TANUSSI CARDOSO: O poeta, dono de sólida e extensa carreira, é o convidado desta semana do AC Encontros Literários

 

Tanussi Cardoso (@tanussicardosooficial) é carioca. Graduado em Direito e Jornalismo, é também contista, crítico literário, compositor e tradutor. Tem poemas publicados em mais de 10 países. Alguns foram traduzidos para o inglês, francês, espanhol, italiano, russo e esperanto. Vencedor de mais de 40 prêmios nacionais e internacionais, tem 13 livros de poesia editados. É membro do Pen-Clube do Brasil e da União Brasileira de Escritores. Foi presidente do sindicato dos escritores do estado do Rio de Janeiro.

Confira a entrevista exclusiva que preparamos pra você.

 

ArteCult: Como a Literatura entrou na sua vida?

Tanussi Cardoso: Cresci com as músicas cantadas por minha mãe, Carmen, e pelos poetas que meu pai, José, recitava nas reuniões familiares: Olavo Bilac, Castro Alves, Álvares de Azevedo, Augusto dos Anjos etc. Também lia muito Monteiro Lobato e todos os gibis da época, além de ouvir os musicais e as novelas da Rádio Nacional. Então, acredito que o prazer da leitura e da literatura em mim tem ruídos na minha infância, principalmente, desse aprendizado “de ouvido”, com os poetas de meu pai e com as músicas e as histórias da minha mãe, além do que ouvia nas rádios da época. Penso que é dessa lembrança, dessa memória afetiva, que nasceu a minha poesia e o meu gosto pela música. Foi dessa raiz que cresci e me tornei o homem e o poeta que sou hoje. Portanto, esse meu gosto pelas artes, literatura, poesia, música e cinema, tem esse sentimento embrionário.  Mas, creio que o prazer estético da poesia aconteceu quando descobri, lá pelos 15 anos, o poeta Vinicius de Moraes, minha primeira grande influência literária. Foi Vinicius que, em definitivo, plantou em mim a semente da poesia e da literatura.

 

AC: Especificamente com relação ao ofício de escrever, que procedimentos costuma adotar? Escreve todos os dias? Reescreve muito? Mostra para alguém durante o processo?

TC:  Não, não escrevo todos os dias; às vezes, fico tempos sem produzir nada, como se nunca mais fosse conseguir, e, de repente, volto a escrever muito. Antes, isso me angustiava; hoje, compreendo que as palavras, os versos, os poemas só estão em silêncio, esperando a hora de saírem do esconderijo. Acho que cada texto tem seu próprio tempo interior e, assim, não torturo a criação. Portanto, não tenho regras para meu ofício. Quando acontece, trabalho os poemas à exaustão e, eles próprios, no nascedouro, me indicam os caminhos a trilhar. Como dizia Gullar, minha poesia nasce do “espanto” e, claro, da magia existente no desconhecido; como uma explosão de estrelas. Nasce “no” e “do” Mistério. Cabe a mim, então, aceitá-la e abraçá-la. É claro que processar e reprocessar o texto é essencial.  Sem essa depuração cerebral, intelectual, dificilmente uma poesia se equilibra. Mas há poetas que trabalham diariamente e criam poemas belíssimos. Eu não consigo. Na maioria das vezes em que tentei fazer do meu prazer uma obrigação, o texto saiu triste, carrancudo, ruim, como se nascido a fórceps. Assim, admiro quem consegue se sentar e escrever todos os dias, mas não é o meu caso. Então, meu processo de criação se traduz, logo que o “espanto” me toma e a “luz” se faz, em debruçar-me sobre as palavras, tal qual a mãe se debruça sobre o filho, ou o toureiro guerreia com seu touro, e eu possa sentir a cadência, o ritmo, a harmonia e a sonoridade das palavras, geralmente lendo o poema várias vezes, em voz alta, para sentir como ele soa em meus ouvidos, já que, creio, minhas poesias, em sua maioria, são bem orais. Meu poema se escreve no ouvido. E é para minha irmã, Carmen Moreno, que envio quase todos os meus textos; enquanto ela não me dá o OK, não fico satisfeito. Sua palavra consciente, verdadeira, crítica, como excelente poeta que é, mas, sobretudo, sua maneira amorosa e companheira, dita a forma como encaro, hoje, a minha poesia e a literatura em geral.

