Fuxicando nas minhas redes sociais, descobri que o chef Álvaro André, a quem sigo há algum tempo, daria uma Masterclass no seu restaurante, onde ele ensinaria uma moqueca de bacalhau. Afinal, o TASCA, ao que me parece, depois de analisar o cardápio, é especializado em bacalhau e não poderia fugir desse ingrediente tão nobre!
Imediatamente, fiz contato através do direct com o chef e consegui me inscrever pra aula que ocorreria numa quarta-feira à noite.
No dia, ansioso, me aprontei, não sem antes lembrar de colocar nos bolsos uma caneta e folhas de papel pra anotar tudo, sem deixar qualquer detalhe de fora, e me encaminhei ao VOGUE SQUARE.
Lá chegando, fui extremamente bem recebido pelo funcionário da casa, que me acomodou corretamente – por certo, optei pelo “gargarejo”, por aquele local mais próximo de onde seria feito o prato. Aliás, a mesa do chef é um capítulo à parte: estava lindíssima, impecavelmente arrumada, mis-en-place dos sonhos, com ingredientes dispostos harmonicamente, uma verdadeira pintura! Ah, que inveja senti dessa organização que, às vezes – ou quase sempre – me falta no dia a dia…
Mas, por alguma dessas eventualidades indecifráveis do destino, o trânsito na cidade deu um nó danado naquela quarta-feira perdida no meio do calendário e vários dos outros inscritos, inclusive de imprensa, não conseguiram chegar, e a Masterclass foi cancelada.
Por sorte – e que sorte! – a noite não terminaria com essa frustração. O chef Álvaro André foi até minha mesa explicar o ocorrido e ofereceu-me, pelo mesmo valor, uma “Sequência de Bacalhau”, prato constante do cardápio da casa e que é acompanhado por uma taça de vinho.
Sem titubear, aceitei a oferta. Seria, quem sabe, a oportunidade de inaugurar minhas andanças por restaurantes renomados e experimentar um pouco dessa “alta gastronomia”, objetivando agregar novas técnicas e métodos de construção de sabores à minha própria cozinha.
Então, já a postos, começaram a chegar os pratos: Bolinho de Bacalhau, Coxinha de Bacalhau, Punheta de Bacalhau, Bacalhau Brás, Bacalhau nas Natas e, por fim, o Arroz de Bacalhau.
Bom, posso dizer que nunca havia comido tanto bacalhau de uma só vez em minha vida, mas adorei a experiência. Os pratos são bem construídos, alguns clássicos da culinária portuguesa, com a pitada do chef. Nota-se, de antemão, a qualidade dos insumos utilizados e o cuidado no preparo. Pra quem curte o famoso pescado – do qual ninguém conhece a cabeça! – é, realmente, uma visita imperdível. Talvez, meu único senão tenha sido o sal – senti a necessidade dele na mesa – mas, já adianto, sob nenhuma hipótese sou referência quando o assunto é SAL, já que, quando cozinho, eu o faço sempre com ponto a menos pois sei que, se falta um pouco pra mim, está no ponto ideal pra humanidade…
No dia do meu aniversário – é, a data não poderia ser melhor e mais acertada – resolvi retornar ao VOGUE SQUARE para conhecer o restaurante de uma Masterchef. Afinal, antes de ganhar a décima nona edição do “Jogo de Panelas” do programa “Mais Você” da Ana Maria Braga, participei da seletiva, em São Paulo, para o Masterchef Amador – segunda temporada. Por uma infelicidade – ou melhor, direi eu, por conta da minha (enorme) inabilidade em fazer duas coisas simultâneas, já que, com tempo curto e preparando meu prato, ficaram me perguntando da minha vida, não consegui a desejada dolma e (snif!) não fui selecionado. Vida que segue…
Quando estive no shopping dois dias antes, fiquei sabendo que o CHEZ HEAVEN, assim como o TASCA FILHO D ?MÃE, serviam “almoço executivo”, por um preço bastante convidativo – na medida em que incluía entrada, prato principal e sobremesa. Não tive dúvidas e, imediatamente, já tinha, na minha cabeça, feito toda a minha programação: experimentaria os pratos da chef, caísse ou não canivetes naquele dia. Por sorte, foi uma sexta-feira ensolarada e linda!
E lá fomos nós – eu, mulher e filha – pra nossa aventura gastronômica. A princípio, seria uma vantagem ir em mais pessoas, já que, em família, poderíamos provar o prato uns dos outros e, assim, ter uma noção mais abrangente do que estaria sendo servido.
Assim como o restaurante anterior, esse também é bem decorado, com uma ambientação aconchegante e, igualmente, fomos bem recepcionados pelo staff da casa.
Optamos, como já dito, pelo “almoço executivo”. De entrada, haviam duas sugestões: dadinhos da tapioca e bolinho de polvo. Nos ajeitamos na escolha, para ter a oportunidade de experimentar os dois pratos, e eles vieram lindamente apresentados, como é possível ver na foto. Estavam muito saborosos! A única ressalva que faço, talvez, seja a ausência de uma geleia com mais presença de sabor nos dadinhos…
Hora do prato principal, também havia duas opções, se não me falha a memória. Porém, fomos alertados pelo garçom de que uma delas, pra minha enorme tristeza, já não estava disponível. Infelizmente, não tive a ideia de fotografar o cardápio do almoço executivo daquele dia que estava exposto num cavalete na entrada do BISTRÔ, como fiz no TASCA, e pelo tempo que se passou, não me lembro muito bem quais eram os pratos. Ainda bem que, pelo menos, as fotos eu tirei…
Sem alternativa, nós três fomos sedentos – ou melhor, famintos! – em direção ao prato que sobrou, que era de filé mignon, com batatas, creme de queijo, molho com cogumelos e um crispy de (acho!) salsinha, e que chegou em uma apresentação daquelas de se comer com os olhos.
Aí veio a sobremesa e, novamente duas opções: um pudim tradicional e um brownie, Como não sou especialista em doces – sou o cara “do salgado!” – socorri-me da opinião das duas formiguinhas que me acompanhavam e elas me disseram que estavam perfeitos.
Acabou? Claro que não!
Já que tinha chegado até ali e, durante o serviço, vi servirem a mesa ao lado com um dos pratos considerados carro-chefe da casa, um carbonara finalizado na presença do cliente, dentro de uma linda peça de grana padano, não tive dúvidas: ei, garçom, traz um desses pra mim…
E ele veio e foi preparado ali, diante de mim. Tive, literalmente, vontade de mergulhar na cavidade do queijo enquanto a mocinha preparava meu prato lentamente. Aqui, se encontrei algum espaço pra crítica, talvez seja no fato de que o grana devesse ter sido “lasqueado”, ainda que de leve, e não apenas servido de recipiente para o preparo, se é que vocês me entendem.
Mas ainda assim, o resultado é sensacional, e essa performance à mesa contribui – e muito! – para o sucesso do prato.
Depois de ter tido a emoção de conhecer a chef Heaven Delhaye, que foi até a mesa saber como estava sendo o serviço, veio a surpresa. Como era meu aniversário, recebi um mimo do restaurante: um delicado petit gateau coberto de morangos frescos…
E, assim, finalizei essa pequena experiência gastronômica, em duas etapas. Adorei a ideia e espero, em breve, fazer novas incursões por restaurantes conhecidos.
Dessa vez, fui de coração aberto, sem o intuito de analisar profundamente o produto e elaborar uma resenha fundamentada. Não cacei falhas, não ponderei erros ou acertos, estava ali apenas para me divertir. Mas gostei da ideia de ser um crítico gastronômico…
Tem um ponto que acho que merece ser destacado.
A iniciativa de restaurantes mais refinados de, entendendo o contexto, incluir o chamado “almoço executivo”, com preços mais atraentes e acessíveis em sua rotina sem, no entanto, perder em qualidade, é uma grande sacada! No caso dos dois restaurantes analisados nesse artigo, ao serem capazes de identificar que o grande aporte de clientes do shopping se dá no período noturno, criaram uma alternativa extremamente viável, que não apenas incrementa as vendas do estabelecimento, como amplia democraticamente o acesso de todos a um pedacinho da (desejada) “alta gastronomia”.
Como disse, infelizmente, não fotografei o cardápio do executivo do dia em que fui do CHEZ HEAVEN, mas consegui o do TASCA FILHO D´MÃE. E posso assegurar que a experiência, tanto em um como no outro, vale a pena.
Então, é isso. Novamente, peço que perdoem minha ausência um tanto prolongada, mas garanto que ela não vai se repetir. Espero, sempre, trazer novos artigos que, basicamente, visam estimular os sentidos e servem como um grande convite a todos para que vejam a sintam a gastronomia, cada vez mais, como um ato de amor.
DEL SCHIMMELPFENG