CONTO DE QUINTA: Tragédia felina

TRAGÉDIA FELINA

 

O gato preto e só. No muro. Ínfimo, um ponto escuro na vastidão. Azar, malogro, desdita, infortúnio, revés… O Sol no céu, verão abrasador. O gato preto e esquivo. Sem dono. Sem pausa nem paradeiro. O pau certeiro no couro do gato perfura a carne sem adversidade nem angústia, e a dor do gato preto atordoado não comove ninguém. O pau preciso no couro do gato. O riso, marfim exitoso e pleno, satisfação deleitosa do ato. O sangue turvo do gato preto colore o muro e goteja o chão: expirar é apenas questão de sina.

 

 

 

 

CÉSAR MANZOLILLO

 

 

 

 

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Author

Carioca, licenciado em Letras (Português – Literaturas) pela UFRJ, mestre e doutor em Língua Portuguesa pela mesma instituição, com pós-doutorado em Língua Portuguesa pela USP. Participante de vinte e quatro antologias literárias. Autor do livro de contos A angústia e outros presságios funestos (Prêmio Wander Piroli, UBE-RJ). Professor de oficinas de Escrita Criativa. Revisor de textos.

5 comments

  • Um conto curto, forte , em defeza da vida e além de tudo uma bela construção literária! Observem que o uso de só , logo no início , nos remete a tantas ideias, por exemplo: gato único no local, gato sentindo-se solitário, apenas o gato preto ( que enfrenta o preconceito das crendices), apenas o gato para dramatizar. E por aí vai…
    Parabéns, querido contista Manzolillo!

    Reply

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