Uma crônica ao seu aniversário, Théo

Uma crônica ao seu aniversário, Théo

 

Não consegui escrever uma crônica para o dia de seu aniversário. Dias corridos. Ao mesmo tempo, me peguei pensando muito no que deveria escrever para você, que agora chega aos seus dois anos. Sei que não vai ler agora o que escrevo e o que penso em escrever. Se tem algo que me motiva à escrita é parte desse desejo de interlocução. Quero que você leia.

Seus irmãos já o fazem. Eles só não me dão retorno ao que escrevo. Não sei porquê. Até suspeito o motivo: eles sofrem com o que escrevo. Não querem que eu traduza em palavras o sentimento que movo por cada filho. É mico digital.

Sei que seus amigos não me leem. Não é deles. Não é da época. Estamos caminhando para um mundo de pessoas que não leem. Está se criando um universo com um novo grau de idiotice, alimentado por redes sociais.

Eu e sua mãe lemos para você. Você que já pega o livro e pede para que venhamos a ler. Você não tem noção de como isso o coloca em um patamar de segurança intelectual que desejamos. Não deixe nunca de ler. Só para você ter uma ideia, você, com apenas dois anos, já possui uma boa dose de vocabulário. Relembro seus irmãos. Sofia nessa idade era uma espoleta. Foi nessa época que ela perdeu o avô, nem chegou a plenamente conhecê-lo. Arthur era bem mais caladinho. Franzia o cenho. Já você, sorri para tudo. E como sorri. E vejo que todos os meus três falam muito e leem em igual capacidade.

É muito fácil arrancar um sorriso seu. É como tirar pirulito de criança. Quando eu mesmo tiro o seu, você ri, corre atrás de mim, ri da corrida e ri quando consegue o pirulito de volta.

Será que, quando consegui ler, você ainda continuará a ser esse leitor risonho? Se pensarmos em como é sua mãe agora, penso que será sim. Prefiro, então, escrever algo simples e efetivo. Te amo, meu filho. Te amo muitão. Espero que me ame também. Farei todo esforço para que me ame como eu já te amo.

Feliz aniversario.

 

MÁRCIO CALIXTO
Professor e Escritor

 

Márcio Calixto | Foto: Divulgação



Coluna de Márcio Calixto

 

Author

Professor e escritor. Lançou em 2013 seu primeiro romance, A Árvore que Chora Milagres, pela editora Multifoco. Participou do grupo literário Bagatelas, responsável por uma revolução na internet na primeira década do século XXI, e das oficinas literárias de Antônio Torres na UERJ, com quem aprendeu a arte de “rabiscar papel”. Criou junto com amigos da faculdade o Trema Literatura. Tem como prática cotidiana escrever uma página e ler dez. Pai de 3 filhos, convicto carioca suburbano bibliófilo residente em Jacarepaguá. Um subúrbio de samba, blues e Heavy Metal. Foi primeiro do desenho e agora é das palavras, com as quais gosta de pintar histórias.

One comment

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *