VIAGENS GASTRONÔMICAS: conhecendo CAMPOS DO JORDÃO, a “Suiça Brasileira”

 

Depois da viagem pra Lumiar, decidi continuar nas alturas. E a melhor escolha, por certo, não poderia ser outra senão CAMPOS DO JORDÃO (@prefeituradecamposdojordao), conhecida como a Suíça Brasileira, localizado no interior do Estado de São  Paulo, na Serra da Mantiqueira, e faz parte da recém-criada Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, sub-região 2 de Taubaté. Com uma altitude de 1628 metros, é considerado o município brasileiro com a sede administrativa mais elevada do país e  estância climática, por cumprir os pré-requisitos definidos por lei estadual.

O estilo dos imóveis em CAMPOS DO JORDÃO, com geometria triangular ou cônica dos telhados, uso da madeira e do tijolo aparente, reflete sua semelhança geográfica e climática  com países europeus, sobretudo com as regiões montanhosas da França e da Suíça. Esse estilo começou ainda na década de 1940, como uma tentativa de superar o frio e adaptar as construções para o clima das montanhas. Além disso, a cidade passou a receber pequenas colônias europeias, que perpetuaram essa característica nas construções.

E, como toda viagem que se preze, tem que ter boas (e agradáveis) surpresas, vou contar a minha, logo que entrei na cidade. Pois é, antes de chegar no endereço do Airbnb que contratei,  parei em um mirante, de onde se avistava três grandes edificações, nesse estilo que mencionei. Uma delas, mais a esquerda, soube que se tratava de um hotel desativado, o Mont Blanc, construído em 1953 e que foi considerado um dos mais luxuosos da cidade, mas hoje, depois de ser fechado em 2004 por conta de má administração, acabou ficando com a fama de mal assombrado. As duas outras construções seriam hotéis da região.

Voltei ao carro já que, de acordo com o Waze, faltava pouco para chegar. E, curva vai curva vem, fui me aproximando da edificação que ficava mais à direita, aquela mesma que eu havia visto do mirante. Pensei: só falta ser nesse “castelo”… E era.

Já devidamente instalado, passei a programar minha estadia. Afinal, a gastronomia é um dos atrativos de CAMPOS DO JORDÃO, com uma grande oferta, de diversidade e quantidade, o que torna a cidade um polo gastronômico de relevância. É fato que, quando se sobe a serra atrás dos paradisíacos visuais e do friozinho que compõe a região, também se pensa em cervejas artesanais, chocolate quente e o clássico – dos clássicos! – fondue, nas suas três versões.

Mais uma vez, alerto que os locais visitados não foram colocados na sua ordem cronológica. Não faria sentido, né? Prefiro ir falando dos lugares na medida em que vou me lembrando das experiências.

Por isso, acho que posso começar pela CERVEJARIA BADEN BADEN (@cervejabadenbaden), talvez uma das marcas mais conhecidas da cidade. Ela nasceu em CAMPOS DO JORDÃO como uma das pioneiras na produção de cervejas artesanais de qualidade, através da fusão entre três empresas: a The Beer Store, a Sheps do Brasil e a Choperia Baden Baden Campos do Jordão. A fábrica Baden Baden foi construída no segundo semestre de 1999 com a premissa de aderir ao movimento The Craft Beer Renaissance, que visava trazer de volta a produção artesanal das cervejas de forma paciente e com extrema atenção aos detalhes, sem perder a alegria e satisfação de criar boas cervejas. No ano de 2000 nasceu a primeira cerveja Baden Baden: a Chopp Red Ale. Já as primeiras cervejas em garrafa foram lançadas somente em 2001, com os rótulos Baden Baden Red Ale, Baden Baden Cristal, Baden Baden Lager Bock e a Baden Baden Stout Dark Ale.

Ali, na parte externa, enquanto observava o movimento da rua, tomei uma Peach, cerveja de trigo não filtrada que apresenta delicados aromas e sabores de pêssego,  e uma Witbier, produzida com maltes de trigo e cevada, não filtrada, que traz o sabor refrescante e cítrico da laranja e o toque levemente picante da semente de coentro.

