
Com Ana Lúcia Gosling

Imagem: Planet Volumes, em Unsplash
À amiga, contou o arrependimento por enviar mensagem, depois de um encontro, estreitando laços com quem, parece, não se imaginava tão próximo dela.
Sua frustração era meio infantil. Custava-lhe acenar e ser ignorada. Mas, adulta, recuperava-se, fácil: sabia serem parte da vida encontros e desencontros, interesses de um não ressoando no outro. “Para quantos deixamos de abrir-nos por um ou outro sinal de ser melhor deixar como está?” Se acontecia com ela, aconteceria com qualquer um.
Arrependia-se de ter puxado, no encontro, um assunto polêmico. O rapaz, conhecido em ambiente diferente, podia ter-se surpreendido com sua opinião. Tentava perdoar-se. Uma série de combinações de histórias, ambientes, referências, momento social atual, formam as opiniões como expressão de um sentimento real. Daí ser tão difícil encaixar-se num mundo polarizado, de ideias cristalizadas, engajadas com valores muito determinantes (“certo ou errado”, “bem ou mal” etc): os pensamentos mudam, mudam os tempos, as pessoas, também, a partir de suas experiências; e os fatos são certezas relativas, se observados de diferentes ângulos.
A amiga discordou, por achar a vida mais simples: deu ou não deu liga. Há pessoas que se admiram, cujo desejo morre no primeiro beijo. Outras não se imaginam juntas e a atração acende no som de uma gargalhada. Achava bonito pensar as relações nascidas de encantamento. Mas, àquela altura da vida, suas escolhas passavam pelo equilíbrio entre a curiosidade e a análise do risco do negócio. Coisa de quem, após muito murro em ponta de faca, sabe ser feliz no seu cantinho, afastada dos que consumiriam, em vão, sua energia – amores, família, amigos – sem dar, em troca, mínima atenção.
“O amor não espera nada em troca”. Caô!, reagiu à afirmativa. O gesto amoroso pode ser espontâneo, impulsivo, motivado pela chama. Mas amar e não querer ser amado de volta? Não existe. Mesmo não exigindo alianças, o amor sela, ao menos, um compromisso: respeito ao sentimento devotado.
Derrotada, a outra lhe rotula: “visão amarga”! Ela resiste: “ao contrário!”. Não há amargura em entender os fracassos e desencontros comporem o jogo da existência, insistindo-se na felicidade, buscando nova gente, novos encontros. Morbidez há num romantismo adoecido, esperando ser relevante para quem se desinteressa de você.
Era pessoa de amar para sempre quem pertencia a sua vida. De cuidar e preocupar-se, rir e angustiar-se junto. Não sentenciava como indiferença a falta de tempo para um “joinha”, como resposta; a vida é cheia de intercorrências, afinal. Mas não marcaria passo: se, de lá, não vinha entusiasmo, aqui, a vida urge e a seduz.
A amiga fingiu dobrar-se à lógica do argumento. Checaram as mensagens. Juntas, pediram um sorvete.


Confira as colunas do Projeto AC Verso & Prosa:
com César Manzolillo














Diz pra amiga: bem-vinda as tentativas frustradas de se interessar por alguém. Rs. Eu respondo por mim, tô cansada. Desisti total. E olha que nem penso em me casar de novo, mas anda de mal a pior até um encontro casual. A conversa não flui, os joguinhos se fazem cada vez mais presente e eu com 50 anos não tenho nenhuma paciência e desinteresse total em conhecer alguém. Tenho preguiça, juro mesmo. Eu me interesso muito mais pelas histórias dos outros (como essa) do que tentar me relacionar com alguém.
Não perca a esperança, Vivi! Há muita gente bacana por aí. Mas, sim, a fluidez das relações está cada vez maior e mais aceita como “normal”. Mas o amor, quando nos pega de jeito, nos faz esquecer as regras que impomos rs
Obrigada pela leitura, querida.
Ana, sua obra é um espelho das nossas próprias emoções: arrependimentos, desejos, frustrações e encantamentos ganham vida em uma escrita envolvente e poética. Inspirador e humano, cada capítulo de nossas vidas é um convite a viver com mais consciência e ternura.
Nos valerá sempre nossa própria experiencia e posicionamento pessoal maduro. Ela sempre será nossa principal aliada, não é?
Paulo, querido, obrigada por sempre me acompanhar nos meus achismos e devaneios literários. Sim, a maturidade é um plus, um filtro pro que nos fará bem. Embora sempre haja a chance de o amor chrgar e embaralhar tudo rsrs
Ana, amiga querida! O que é certo ou errado? O que é melhor ou pior? As vezes a felicidade aparente é como as fotos do instagram, uma mera aparencia!
Sem embargo as frustrações escondidas, são a fortaleza e a luta de um amor ferido, mas com muita vontade de curar-se porque a base é verdadeira! A relação a dois é muito difícil, é um desafío constante…é a calmaria que entra na paixão, são os filhos e tudo o que constitui formar uma família, uff! É o tempo que acalma tudo ou adormece a rotina…enfim, cada um de nós sentimos a felicidade de maneira diferente, impossível de julgar ou de acertar cem por cento na opinião sobre a relação alheia. O belo na verdade é que cada um esteja onde queira estar, como queira estar e sentindo o que queira sentir. Porque repito, o que é melhor ou pior? Cada um de nós fazemos o melhor e damos o nosso melhor e isso ja é o suficiente!!! Nada mais importa❤️❤️❤️❤️❤️Nesta vida, estamos para dar amor e aí está a felicidade!!! Não precisamos mais!!!
Obrigada, amiga querida, por sua leitura e participação.
Sem dúvida! Pelo amor, vale investir todas as fichas, sempre. A cada um cabem as decisões e escolhas sem que ninguém de fora possa, de fato, avaliar nem julgar. O amor sempre vale amar!
O texto é sobre um momento anterior, o da paquera, sobre levar um perdido de alguém que nem se entrou na nossa história. Pra quem chega e ainda não se estabeleceu, os rigores são maiores rsrs