 

Eu e outras consequências, de Tanussi Cardoso, foi lançado em 2017. Foto: Divulgação.

AC: No seu caso, de onde vem a inspiração?

TC: De tudo ou qualquer coisa, mas, principalmente, da leitura. Creio que ninguém consegue ser escritor, um bom escritor, sem ter lido muito – de tudo. A leitura, a memória e o sentido da observação são as maiores armas de quem escreve. E suas melhores “inspirações”. Mas, essa pergunta está meio incluída na anterior, e, como disse, a poesia, geralmente, me vem de súbito, como explosão, às vezes através de uma palavra; outras, de uma imagem que me absorve… Murilo Mendes dizia que “a poesia sopra onde quer”, e é verdade, ela vem de supetão, de improviso. Muitos dos poemas do meu livro Viagem em torno de, lançado em 2000, me chegaram através de sonhos, alguns praticamente prontos. Isso me lembra Jorge Luis Borges quando dizia que “a poesia está logo ali, à espreita. Pode saltar sobre nós a qualquer instante.” Acho que a isso chamam de “inspiração”, essa “sensação” poética, comum a todas as pessoas, mas que por si só não transforma ninguém em poeta, pois a esse cabe dar forma e linguagem a ela. Como disse Baudelaire, a inspiração “consiste em trabalhar todos os dias”.

 

AC: Como nasce um poema? E um livro de poemas?

TC: Ele brota dentro de mim, quase de maneira inconsciente. Ao nascer, surpreende o autor; depois, toma rumos inesperados, muitas vezes totalmente diferente do seu sentido original. Como já disse, são os próprios textos que me indicam como trabalhá-los. Eles têm personalidade própria. No meu caso, é estranho que, em geral, não é o sentimento de tristeza ou de alegria que me leva a escrever. Quando estou muito triste, não consigo escrever nada. Só quando me distancio da emoção. É como se eu represasse o sentimento, para colocar nele alguma dose de razão. Então, o poema fica hibernando, esperando a hora de surgir. Lógico que nem sempre acontece assim, mas, na maioria das vezes, ele tenta se sustentar nesse equilíbrio entre emoção e razão. Já o processo do livro é bem diferente, pois é totalmente racional, pensado, estruturado. Você tem que escolher um título que englobe as poesias como um todo e harmonizá-las de forma a dar-lhes unidade temática e formal. Diferentemente do poema, que nasce naturalmente, de forma espontânea, e só pertence ao autor, o livro é um parto futuro, que será transformado em um objeto, em uma mercadoria, que pertencerá ao seu leitor, seu comprador.

 

Viagem em torno de, de Tanussi Cardoso. Foto: Divulgação.

AC: O fantasma da página em branco: mito ou realidade? Isso acontece com você? Em caso afirmativo, como lida com a questão?

TC: Creio que esta questão foi analisada na pergunta número 2, onde digo que esse fantasma não me afeta.

 

AC: Na sua opinião, quais são os 3 poetas brasileiros que todo apreciador de poesia deve conhecer? E os 3 poemas?

