com Ana Lúcia Gosling
Um amigo veio de São Paulo, especialmente para a confraternização do grupo da escola. Leitor assíduo desta coluna, em certo momento, me perguntou, lançando a ideia: por que não falar do encontro dos amigos de escola?
Para o encontrão de fim de ano, mobiliza-se um maior número de pessoas. Recebemos amigos menos frequentes. Como ele, estava presente outra amiga, vinda da Espanha.
Sei esses encontros serem comuns, agora que as redes sociais reuniram pessoas afastadas há décadas. Nosso grupo se achara, antes, através de uma mobilização de colegas. Houve uma festa, pesquisando-se quem tinha o telefone de quem. Os primeiros encontros foram emocionantes, com muita saudade da época de convívio. Se, na lembrança, os semblantes jovens se fixaram, os rostos adultos nos desafiaram ao reconhecimento.
Nunca estive entre os populares da escola. Sentava à frente, era aluna mediana, gostava de Literatura e Gramática e era controlada pelos pais, com pouca liberdade para transgredir nas saídas com amigos. Fui a raras festas, não participei da viagem às cidades históricas, nunca senti paixonite por ninguém do colégio. Pensava que o reencontro não me traria tantas histórias. Impressionante como sim!
E a descoberta mais linda no centro da vida caótica: o que fomos, somos para sempre. Na retina dos amigos, permanecemos meninos ou adolescentes. O olhar do outro nos cobre de identidade e aceitação. Estamos com quem, ontem, passamos um trote juntos, lanchamos após uma festinha ou fizemos, secretamente, a lista dos mais bonitos do segundo ano. Descobrimos novos amigos entre os antigos, a partir das afinidades.
Temos mais proximidade com uns, mas todos temos, em comum, um tempo na história das nossas vidas. Mesmos personagens, mesmas frases ouvidas, mesmas ruas caminhadas na saída da escola até nossos caminhos se separarem na bifurcação. As aulas cabuladas, as brigas por causa do ar condicionado, os professores que nos davam medo, os que queríamos amigos. A diretora severa, o inspetor amável. A bola zunida pelo colega além dos muros, o cigarro fumado escondido e a piada escrita na porta do banheiro.
As implicâncias e os apelidos ressuscitam. Sentimos alegria ao revelar o que nos matava de vergonha: uma paixão enrustida, um beijo roubado, a cola na prova de Matemática. Décadas depois, fatos julgados graves no passado são inexistentes; a alegria os sufoca, mesmo com nossos olhos molhados.
Rimos por nos conhecermos além da pele. A servidora pública expunha poema em cartolina na parede do pátio. O cara de TI tocou numa banda no sarau. A advogada torcia/torce, intensamente, pelo Fluminense. O apresentador de eventos desconhecia os suspiros das meninas por ele. Voluntário e palhaço numa ONG, um outro tocava baixo na ATG.
Os primeiros sonhos na vida (profissionais, românticos, aventureiros) elaboramos entre as mesmas paredes que nos abrigava. Juntos, partimos dali para os primeiros passos adultos. Houve muitos dezembros em nossas vidas. Com vitórias e fracassos, despedidas, rompimentos, alianças e novas sementes. Lutos, finais felizes, amores eternos, novas gerações.
Neste dezembro, nossos abraços revezam alegria e consolo. Tiramos uma foto. Dez anos à frente, ao olhá-la, ainda seremos meninos, como nunca deixamos de ser.
DICAS DA SEMANA:
Literatura Infantil: Para quem estiver em Belo Horizonte, no dia 07 de dezembro, o autor Luiz Antonio Aguiar lançará seu mais novo livro, “Dona Lua Dourada”, na Livraria Jenipapo, às 10h, pela Editora Dimensão.
Além de sessão de autógrafos, haverá bate-papo com o autor.
O enredo: Dadá e Dazinha, duas irmãs, temperamentos diferentes, com 8 e 4 anos, foram passar férias na casa da Vovó das Arábias e do Vovô Tranquilo e lá viveram aventuras e ouviram muitas histórias.
Para quem não puder estar com o autor no dia 7, as informações sobre o livro, preço e forma de aquisição estão no link da Editora Dimensão, a seguir: https://editoradimensao.com.br/products/dona-lua-dourada
Ação solidária: O Núcleo Assistencial Casa do Caminho, localizado na Rua Martim Afonso de Souza, 25, Jardim Santa Júlia, Jundiaí, SP, realiza projetos sociais há mais de 20 anos.
Neste momento, estão com campanha de venda de camisetas para mostrar apoio solidário às diversas causas abraçadas. Há modelos em branco e em preto, para escolha. Cada camiseta comprada reverte diretamente para projetos e iniciativas solidárias da casa.
Para adquirí-las, entre em contato pelo WhatsApp (11) 96355-0092.
Se quiser conhecer o trabalho do Núcleo, siga sua página no Instagram: @nucleocasadocaminho
Música: A banda Illusion Cat lançou, na semana passada, seu mais novo single, chamado “Adeus”, em todas as plataformas digitais. O single é a primeira canção cantada em Português pela banda, que, anteriormente, lançou o álbum “The Sinner and The Paradise Garden”.
A banda de indie rock é formada por Carlos Eduardo Areias, Luigi Gosling, Gabriel Bordalo, Rodrigo Pinheiro e João Chequer.
Quer conhecer mais sobre a banda? Há matéria aqui no Artecult, com entrevista e links para os vídeos e músicas da banda. Para ler, clique em https://artecult.com/adeus-banda-autoral-illusion-cat-lanca-seu-primeiro-single-em-portugues/.
Confira as colunas do Projeto AC Verso & Prosa:
com César Manzolillo
@Ana Lúcia CdE como você escreve e descreve bem!!!!
Não poderia ter descrito melhor o encontro do CdE junto com todas as emoções e lembranças da época do nosso colégio!
Já começa muito bem com o título “SOMOS PARA SEMPRE”. Não tem coisa melhor que a amizade da qual todos nos vivenciamos e dividimos juntos! Mesmo tendo, em certas vezes, mais contato com um que de outro amigo, juntos percebemos que isso não fez/faz a menor diferença!
Ana Lucia cirúrgica, mais uma vez!…
Ao descrever a “forma” da vida escolar, e ao evidenciar o “conteúdo” das relações de então, e de como elas ajudaram a forjar os adultos que hoje somos. Felizes somos os que encontram afeto, acolhimento e alegria nos encontros com os amigos de escola.
Valeu, Aninha!