Dali, fui procurar um lugar para a experiência que não poderia faltar nessa viagem: o fondue. Mas logo de cara, olhando pela rua, percebi que – praticamente – todos os estabelecimentos servem o fondue de carne em uma chapa, nos moldes de Gramado e Canela no sul, não em óleo, como aprendi a fazer – embora saiba não ser tão saudável assim… Mas convenhamos: fica mais gostoso, né? Há uma alternativa ao óleo e à chapa, que seria em um caldo de carne com vinho, e que também fica bem saboroso. Mas como não encontrei nem um nem outro, seria na chapa mesmo.

E nessas andanças, encontrei o BAM BAM CAFÉ (@bambamcafeoficial), onde fui recepcionado pelo simpático Pablo Augusto, que já me colocou ali próximo de um aquecedor – é, estava fazendo um friozinho – e já me trouxe uma cerveja, enquanto aguardava o início do trabalhos.

E aí começou. Primeiro, o de carne, que foi colocada numa chapa previamente besuntada de manteiga. Repare que só tinha carne, baby beef – vê se sou louco de pedir frango, linguiça, como é servido normalmente. Pedi, é claro, para substituir.

Dentre os molhos, vale a menção honrosa – e com louvor –  para dois deles: o chimichurri e o relish, confeccionados pelo próprio Pablo, que estavam realmente uma delícia, bastante equilibrados e combinaram muito bem com a carne. E se a ideia, como ele me disse, é ter ali um pequeno empório, a comercialização desses molhos seria muito bem vinda…

Já o fondue de queijo, feito a partir de um blend de emmental, gruyère e gouda Faixa Azul, foi servido com pão italiano, batata noisette, brócolis, goiabada e pinhão.

Aqui, vale abrir um parênteses pra falar do pinhão, já que o pinheiro Araucária emoldura a paisagem de CAMPOS DO JORDÃO. E é interessante ressaltar que  o pinhão é protegido por uma Portaria Normativa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama), Normativa DC-20, que determina o dia 15 de abril como início do período para colheita e venda em lojas, feiras ou propriedades rurais. O chamado “defeso do pinhão” segue até o fim do período de maturação da pinha, quando tem início o desprendimento das sementes. A mesma portaria do Ibama também proíbe o corte de pinheiros adultos (Araucaria angustifolia), portadores de pinhas na época da queda de sementes, ou seja, nos meses de abril, maio e junho. E a preservação é correta, na medida em que o pinhão é uma grande fonte de renda para inúmeras famílias.

Eu soube, também, que costuma ocorrer nas cidades de Campos do Jordão, Santo Antonio do Pinhal e São Bento do Sapucaí o Festival do Pinhão.

É muito comum ver o pinhão ser vendido assim, às margens da avenida que corta a cidade e em outros tantos pontos espalhados. Eu mesmo comprei um saco de pinhão, para fazer, em breve, uma receita de entrevero. Quem sabe a gente não faça juntos, aqui, no ARTECULT?

Voltando ao nosso fondue. Pra finalizar a brincadeira, foi servido o de chocolate, acompanhado de frutas. Dizem que o fondue de chocolate é o mais popular do mundo. Vale dizer que foi o chef de cozinha de Nova York Konrad Egli que o criou, na década de 50,  pra ser servido como sobremesa.

E por falar nisso, o chocolate quente servido em CAMPOS DO JORDÃO é daqueles cremosos, bastante espesso, de textura aveludada, tipo Europeu mesmo, o que tornou o lugar uma referência no assunto. Existem casas de chocolate em cada esquina e, lógico, trouxe um pacote pra casa. Nunca se sabe quando vai fazer frio aqui no Rio de Janeiro…

Como (quase) em toda viagem, optei por fazer um desses passeios turísticos, que acabam dando um pequeno panorama do local que se está visitando. Foi assim lá em Lumiar, e foi assim em CAMPOS DO JORDÃO. Para quem não tem muito tempo, acaba sendo legal, pois é possível conhecer a cidade ou região de uma forma genérica, mas que dá a noção do que se tem por ali.