TC: Só três poetas é, praticamente, impossível, mas citarei alguns que já nos deixaram e que foram muito importantes na minha formação poética: Ana Cristina Cesar, Afonso Félix de Sousa, Cacaso, Cairo de Assis Trindade, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Cláudio Leal Cacau, Fernando Py, Ferreira Gullar, Gerardo Melo Mourão, Helena Ortiz, Hilda Hilst, Ivan Junqueira, João Cabral de Melo Neto, Jorge de Lima, Lêdo Ivo, Leonardo Fróes, Manoel de Barros, Manuel Bandeira, Marcus Vinicius Quiroga, Mário Quintana, Moacyr Félix, Murilo Mendes, Neide Archanjo (que acabou de nos deixar), Olga Savary, Reynaldo Valinho Alvarez, Rita Moutinho, Roberto Piva, Rodrigo de Souza Leão, Thiago de Mello (outro que partiu há pouco), Vinicius de Moraes e Wlademir Dias-Pino, entre tantos que nos deixaram órfãos de suas poesias. É claro que devo ter esquecido alguns nomes, e você deve estar me achando louco por ter nomeado tantos poetas assim. É que resolvi dar uma olhada na minha biblioteca de poesia, o que me ajudou a recordar emocionalmente vários deles. Quanto aos poemas, leio e releio, sempre que posso: “O operário em construção”, “Soneto de separação”, “A rosa de Hiroshima”, “Dia da criação”, de Vinicius de Moraes; “Morte e vida severina”, “Catar feijão”, “A educação pela pedra” e “Tecendo a manhã”, de João Cabral de Melo Neto; “Os estatutos do homem”, de Thiago de Mello; “I-Juca Pirama”, de Gonçalves Dias; “Morte do leiteiro”, “Caso do vestido”, “E agora, José?” e “A flor e a náusea”, de Carlos  Drummond de Andrade; “Motivo”, de Cecília Meireles; “Poema sujo”, de Ferreira Gullar; “Desencanto”, de Manuel Bandeira; “Essa negra fulô”, de Jorge de Lima… Acho que poderia ficar aqui, preenchendo todo esse espaço indefinidamente… E não falei dos estrangeiros, nem dos que, felizmente, ainda estão aqui conosco…

 

Viagem pela escrita, coletânea poética em homenagem a Tanussi Cardoso. Foto: Divulgação.

AC: Fale um pouco dos livros que já publicou até hoje.

TC: Tenho 13 livros de poesia publicados. Geralmente, o carinho é jogado para o mais recente, Eu e outras consequências, lançado em 2017, que recebeu o Prêmio Manuel Bandeira (UBE-RJ) em 2019. Tem um prefácio fantástico da grande poeta Astrid Cabral, posfácio do amigo e poeta Ricardo Alfaya e orelha do mestre Affonso Romano de Sant’Anna. Gosto muito dele, desde a concepção ao trabalho excelente da editora Penalux (Guaratinguetá – SP). Penso que ele remete ao sentido do eterno, de que sempre estamos nascendo e renascendo. Talvez tenha a ver com o mito do “Eterno Retorno”, de Nietzsche. E, com certeza, remete também à “Lei da Simultaneidade de Causa e Efeito”, de que nos fala o budismo de Nitiren Daishonin. Ou seja, somos sempre nosso início e nossa própria consequência. Resumindo, é um livro onde falo da memória, do amor, do cotidiano, de Deus, isto é, da vida. Porém, não posso deixar de citar dois trabalhos anteriores, que me tocam também profundamente: Viagem em torno de, publicado pela 7Letras em 2000, com duas edições esgotadas, onde faço da minha poesia uma discussão lírica, elegíaca e emocionada sobre a vida e seu sentido de finitude. É um livro de imagens fortes, tendo como fundo principal a figura da Morte, mas que, apesar do tema, é esperançoso e humanitário. Salgado Maranhão, um de nossos maiores poetas, me deu a honra do prefácio. O livro recebeu o Prêmio Alap de Cultura e o Prêmio Capital Nacional – Poeta do Ano, do jornal O Capital, de Sergipe. E cito também Exercício do olhar, ed. Fivestar, 2006, com um alentado prefácio-ensaio do mestre Gilberto Mendonça Teles, que me deixou muito comovido, e a apresentação do romancista e crítico literário, Luíz Horácio Rodrigues. Talvez seja o meu livro mais bem acabado, técnica, formal, emocional e literariamente. Nele, creio, a dor é mais sutil, os versos menos derramados. Vislumbro certa linguagem cabralina, na sua secura, misturada ao lirismo e à oralidade, que fazem parte do meu fazer poético. Fala do olhar do poeta sobre as coisas ordinárias, do olhar que transmuda o comum e, sobretudo, fala do tempo e da memória, essa arma básica que todo escritor carrega consigo. O livro ganhou o Prêmio de Melhor Livro de Poesia de 2006 no Congresso Latino-Americano de Literatura. Em 2021, a Editorial Amotape Libros, de Lima, Peru, venceu um edital para tradução de livros do Ministério da Cultura de lá e publicou, naquele país, uma edição bilíngue (português-espanhol) do Exercício do olhar, com o título Ejercicio de la mirada, com tradução ao espanhol do poeta peruano Óscar Limache, o que me deixou muito feliz. Então, acho que esses três livros formam uma síntese do meu trabalho: Viagem em torno de, Exercício do olhar e Eu e outras consequências.

