Eu te peço perdão por ter seguido outra direção, deixando para trás alguns dos teus sonhos. Por ter coberto de realidade o teu romantismo, para proteger-me da ilusão.
Eu te peço perdão pelo meu cinismo. Por, tantas vezes, ter deixado de acreditar nas coisas que havias aprendido. Por ter permitido ruírem os muros da casa onde, juntas, morávamos.
Por permaneceres imaculada, eu te suplico: para eu poder continuar, vem! Para os meus passos acharem a direção, vem! Para eu encontrar o sentido, vem! Para eu sorrir, dançar e amar, vem! Para minha escrita existir, vem!
Rogo a ti: não te escondas atrás das cicatrizes que carrego. Não me abandones, quando me vires despir a parte sem encanto da minha alma. Não desistas de mim. Sou a tua fé. Sou o teu amor pelas coisas do mundo. Sou o teu prazer pela descoberta. Sob as camadas de dor, sou tua crença transformadora. Sob as desilusões, teu poder de regeneração. Nas noites frias, sou os abraços que te envolveram. Nos dias de calor, teu corpo nu, beijado pela correnteza do rio onde te banhaste. No silêncio, sou tua canção preferida na vitrola da sala, quebrando o cinza da tarde. Na alegria, o som da tua risada, ao descer do escorrega.
Graças a ti! Sobrevivo porque estás em mim. No desemparo, abrigo-me na tua lembrança.
Por isso, imploro: segura minha mão. Ensina-me a dar esperança aos filhos. Relembra-me dos mimos recebidos para não cansar-me o cuidado com os pais. Abre as páginas de uma nova história, se choro um amor perdido. Semeia sonhos em mim, se vir-me sepultar um objetivo. Cuida para que eu durma acreditando no despertar.
Que tua mente mantenha frescos meus pensamentos. Que meu corpo recupere o fôlego, diante da tua mocidade. Que aceites minha malícia como proteção, mas a impeças de pôr freio nos teus instintos.
Eu te prometo ser feliz com o que me ofereceres. Eu te prometo acreditar, superar a minha descrença. Prometo te sorrir no fim do dia e não esquecê-la no fundo da memória. Escrever as histórias que tua imaginação, um dia, sonhou. Espalhar pelo mundo a tua inocência. Prometo seguir até o fim, sem desistir da jornada fatigante. Prometo que voltarás através de mim e permanecerás além.
Divina alma consoladora, que teu sorriso se confunda com o meu; que teu olhar se revele em meus olhos; que tua esperança se renove em meus gestos.
Eu te peço: resgata-me! E eu te darei a eternidade em vida.
DICA DA SEMANA:
Hoje, quarta-feira, 10/7/2024, Rita Von Hunt, Tom Grito e Ramon Nunes Mello estarão juntos na edição de julho do Clube de Leitura CCBB 2024, mediados pela querida Suzana Vargas, debatendo Literatura e Identidade de Gênero. O encontro acontece no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro.
O objetivo é refletir sobre a complexidade da representatividade, quando se trata de arte e, principalmente, de literatura. O tema busca também incentivar a leitura e pensar sobre o mercado editorial para autores não-cisgênero.
O público escolheu para ler neste ciclo o livro de Tom Grito Eu sei como sair vivo disso. Tom se diz orgulhoso de estar em contato com pessoas que leram o livro e poder ouvir a partilha delas sobre como os textos as atravessam. “É uma oportunidade bonita essa troca”, diz, ao reforçar a importância de abordar literatura e identidade de gênero, que afeta diretamente na redução do preconceito e na possibilidade de pessoas trans serem vistas como pessoas “normais”: profissionais, escritores, poetas. Rita completa: “fico feliz em ver, expressada na vontade das pessoas, uma das máximas de Raymond Williams sobre a cultura ser capaz de avaliar a diagnosticar as ideias com sementes de vida. Este é um lindo momento de plantio e colheita destas ideias”.
Para Suzana Vargas a ideia é compreender mais amplamente esse momento da arte e da literatura. Ela questiona se a criação de histórias, poemas e outros textos literários depende do gênero de quem fala. Em outras palavras, “de que modo a identidade de gênero reflete e determina a criação?”, provoca a curadora e mediadora do Clube.
SOBRE O LIVRO
Eu sei como sair vivo disso: Neste livro de 2023, Tom Grito reúne seus textos orais , falados em praças públicas, em recitais para bem mais de 100 pessoas. São poemas longos, cartas, bilhetes trocados com outros poetas e faz uma coisa rara na literatura: questiona a própria poesia como uma espécie de não-lugar , no sentido da sobrevivência material. Poemas sobre a pandemia e sobre seu modo de ser poeta estão nesta obra.
O encontro com Tom Grito, Rita Von Hunty e Ramon Nunes Mello acontecerá no dia 10 de julho de 2024, às 17h30, na Biblioteca Banco do Brasil, 5º andar, do CCBB RJ, com entrada gratuita. O Clube de Leitura CCBB 2024 conta com o patrocínio do Banco do Brasil.
Os vídeos dos encontros ficam disponíveis, na íntegra, no YouTube do BB. O projeto vai até dezembro de 2024 e sessões anteriores já estão disponíveis.
SERVIÇO:
Clube de Leitura CCBB 2024 – Literatura e Diversidade
Com Tom Grito, Rita von Hunty e Ramon Nunes Mello
10 de julho de 2024 – às 17h30
Evento Gratuito – Classificação indicativa: Livre
Ingressos disponíveis na bilheteria do CCBB ou pelo site bb.com.br/cultura a partir das 9h do dia do encontro.
Centro Cultural Banco do Brasil
Rua Primeiro de Março, 66, Centro, Rio de Janeiro.
Biblioteca Banco do Brasil – 5º andar
Contato: 21 3808-2020 | ccbbrio@bb.com.br
Dica fornecida por DEDICATA ASSESSORIA & CONTEÚDO – (21) 3507-0462 Andréa Drummond – deadedicata@gmail.com
Confira as colunas do Projeto AC Verso & Prosa:
com César Manzolillo
Lindo! As suas palavras.me levaram para momentos bem distantes mas saudosos!
Obrigada pela leitura, Natália!