– Hei!
– Shhhh.
– Estou chamando o moço do coco.
– Você tem que ir lá. Ele não vende na areia.
– Pra mim, ele vende.
– Um absurdo o preço do coco aqui. 8 reais!
– Eu não tenho um coqueiro em casa. Você tem?
– Ih…
– Estou com sede. Deixa eu tomar minha água, homem.
– Precisa ser de coco?
– Não acredito que você vai controlar até a água que eu bebo.
– “Até”? Como se eu te controlasse.
– Você tenta. Ah, tenta.
– Vou dar um mergulho.
(…)
– Hei!
– Tava esperando tu me chamar.
– Poxa, achei que não traria esse coquinho pra mim. Esperou o mala cair no mar, é?
– Fica quieta. Olha ele vindo.
(…)
– Brrr! Mar gelado demais!
– Não vai se desculpar?
– Por quê? Porque o cara trouxe o coco?
– Por estar sempre errado.
– Por favor, Andrea. Ah, sim, as mulheres estão sempre certas.
– As mulheres, não sei. Eu estou certa.
– Tá docinho?
– Tá.
– Gelado?
– Hum-hum.
– Vou pedir um.
– Ué? Não era um absurdo?
– Deixa de ser chata.
– O que você disse, Claudio?
– Vou pedir um coco.
– O que você disse aí?
– Psiu!
– Ô, Claudio! Chata é a senhora sua mãe!
– Pára, Andrea! Todo mundo olhou.
– E daí?
– Daí que odeio escândalo. Você sabe disso.
– Você me odeia, é isso? Me odeia porque sou escandalosa?
– Eu não disse isso. Disse que odeio quando você, qualquer pessoa, faz escândalo.
– Você não me paga nem um coco. Você acha que não valho 8 reais!
– Não faz drama. Só falei que o preço é abusivo.
– Não valho 8 reais…
– Você sabe que valhe muito mais. Nossa!
– Você não me chama pra mergulhar.
– Você queria mergulhar?
– Não, Claudio. Eu detesto água fria. Mas eu quero que você me chame. Você não me quer?
– Quê?
– Quer?
– Eu…eu…te quero.
– Não parece. Você nem notou a tatuagem.
– Que tatuagem?
– A que eu fiz pra você.
– Pra mim? Eu nem gosto de…
– A letra C de Claudio, um coração, a letra A de Andrea. Quer ver?
– Onde?
– No cóccix.
– Não vai mostrar aqui, né?
– Tá vendo como você é? Faz dias que você não vê meu cóccix. Nem sabia da tatoo.
– Em casa, eu vejo. Prometo.
– Sei.
– Estranho. Aceno e o cara do coco não vem.
– Deixa pra lá.
– Qual é o nome dele mesmo?
– Clayton.
– Hei, amigo! Clayton!
– Deixa… Não quer um picolé? Ali, o moço do picolé!
(…)
– Ah, valeu, irmão! Obrigado pelo coco! Toma aqui, trocado. Caramba! Doeu pra fazer todas essas tatuagens? Essa avermelhada é nova?
– Pode ir, rapaz, obrigada.
– Um coração e um…A? Um C…? De Clayton, imagino. Andrea, me explica isso!
– Que foi, Claudio? Nunca viu um coração antes? Deve ser porque você não tem coração. Eu tenho culpa disso? Me diz! Que culpa eu tenho de você não ter um coração?
– Sem gritaria. Tá todo mundo olhando.
Confira as colunas do Projeto AC Verso & Prosa:
com César Manzolillo
Crônica deliciosa! Humor e sarcasmo contra a hipocrisia. Parabéns!
Obrigada, Tanussi, pela leitura e pela devolutiva!