METRÔ

Coluna de ROSE ARAUJO

METRÔ

de Rose Araujo

Uma jovem
de vestido lilás
e cabelo cor de céu
entra no vagão

ela claudica
até o assento
contorcendo-se em dores

ninguém a percebe
repara enxerga ou vê
quiçá cede lugar

apenas uma senhora
sem seu celular

 

Dirijo-me à estação do metrô Siqueira Campos, a mais profunda das estações cariocas: escadas rolantes, esteiras rolando e a costumeira corrida para alcançar o próximo embarque. Procuro o vagão cor de rosa, na garantia de uma viagem minimamente tranquila. O dia cede à tarde, que se apresenta efusiva e apressada.
Há pessoas agasalhadas ao modo carioca e também gringos distraídos nesse inverno sendo inverno na terra de São Sebastião.
Em meio a ponteiros e cansaços há mulheres e meninas, crianças e alguns homens também. Chama-me a atenção a cena cotidiana, descrita em meu poema, e traz-me a reflexão sobre o canto da sereia luminosa e piscante que a todos seduz: a empatia anda distraída, em meio as notificações, como se o mundo, em têmperas e temperos, se reduzisse a palma das nossas mãos.

ROSE ARAUJO 

Rose Araujo. Foto: Divulgação.

Conheça a coluna de Rose Araujo

 

 

Author

Londrinense-carioca, poeta de inspiração e designer gráfico de profissão, Rose Araujo coordena o Espaço Cultural da CasAmarElinha, em Itaipu - carinhosamente batizada de ItaiPAZ - na Região Oceânica de Niterói- RJ. Realiza lives, saraus e entrevistas sob o projeto itinerante da Passarela da Poesia (@rose_araujo_poeta ), projeto premiado pela APPERJ-RJ e Troféu Arte em Movimento, onde já passaram significantes nomes da poesia contemporânea brasileira. Estreou com o livro Quando Vida Poesia (Editorial Casa, 2022) em precioso prefácio de Tanussi Cardoso e grande receptividade de público e crítica. Membro da APPERJ-RJ, UBE-RJ, IICEM e PEN Clube do Brasil, Rose segue nas feituras do seu próximo livro, Poemas de Aguçar Sentidos, com lançamento em breve. E vamos juntos, evoé!

24 comments

  • Querida Rose, há lirismo em sua prosa e poesia numa só conexão. O cenário urbano preenchido pelos personagens cotidianos nos servirá sempre de inspiração. Parabéns!

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  • Rose nos leva, através da sua reflexão poética , a atitudes cada vez mais presentes no nosso cotidiano.
    É a desumanização do ser humano.

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  • Lindo, minha flor! As pessoas perderam a essência da empatia, não olham mais pro seu próximo. É triste mas é a nossa realidade e você, como sempre, delicadamente definiu bem. Parabéns.

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  • Poema suave, mas duramente realista, como é o dia a dia corrido e urgente dos frequentadores do metrô. A necessidade imediata de empatia se faz presente.

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  • É uma bela cena, um recorte do cotidiano carioca.
    Rose Araujo “caça” poema no espaço da aparente normalidade.
    Parabéns, poeta!

    .

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  • Uma cena cotidiana. Invisível. Como quase tudo no meio da aglomeração urbana. Sólida profunda.

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  • Muito bonito e tocante, Rose querida! Admiro muito sua capacidade de dizer tanta coisa em poucas palavras. E diz muito!

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  • No poema “Metrô”, Rose flagrou um momento em que o uso pervertido da tecnologia leva as pessoas a se tornarem indiferentes à sorte humana, insensíveis. Essa cena ela soube transformar e sintetizar em poesia, que nos move e nos comove.
    Parabéns, poeta!!

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  • Empatia distraída, mente anestesiada. Conexões que nos desconectam. Ah o cotidiano e suas camadas profundas!

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  • Rose
    Que lindo o seu olhar sensível e de amorosidade ao cotidiano. Você em uma parte de sua vida vivendo o aqui e agora. Se conectando com o momento presente, por isso canalizou esse lindo poema. Que venham mais poemas do cotidiano com esse seu olhar do momento presente. Parabéns, achei lindo ❤️

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  • Rose, seu poema é profundo. É a fala de muitos. Quantas dores alheias, viajam com a gente no metrô? Só a nossa própria dor é companheira e torturadora. Parabéns. Gostei de conhecer Artecult.com

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  • Mais uma vez colho uma belíssima pérola escrita pela nossa grande poeta Rose Araújo num texto e contexto comovente.

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