Analógico Lógico: As câmeras, sua evolução e caraterísticas – Parte 1

Dixitque Deus: Fiat Lux! Et facta est lux” (e Deus disse: faça-se a luz! E a luz foi feita; Livro do Gênesis).

A captação da luz para a produção de uma imagem é uma ideia muito antiga. Muito antiga, mesmo. Há muitos séculos, notadamente no oriente, já se conhecia o conceito de Câmara (e não câmera) Obscura. Um determinado local, inicialmente (daí o nome câmara, do Latim, quarto) em que, através de um diminuto orifício, a luz, penetrando nesse ambiente escuro, formaria uma imagem invertida na parede contraposta.

Isso serviu para muitos estudos iniciais sobre as propriedades da física óptica e a construção da imagem, tendo seu expoente ocorrido na Mesopotâmia, atual Iraque, na figura de Hassam Al-Haytam, considerado o pai da óptica moderna que, por volta do ano 1000 D.C., construiu, de maneira empírica, as primeiras teorias sobre óptica, que já existiam na China, sob forma de observação experimental, desde o Séc 4 A.C.

A câmara obscura

Do Período Pré-Histórico à Idade Média a câmara obscura era uma curiosidade que auxiliava a arte da reprodução do mundo natural, ao se pintar ou desenhar por cima desta imagem projetada, retratando-se o que era visto.

Posteriormente se passou a utilizar esse processo na evolução das ciências, para se começar a compreender fenômenos naturais, retirando-os do misticismo como, por exemplo, entender eclipses solares ao projetá-los em uma parede, permitindo, dessa forma, um gigantesco entendimento do mundo e do universo que nos permeia.

A partir daquele ponto se teve meios de quantificar, dosificar, de se entender o que era a luz e o seu comportamento. Então se iniciava a nova etapa desse processo, que era a sua captação.

Ora, há muito tempo se tinha conhecimento de determinadas substâncias que escureciam à exposição da luz solar, ou seja, substâncias foto sensíveis, tais como sais de prata, betume da Judéia e maçãs. Mas, por questões obvias, deixaram as frutas de fora e se ativeram aos sais, por serem bem mais práticos, digamos.

Dessa forma, no final dos anos 1700, diversos inventores, sobretudo na Europa, tentaram capturar a luz em forma de imagem, se valendo da câmara obscura que, deixando de ser do tamanho de um cômodo, se reduziu a uma caixa, a qual foi denominada de “pinhole” ou buraco de agulha, numa tradução direta.

Assim, ao se revestir um pedaço de vidro ou uma placa de cobre ou estanho com esses materiais fotossensíveis, tentava-se capturar a imagem refletida pela luz, dentro da câmara obscura. Um método que durava horas e, até mesmo, dias para ser concluído, com resultados variáveis.

Alguns, de fato, conseguiram produzir uma imagem, porém esta era volátil e em pouco tempo, sumia, não restando nada. Foi somente em 1825, como já vimos em nossos artigos anteriores, que Monsieur Joseph Niépce conseguiu realizar a primeira fotografia bem-sucedida da história, em uma exposição de cerca de oito horas, na qual utilizou uma placa de estanho revestido com betume da Judéia. Ao seu método, Niépce o nomeou como Heliografia ou, grafado pelo sol, em grego. Bacana, não?

Então, dessa forma, surge as bases do que entendemos, modernamente, como sendo fotografia: um dispositivo através do qual a entrada controlada da luz ao sensibilizar um meio qualquer, produz uma imagem fixada e reproduzível.

Assim, baseado nesse conceito, todas as câmaras obscuras começam a evoluir, passo a passo, mas sempre sobre esse tripé que nós vimos nos artigos anteriores: a entrada ou admissão da luz (abertura); a capacidade de apreensão, da sensibilização do meio fotossensível (substâncias fotossensíveis) e, finalmente, a capacidade de se permitir, por determinado período de tempo quantificável, a entrada dessa luz (velocidade de obturação).

