CONTO DE QUINTA: Top model

 

TOP MODEL

 

Ele postou-se diante dela impressionado com sua beleza. A delicadeza dos traços, o cabelo ruivo e sedoso na altura do ombro, a boca carnuda adornada pelo batom vermelho. O percurso a ser vencido seria de aproximadamente 500 metros. Depois de refletir um pouco, decidiu que deveria carregá-la no colo. Com todo cuidado, seria péssimo se lhe causasse algum dano. Puseram-se em marcha devagar. As calçadas cheias de gente e de vendedores ambulantes dificultavam o deslocamento. No meio do itinerário, a caminhada precisou ser interrompida. Ao apoiá-la no chão, percebeu que o seio esquerdo dela ameaçava furar o decote. Nesse momento, sentiu uma vontade quase incontrolável de beijá-la. Conteve-se. Seria ridículo ser flagrado naquela situação, especialmente por algum amigo ou familiar. Trajeto retomado, agora com atenção redobrada para que a barra do vestido de crepe não arrastasse no chão. Diante da loja, o destino final, eles param. Ainda um pouco ofegante, ele escuta a bronca do gerente:

— Poxa, Waldemar, que demora! Vamos logo, só falta essa aí na vitrine!

 

 

CÉSAR MANZOLILLO

 

 

 

 

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Author

Carioca, licenciado em Letras (Português – Literaturas) pela UFRJ, mestre e doutor em Língua Portuguesa pela mesma instituição, com pós-doutorado em Língua Portuguesa pela USP. Participante de 32 coletâneas literárias. Autor do livro de contos "A angústia e outros presságios funestos" (Prêmio Wander Piroli, UBE-RJ). Professor de oficinas de Escrita Criativa. Revisor de textos. Toda quinta-feira, no ArteCult, publica um conto em sua coluna "CONTO DE QUINTA", que integra o projeto "AC VERSO & PROSA" junto com Ana Lúcia Gosling (crônicas) e Tanussi Cardoso (poemas).

3 comments

  • Bem divertido o conto, mas, por outro lado, traz à discussão a questão dos relacionamentos com coisas, como robôs, hologramas e bonecas. Há quem até se case com elas. Seria solidão ou patologia? Abs!

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  • Engraçado!! Mas realmente é interessante a conotação citada por Rodolfo Guimarães anteriormente.
    Bem como a aparente ligação na relação baseada em uma aparente perfeição nesse nosso mundo tão constituído de imperfeições.

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