Em uma das paradas, numa loja da SPINASSI CHOCOLATES (@chocolatespinassi) que, ao contrário do nome, não vende só chocolates – embora, acredito, tenha começado assim. Mas na loja que fui tinha de tudo! E teve degustação, principalmente das cachaças e licores, conduzida pelo atendente Igor, que trouxe algumas bebidas de produção própria, com nomes bastante inusitados…

Quando retornei do passeio, já era hora de fazer uma boquinha. Como eu tinha passado por um local bem interessante, na noite anterior, para comprar água e ter sido muito bem recebido pelo Felipe, retornei para conhecer melhor o EMPÓRIO & ESPETARIA BORGES (@emporioespetariaborges). Fui recepcionado, agora, pelo Rafael, que me mostrou a casa e a enorme variedade de produtos locais ali expostos.

Cervejas, queijos, chocolate, tinha realmente de tudo por ali. Em um bom espaço, com produtos bem distribuídos, tornou-se uma gostosa brincadeira perambular por ali, garimpando delícias locais…

Sentei numa mesa, localizada na varandinha exterior e, para começar, pedi uma cerveja estilo Belgia Dubbel feita com… Pinhão, fabricada pela CERVEJA CAMPOS DO JORDÃO (@cervejacamposdojordao). Aveludada, com notas de banana e cravo e de baixo amargor, essa cerveja produzida na região foi um excelente abre-alas… É lógico que rolou outra cervejinha da região, a Reboque da VEMAGUET 67 (@cervejavemaguet67), que foi medalha de prata no Concurso Brasileiro de Cervejas de Blumenau/SC em 2021…

Como cortesia, o Rafael me trouxe umas deliciosas azeitonas verde Gordal, de polpa carnuda e muito saborosa, originária de Sevilha, na Espanha e queijo provolone, com um azeitinho extra virgem pra acompanhar…

Como ali era uma espetaria, vi que o cardápio trazia uma infinidade de opções de espetinhos, salgados e doces. Pedi só um espeto de contrafilé, que foi gentilmente substituído por picanha, porque ainda pretendia almoçar lá no tal “castelo” em que fiquei hospedado, que tinha um restaurante que entregava no quarto.

Montei meu pratinho, com todo carinho (e fome) do mundo e… Voilá! Ficou um espetáculo!

Já no duplex que aluguei via Airbnb no QUATRE SAISONS RESIDENCE (@quatresaisonsresidence) pedi um couvert e um prato de risoto de funghi e filé mignon, que veio bem saboroso. Tudo acompanhado com um vinho que trouxe de casa…

Ainda não acabou. Deu tempo de conhecer o Lago do Pico do Itapeva, o mais alto do Brasil, considerado o nosso Titicaca. Na primeira vez, quando fui com a van do passeio, mais cedo, ele estava completamente encoberto, nem dava pra ver do que se tratava…

Mas insisti e voltei ali, um pouco mais tarde e, como num passe de mágica, o visual mudou completamente.

Queria chegar ao Pico do Itapeva, que é uma elevação rochosa brasileira com 2 025 metros de altitude e cujo cume está situado no município de Pindamonhangaba, no estado de São Paulo, a apenas 35 metros da divisa com Campos do Jordão, de onde ele é acessado.  Voltei ali, porque, um pouco mais adiante do lago, me sugeriram visitar o “bar mais alto do país”. Sim, eu o encontrei. Ali, bem no mirante, estava estacionado o BAR DA MONTANHA ITAPEVA (@bardamontanhaitapeva), uma kombi estilosa, que fica estacionada, de frente para o Vale do Paraíba…

Diferente do lago, em que a neblina deu um tempo pra que se pudesse apreciar sua beleza, o vale não fez a mesma coisa. Ainda tomei um chopinho, de leve, pra fazer uma hora, pois o pessoal ali dizia que era possível ver tudo dali.