Então, partindo dos primeiros experimentos bem-sucedidos, o método se desenvolveu e agora contava com meios de captação da luz e retenção da imagem produzida bem mais evoluídos chegando-se, assim, na primeira câmera, propriamente dita: a pinhole, mencionada acima, na qual a luz entrando pelo diminuto orifício ia sensibilizar uma emulsão aperfeiçoada de sais de prata sobre uma chapa metálica ou de vidro que eram, posteriormente, estabilizados por químicos fixadores, gerando a fotografia.

Um pouco mais tarde, percebeu-se que se poderia usar lentes ao invés do “buraco de agulha”, por estas trazerem, de cara, duas grandes vantagens: aumento considerável na velocidade de captura da fotografia, que passava de horas a alguns minutos, e melhora na nitidez e no contraste, ao se poder ajustar o foco e, posteriormente, ao uso de revestimento ótico no vidro, denominado: coating.

Mas isso implicava no fato de que as câmeras deveriam crescer para que se permitisse não só o uso das lentes mas, também, um meio de captação da luz com uma área maior. Então, eis que surge o segundo tipo de câmera: as grande formato.

Para que as lentes focalizassem corretamente, precisaria fazer com que essa imagem fosse, inicialmente, projetada numa superfície de vidro despolido ou opaco, o qual se permitia conseguir definir o foco desejado, ajustando-se a lente, através de uma helicóide, de um fole ou de ambos e, quando este foco era conseguido, fechava-se a lente, para impedir a entrada da luz no interior da câmera e se colocava a placa preparada, que era mantida dentro de um suporte a prova de luz, no interior da câmera.

Então, se retirava o anteparo da frente da placa e, a partir do momento em que o obturador da lente fosse acionado, a luz entraria e sensibilizaria essa placa, produzindo uma fotografia “volátil”.

Após isso, era novamente colocado o anteparo na frente da placa fotográfica, para se evitar a entrada da luz, e esta era retirada da câmera e levada para estabilizar a imagem volátil, através de produtos químicos, em uma sala escura, em um processo chamado quase que biblicamente de: revelação (entra coro de anjos), tendo como resultado final, uma fotografia. Bacana, não?

Então percebemos que a fotografia clássica é, como se diz em Direito, um processo, no qual atos obrigatórios e sucessivos geram, como resultado final, uma imagem.

Espero que tenham gostado e não percam a eletrizante continuação na próxima semana. E não deixem de acompanhar o meu querido e foférrimo canal Analógico Lógico!, no YouTube. Toda semana um vídeo Super Horror Show para você que acha que fotografia é bem mais que apertar um botãozinho. Um grande abraço e boas fotos!

VITOR OLIVEIRA

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Author

Vitor Oliveira é dono de uma visão poética sobre a vida e o mundo que o permeia. Fotógrafo experiente e autodidata, fotografa desde os 10 anos de idade influenciado por seu avô, o pintor paisagista Altamiro Oliveira, de quem, além da pintura clássica, o influenciou no desenho e na literatura, arte que exerce escrevendo romances ambientados no submundo de uma São Sebastião do Rio de Janeiro do final do Séc XIX e começo do Séc XX que não mais existe. Pesquisador de métodos, técnicas e equipamentos fotográficos e colecionador, Vitor Oliveira fotografa principalmente em película, por considerar que, após quase 200 anos de evolução desta forma de arte, esta ainda oferece os melhores resultados, ao depurar a técnica artística, quase que alquimicamente. Sendo um dos únicos fotógrafos de nível mundial a participar, usando filme, no maior concurso fotográfico do mundo, o Sony World Photography Awards, da World Photography Organization, Vitor Oliveira inaugura seu Canal Analógico Lógico!, no YouTube, através do qual procura compartilhar um pouco de uma aprendizagem que nunca finda. Hare Hare! Canal Analógico Lógico! : https://youtube.com/channel/UCom1NVVBUDI2AMxfk3q8CpA Video de abertura: https://youtu.be/N_cuYPi6b4M

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