Sextesia


Coluna de ROSE ARAUJO

 

SEXTESIA

 

Adentro o portal azul-bic, belamente talhado e apresento-me na secretaria. Paira um aroma de café fresquinho no ar, prenúncio de boas-novas: primícias. Um rapaz me acompanha. A caminho da sala, percorro escadas e corredores ilustrados em cores e artes. Paredes me acolhem, assim, AmarÉlinhas. Em meu poema Solar refiro-me a amar, amar é linha, é fio condutor de vida, missão e sina. E poesia ali, viva, pulsante, revelando-se nitidamente nessa manhã tépida e terna de agosto.
Após curvas e salas, o rapaz (Renato é o seu nome) me diz _ chegamos, pode entrar e seja muito bem- vinda!

ANSIOSA E UM POUCO tímida – ou talvez o contrário também – adentro a sala de aula, com suas carteiras dispostas em um circulo que me abraça. Recebo as palavras da Professora Bruna e o sorriso nos olhos dos alunos. Bruna narra a manhã e revela-me o poema-mimo feito por eles, exposto no quadro branco, onde a gratidão, a sexta-feira e a poesia fundem-se em saboroso neologismo, criado por eles: “Gratesia”, baseado no título do terceiro capítulo do meu livro.
Sim, serão momentos de encontro e entrega, de somas, olhares e descobertas.

COMEÇAMOS A CONVERSAR SOBRE Pandesias (poesias da pandemia), fazeres poéticos, inícios, poemares e inspirações. Cada aluno se apresenta, com nome e idade, entre treze e quinze anos, e todo o trilhar e sonhos a aguardá-los ali, na poesia dos dias.
Falamos também da natureza e passarada que conta, canta e encanta o hoje, tecendo esperança…
Vencida a formalidade e já mais próximos e à vontade, distribuo um exemplar da Coletânea Cena Poética 8 (do grande Rogerio Salgado), da qual participo, e realizamos sorteios de Quando Vida Poesia, dando rosto aos nomes…

GUILHERME, MARIA EDUARDA, CAUÃ, JÚLIO CÉSAR, WILLYANA,
entre outros sorrisos e histórias, começam a fazer morada em meu coração.
Manuela, um pouco sonada, abandona o chamado de Morfeu e revela-se interessada. Em meio ao capuz branco do moletom, olhos vívidos, pergunta-me sobre quando nasceu a escritora em mim. Conto-lhe que não sei dizer, ao certo, que o caminho é longo, o exercício é contínuo e desde os oito anos mergulho em meu universo particular de significâncias e significados.
Ao final da aula, sou (mais uma vez!) presenteada,
agora com o poema adornado em cuidadosa caligrafia e acompanhado de três tulipas artesanais:
uma vermelha – amor e vida pulsante, outra laranja – a cor da criatividade – e a terceira verde, o homem e a natureza, no renovar da esperança.
Manhã especialmente solar, em poemas, fotos, conversas, autógrafos e também despedida.

PROFESSORA BRUNA e dois alunos me acompanham e deixamos a sala, próximo do meio-dia, percorrendo o caminho de volta, nos mesmos corredores amarelinhos, repletos de artes e expressões.
Despeço-me feliz e impactada e, retomando a pergunta da aluna Manuela, respondo mentalmente a outra pergunta silente: sim, ali aguça-me um olhar de educadora e renova o sacerdócio de tocar, afetar, emocionar o outro em gestos e versos. Meu jardim está em festa: gratesia!

HOJE GUILHERME, Maria Eduarda, Cauã, Júlio César, Willyana e Manuela não estudam mais na Escola Municipal Orlando Villas Boas, talvez alguns ainda escrevam, outros ensinem e outros exercitem tantas outras artes – de amor e de vida – permeadas pelo olhar poético naquele projeto, naquele primeiro encontro, onde me empossaram madrinha poética.
Bruna conta-me que as sextesias foram realizadas por mais um semestre, rendendo preciosos frutos e um cantinho literário, pequena biblioteca, no canto da sala
: poesia germinada.

 

Clique nas imagens para dar zoom:

 

À Turma Carioca II, de 2023, da E. M. Orlando Villas-Boas RJ. meu poema

 

RAMAGENS

Há na poesia
algo de paisagem
um quê de miragem
audíveis silêncios

Há na poesia
um universo indescritível
singular intransferível
é um convite ensolarado
de contentamento

Há na poesia
– codinome VIDA –
partilháveis essências
acontecimentos narrativas
transcendências

 

ROSE ARAUJO

Rose Araujo. Foto: Divulgação.

 

 

 

 

 

 

 

Author

Londrinense-carioca, poeta de inspiração e designer gráfico de profissão, Rose Araujo coordena o Espaço Cultural da CasAmarElinha, em Itaipu - carinhosamente batizada de ItaiPAZ - na Região Oceânica de Niterói- RJ. Realiza lives, saraus e entrevistas sob o projeto itinerante da Passarela da Poesia (@rose_araujo_poeta ), projeto premiado pela APPERJ-RJ e Troféu Arte em Movimento, onde já passaram significantes nomes da poesia contemporânea brasileira. Estreou com o livro Quando Vida Poesia (Editorial Casa, 2022) em precioso prefácio de Tanussi Cardoso e grande receptividade de público e crítica. Membro da APPERJ-RJ, UBE-RJ, IICEM e PEN Clube do Brasil, Rose segue nas feituras do seu próximo livro, Poemas de Aguçar Sentidos, com lançamento em breve. E vamos juntos, evoé!

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