Mas não deu. A neblina persistiu, teimosa e a vista de todo o Vale do Paraíba ficou para uma próxima vez…

Fui atendido pelo animado Alysson, que me contou um pouco do lugar e da atividade. E, depois de comprar algumas cachaças artesanais diferentes – chocolate com pimenta, pêssego e café – ainda tomei uma dose no rabo do bode…

E para terminar minha estadia – sim, ela foi extremamente curta, deixando aquele gostinho de quero mais! – nada melhor do que um dos locais mais tradicionais da cidade, o PASTELÃO DO MALUF (@pastelaodomaluf).

Sempre fiquei intrigado com um outdoor que via na Dutra desde sempre e vivia me dizendo que, um dia, iria lá provar o tal pastel. E quando me programei para essa viagem, me lembrei disso e, obrigatoriamente, o inclui em meu roteiro. Fiquei curioso pra saber como o Maluf acabou virando o garoto propaganda do lugar, em uma cartada de marketing pra lá de certeira.

Me contaram que o político é amigo da família e, em uma de suas visitas à lanchonete, que tem mais de 20 anos, foi flagrado comendo o gigantesco pastel e teve sua foto amplamente divulgada. Por isso, a imagem dele acabou por ser incorporada em 2005, inclusive com a alteração do nome do estabelecimento.

Todos os pastéis vendidos no local medem 32 centímetros de comprimento e o cardápio é bastante criativo, com dezenas de sabores – mais de 50!!! – alguns homenageando personalidades como Cid Moreira, João Dória e Geraldo Alckmin.

Como eu, fatalmente, não iria aguentar comer mais de um, tive que priorizar a receita que mais vende e que, não por acaso,  foi batizada de Maluf: carne moída, salsa, tomate, azeitona e dois ovos. O pastel, que é frito na hora, veio bem recheado…

E assim chegamos ao fim de mais um artigo, conhecendo um outro cantinho desse nosso país. Tem sido uma experiência bem legal essa de compartilhar com vocês minhas aventuras gastronômicas. Ir nos lugares e descobrir não apenas os pratos típicos daquela determinada região, mas um pouco de tudo o que é oferecido, de maneira geral. Descobrir joias escondidas, que às vezes nem rede social possuem, ou visitar os lugares famosos, sempre atrás de sabores… É um exercício delicioso, que traz muitas descobertas e nos enriquece culturalmente.

Me ajudem a decidir qual será o próximo tema. Eu trago uma receita clássica, ou visito algum novo restaurante..? Ou, quem sabe, falo de alguma região do Brasil, algum prato típico do mundo, de um produto específico..?

São muitas as possibilidades e, por isso, conto com vocês e aguardo sugestões.

No encontramos em breve…

 

DEL SCHIMMELPFENG

@del.schimmelpfeng

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Author

Del Schimmelpfeng é Analista Judiciário do TJERJ, mas desde que se lembra - e coloca tempo nisso! - ama cozinhar! Apesar de ter feito as faculdades de arquitetura e direito, é se misturando aos pratos, panelas e temperos que se sente inteiro, completo, pleno. É autodidata, nunca fez curso de culinária, tampouco se imaginou um profissional da área. Considera-se apenas um curioso, que procura o conhecimento em tudo e que tenta, de todo jeito, viver da melhor forma possível - apesar de todas as dificuldades. Afinal, não haveria graça se elas não existissem... Participou da seletiva da segunda edição do Masterchef e da décima nona edição do reality "Jogo de Panelas", apresentado por Ana Maria Braga no programa "Mais Você" da Rede Globo, na qual sagrou-se campeão. Possui, ainda, textos publicados em livros de conto e poesia. Blog: http://delschimmelpfeng.blogspot.com Instagram: @del.schimmelpfeng

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