Estou mais para burocrata do que para artista, preciso confessar. Há anos, escolhi o serviço público como caminho seguro, diante da necessidade urgente de independência financeira.
Hoje, trinta anos depois, tendo encontrado motivação e alegria nos ambientes de trabalho em que sempre estive, celebro os anos dedicados a prestar um serviço bom à população. Orgulho-me das minhas escolhas. Deram-me o chão para eu construir a casa onde pude voltar a sonhar, abrigar uma família, alimentar projetos do meu filho, ajudar minha mãe no final de sua jornada. E seguir seguindo.
Mas as letras e a dança, combustíveis da minha alegria original, nunca me abandonaram. A vocação não passa ao largo, segue abraçada ao nosso coração. Nesse momento, resolveram atropelar-me, juntas, com surpresas e realizações.
Quem vem aqui, sabe que participarei do espetáculo “Gingers, uma Obra de Arte do Tempo” nos dias 25 e 26 de Outubro. Sou uma amadora realizando o sonho da menina que amava dançar mas fechava as janelas para não ser vista, por ser tímida. Não é sobre dança, embora também seja. É mais sobre o que podemos fazer na vida, como encontrar a alegria num mundo que nos testa frequentemente e, acima de tudo, é contra o etarismo e a ideia de que há cronologia para a felicidade, quando não há.
Não bastasse a alegria dessa realização, na semana passada, uma honra me cobriu o caminho das letras. Fomos indicados, os três colunistas do AC Verso e Prosa, para recebermos o Troféu Arte em Movimento, concedido pela Comissão APPERJ (Associação de Poetas do Estado do Rio de Janeiro). Vamos todos, mãos dadas, peito cheio de ternura e gratidão, receber esse carinho a nossa editoria de Literatura, abrigada neste portal de arte e paixão, prestigiada por leitores generosos.
Há pouco mais de dois anos, a minha coluna “Às Quartas” inaugurou o projeto. O mote era termos mais um espaço para o texto literário. Pessoalmente, eu exercitava a verve pulsante, repleta de ideias, e a ternura com que meu olhar cobre o mundo. Ter, na sequência, Cesar Manzolillo e Tanussi Cardoso a bordo, com seus contos e poemas, respectivamente, tem sido um privilégio.
Não sei quantos se debruçam sobre nossos textos semanalmente. A chegada de uma devolutiva positiva faz tudo valer a pena. Nada há de mais mágico do que tocar um coração. Quando se pareiam os sentimentos, então, é luxo puro.
Eu dizia ser difícil ser artista quando se é um burocrata, um executivo, algo do tipo. Nosso editor e CEO, o querido Raphael Gomide, precisa, por exemplo, de um dia de 48 horas para comprar e dar conta de todo o trabalho do portal e do seu particular, que sustenta, entre outras coisas, o sonho de existirmos. Ninguém apareceu, ainda, vendendo as horas inexistentes mas continuamos depositando ideias a seus pés.
Temos muito projetos, muitos desenhos parados à espera de tempo ou pessoal. É frustrante precisar engavetá-los, às vezes. Mas há dias, como aquele em que nos chegou a notícia do Troféu, em que o esforço a mais, as horas perdidas de madrugada, o sono adiado para o texto chegar à página encontram todo sentido no mundo. Basta-nos um dia de afago à alma de artista para que tenhamos a certeza da boa semente, do bom caminho, da boa escolha.
Obrigada, APPERJ, por esse carinho.
Obrigada, Cesar e Tanussi, por me manterem por perto.
Obrigada, Raphael, por ser-nos inspiração de trabalho e de sonho.
Confira as colunas do Projeto AC Verso & Prosa:
com César Manzolillo