 

Edição peruana de Exercício do olhar, de Tanussi Cardoso. Foto: Divulgação.

AC: Projetos futuros: o que vem por aí nos próximos meses?

TC: Tenho algumas coisas pendentes. Costumo dizer que o tempo corre mais que minhas pernas e que 24 horas não cabem no meu dia; mas sei também que meu problema é a questão do foco, pois sou muito dispersivo. Então, trabalho é que não falta: tenho dois prefácios a terminar: para uma poeta estreante, aqui do Rio, e para um excelente escritor lá da Bahia, além de uma quarta-capa para um ótimo poeta carioca. Separo poemas para enviar para uma grande revista literária de Portugal e para dois grandes jornais de literatura brasileira. Estou com duas traduções para terminar: uma de um livro de poemas de um autor espanhol e outra de um livro de contos de um escritor boliviano. Há também textos para livros em homenagem a dois grandes escritores: Adriano Espínola e Antônio Torres. De projetos pessoais, trabalho em um livro novo de poemas, ainda sem título, que traduzirei a pedido de uma editora espanhola e, portanto, será bilíngue; também em um e-book do livro Viagem em torno de, a ser lançado pelo selo do poeta Jiddu Saldanha. Preparo meu primeiro livro de contos e um outro de ensaios, com uma seleção das dezenas de prefácios e críticas que escrevi até agora. Vamos ver como consigo respirar (risos).

 

AC: Entre os seguidores do canal de Literatura do Portal ArteCult, muitos são aqueles que escrevem ou que desejam escrever. Que conselho ou dica você poderia dar a eles?

TC: Primeiramente, deverão saber das dificuldades inerentes a quase todos os escritores, principalmente os poetas, iniciantes ou não: problemas de publicação, de livros caros, de falta de divulgação, de falta de abertura na mídia para autores desconhecidos, de distribuição etc. A internet, de certa forma, libertou a leitura para que chegasse mais perto do leitor. Hoje, através dela, qualquer um pode publicar seus textos, sem qualquer censura ou temor. Mas, como costumo dizer, a luta dos jovens escritores é a mesma de sempre. Se ele acreditar no seu texto, deve levá-lo a uma editora, de preferência com uma carta de recomendação de algum escritor conhecido. E rezar para que o editor se debruce sobre seu livro, diante das dezenas que recebe mensalmente. Também existem concursos sérios que publicam os vencedores; é sempre um caminho. Mas, antes de tudo, o jovem escritor há que ter consciência do seu trabalho, e a essa conclusão só se chega ao se ler muito, reler, escrever, reescrever, cortar, burilar, pensar, repensar, criar, recriar, acreditar na liberdade única que só o escritor tem – enquanto criador – e ousar sempre. Sem medo de errar, mesmo errando. Escrever, escrever, escrever, como exercício de aprimoramento constante, aprendendo a retirar excessos, gorduras, clichês, obviedades. Ser escritor é um ofício, e a escrita, uma arte: requer muita leitura, reflexão, disciplina, organização, técnica, versatilidade, trabalho e treinamento. É uma eterna construção, o escritor. Enfim, quem quer seguir esse caminho tem de ter persistência e acreditar no seu sonho. Nunca desistir. Mas, que encontre prazer nisso tudo, alegria, senão nada valerá a pena.

 

AC: Para encerrar, pediria que deixasse aqui uma amostra de seu trabalho como poeta.

 

A FACE DO DIA

Abro a janela da manhã.

O Sol observa lá fora.

Tudo está como exatamente ontem.

Eu e minha cama no mesmo lugar do tiro.

As palavras ruminam os silêncios a iludir.

A vida se equilibra entre catacumbas

e o resplendor de tudo.

