Homenagem : Adeus a Thiago de Mello

Thiago de Mello. Foto: Fábio Rossi/O Globo

 

Faz escuro mas eu canto

Faz escuro mas eu canto,
porque a manhã vai chegar.
Vem ver comigo, companheiro,
a cor do mundo mudar.
Vale a pena não dormir para esperar
a cor do mundo mudar.
Já é madrugada,
vem o sol, quero alegria,
que é para esquecer o que eu sofria.
Quem sofre fica acordado
defendendo o coração.
Vamos juntos, multidão,
trabalhar pela alegria,
amanhã é um novo dia.

(in “A Madrugada Camponesa”, 1965)

Nosso coração está triste com a partida do poeta Thiago de Mello no dia 14.01.2022. Mas, também, grato por sermos contemporâneos de sua arte, da sua voz tão identificada com a natureza humana, e dos seus versos, ora líricos, amorosos, ora a serviço do social.

Poeta, editor, tradutor, jornalista e diplomata, Thiago de Mello pincelava sua poesia com os regionalismos amazonenses, inspirando nos leitores quadros protagonizados pela população ribeirinha, pelos cenários deslumbrantes da mata, pela solidão e pela paixão do homem, sem deixar de falar de generosidade, solidariedade e dos valores simples e essenciais ao homem.

Seu poema mais famoso, inclusive internacionalmente, é “Os Estatutos do Homem”, em forma de decreto, escrito após o golpe de 1964. Uma resposta amorosa à repressão da época.

O poeta, sem abrir mão de seu regionalismo em toda sua vida literária, tornou-se um poeta universal e reconhecidamente um homem de valor na luta pelos Direitos Humanos.

Fã do poeta, esta colaborada escreveu um texto em sua coluna baseado no poema “Para repartir com todos” (in “Mormaço na Floresta”). O texto pode ser lido no link http://artecult.com/poesia-e-interdependencia/.

Para homenageá-lo, entretanto, selecionamos um dos vídeos da galeria da nossa campanha “Para a Gente Lembrar da Poesia da Vida” (#ParaAGenteLembrarDaPoesiaDaVida) para dar voz à poesia desse ícone da nossa literatura:  “As Ensinanças da Dúvida” (in “Mormaço na Floresta”).

 

Author

Ana Lúcia Gosling se formou em Letras (Português-Literatura) em 1993, pela PUC/RJ. Fixou-se em outra carreira. A identidade literária, contudo, está cravada no coração e o olhar interpretativo, esgarçado pra sempre. Ama oficinas e experimenta aquelas em que o debate lhe acresça não só à escrita mas à alma. Some-se a isso sua necessidade de falar, sangrar e escorrer pelos textos que lê e escreve e isso nos traz aqui. Escreve ficção em seu blog pessoal (anagosling.com) desde março de 2010 e partilha impressões pessoais num blog na Obvious Magazine (http://obviousmag.org/puro_achismo) desde junho de 2015. Seu texto “Não estamos preparados para sermos pais dos nossos pais” já foi lido por mais de 415 mil pessoas e continua a ser compartilhado nas redes sociais. Aqui o foco é falar de Literatura mas sabe-se que os processos de escrita, as poesias e os contos não são coisa de livro mas na vida em si. Vamos falando de “tudo” que aguçar o olhar, então? Toda quarta-feira, aqui no ArteCult, há texto novo da autora. Redes Sociais: Instagram: @analugosling Facebook: https://www.facebook.com/analugosling/ Twitter: https://twitter.com/gosling_ana

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