Enquanto o Dia, vivo,

abre sua imensa mandíbula

para engolir o mundo.

 

CÓDIGO

 A palavra é armadilha.

A palavra é cilada.

A palavra é trilha.

A palavra é água.

 

Cuidado!

 

Ao dizer amor diga amor.

Ao dizer medo diga medo.

Ao dizer horror diga horror.

 

Não a dilua em ardis.

Deixe-a livre

sem corretor corrente

e adjetivo.

Deixe-a substantivo.

 

Cuidado!

 

A palavra é dura.

A palavra é crua.

A palavra é casta.

 

A palavra é seca.

A palavra é nua.

A palavra se basta.

 

DO RELATÓRIO DO AMOR

O amor é farol sem luz nas estradas;

voz enrugada dos fantasmas;

som de canções fatigadas;

jogo de palavras surradas.

 

É nadar em mar aberto;

a saudade do eterno;

refúgio de flor no deserto;

o inverno.

 

O amor é o tempo corroído pelo vento;

o sorriso de quem doma leões;

bússola de desalento;

sombra soturna dos porões.

 

É testamento:

escreve a vida para perpetuar o fim.

É tatuagem (ou sangramento)

a riscar no corpo o efêmero do sim.

 

O amor é a beleza da vida e da morte

feito a pérola dentro da ostra.

É a urgência da cura e do corte

feito ferida grudada na crosta.

 

O amor é a doce violência da sorte

do mel afogando a mosca.

 

NÓS

para o diretor Antunes Filho

 

no olho

do outro

me vejo

 

minha casa

no corpo

do outro

 

minha água

na sede

do outro

 

no outro

me brilho

e me amo

 

no outro

espelho

 

 O POEMA DENTRO DE TI

“De modo geral,

acho que devemos ler apenas

os livros que nos cortam e nos ferroam.”

(Kafka)

 

O poema só serve para acender o fogo intenso do frio que te habita.

Para te golpear como a dor do fim do amor que amas,

ou como o raio a quebrar o lago que te espelha a face.

O poema só serve para deixares de bordar estrelas

e cumprires teu destino humano,

pois cabe somente a ti o teu enredo.

O poema não está nem aí para tua felicidade ou suicídio.

O poema só serve para que saias de ti, te leias e te encontres.

 

O TÊNUE FIO DO TEMPO

o menino, o pai e o violino

unidos, únicos, sozinhos

 

árvores num jardim de delícias

dedos de brinquedos do destino

 

delicados, os gestos do pai

ensinam ao menino o violino

 

cordas num mesmo abraço

sons de um mesmo sino

 

(só a vida determina

a equação dos caminhos)

 

não se sabe onde doeu o grito

quando o elo foi perdido

 

o menino cresceu do pai

entre solidões e atritos

 

e nunca mais se tocaram

como se toca um violino

 

(de Exercício do olhar, Fivestar, 2006)

 

 ÓVULOS

 1

 

meu poema

larva:

que bicho se abrirá em

palavra?

 

2

 

das sombras

nasce o poema

luz e nudez

:absurdo caracol.

 

3

 

o que se vê no escuro

o que se ouve no silêncio

: eis da poesia, a matéria.

 

4

 

a cada poema

que se faz

adia-se a morte

até a manhã

de um novo

poema.

 

E ATENÇÃO: CONFIRA A LIVE REALIZADA COM O POETA TANUSSI CARDOSO EM 24/03/2022: 

 

Bem, é isso. Até a próxima!

 

César Manzolillo

 

 

 

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AC Encontros Literários

AC Encontros Literários tem curadoria e apresentação (lives) de César Manzolillo (@cesarmanzolillo).

 

 

 

 

 

Author

Carioca, licenciado em Letras (Português – Literaturas) pela UFRJ, mestre e doutor em Língua Portuguesa pela mesma instituição, com pós-doutorado em Língua Portuguesa pela USP. Participante de vinte e quatro antologias literárias. Autor do livro de contos A angústia e outros presságios funestos (Prêmio Wander Piroli, UBE-RJ). Professor de oficinas de Escrita Criativa. Revisor de textos.

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