MANO MELO: o artista, que tem o palco e a poesia como razão de viver, é o convidado desta semana do AC Encontros Literários

 

Mano Melo (@manomelo45) é poeta, romancista, ator e roteirista com vários livros publicados. Junto com Pedro Bial e Claufe Rodrigues fez parte do projeto poético Ver o Verso. Tem por hábito interpretar seus poemas em teatros, TVs, rádios, bares, centros culturais, universidades e escolas. É também compositor, parceiro de artistas como Ana Carolina e Mu Chebabi.

Confira abaixo a entrevista exclusiva que preparamos pra você:

ArteCult: Como a Literatura entrou na sua vida?

Mano Melo: Aprendi a ler antes de ir pra escola, pra decifrar as histórias em quadrinhos. Havia um gibi, Edições Maravilhosas, que quadrinizava grandes obras da literatura universal. Os miseráveis, Miguel Strogoff, Ilíada, Odisseia,  A moreninha etc. Ao ler as revistas, ficava curioso de ler os originais. E assim fui traçando um caminho. Um tio meu desistiu de casar e trouxe suas estantes pra minha casa de infância. Aí tomei contato com autores nordestinos. Primeiro, com o Doidinho, do Zé Lins, cujo personagem tinha minha idade. De Doidinho, percorri todas as outras obras do Zé Lins. Daí, pulei para Jorge Amado e Graciliano. Um outro aspecto importante é que tive professores muito competentes, como o português professor Gama, um entusiasta da literatura, que sempre me incentivou, elogiando minhas redações e exercícios de ditado. Aprendi a escrever bem, embora sempre com dificuldades nas regras gramaticais. Era tudo intuitivo, como é ainda hoje. Quando cheguei no Rio, aos 16 anos, fui morar na casa de um tio, que era médico e antes tinha estudado filosofia. Meu quarto era sua biblioteca. Vivi esse tempo cercado de livros. Foi aí que tomei contato com duas obras fundamentais na minha formação: a Poesia Completa, de Pessoa, aquela edição da Aguilar em papel-bíblia, e O lobo da estepe, de Hesse, antes que se tornasse um best-seller em nova edição. Me sentia o próprio lobo da estepe. Com Pessoa, me identifiquei tanto com “Tabacaria” e “Poema em linha reta”, que ficava com ciúmes quando ele virou também best-seller, achava que ninguém entendia, que só falavam de orelhada. Só eu entendia, na minha visão adolescente. Quando falavam de Pessoa ou de Herman Hesse, achava que estavam devassando minha alma.

O lavrador de palavras, de Mano Melo. Foto: Reprodução internet.

 

AC: Além de se dedicar à poesia, sei que você também desenvolve outras atividades artísticas. O que poderia nos dizer sobre isso?

MM: O teatro entrou na minha vida muito cedo, ainda em Fortaleza. Aos 14, fui aluno ouvinte do Curso de teatro da Universidade, dirigido pelo B. de Paiva, não tinha idade para ser aluno efetivo. Nesse ano, fiz figuração num grande sucesso no teatro José de Alencar, O pagador de promessas, da Comédia Cearense, direção do B. de Paiva. Aprendi muito vendo o amor que ele dedicava ao teatro. Nesse tempo, um sucesso teatral em Fortaleza durava um fim de semana em cartaz, se tanto. O pagador ficou dois meses seguidos, o próprio governador assistiu duas vezes. A Comédia Cearense era um grupo de elite, assim que nem o TBC paulista. O elenco, em sua maioria, eram pessoas da “alta sociedade”, uma casta. Quem fazia o padre era o Affonso Barroso, sobrinho do governador. O papel de monsenhor era de Aécio de Borba, que depois foi vice-prefeito. Dedé Cospe Rima era do Aderbal Junior, que depois virou o Aderbal Freire Filho. Eu não tinha muito contato com essas pessoas, era um adolescente sem pedigree, ávido por aprender. O Affonso Barroso, depois reencontrei no Rio e ficou um grande amigo de quem até hoje sinto saudades. Ele havia deixado o teatro, era agora juiz de direito. Foi me ver durante uma sessão do Ver o Verso, grupo de poesia de que fazia parte, junto com Claufe Rodrigues, Alexandra Maia e Pedro Bial. Eu vim para o Rio porque queria ser um artista. Eu tinha grande atração pelo lado mais popular do cinema e do teatro. Assistia tudo que era chanchada do Oscarito e Grande Otelo, muito teatro de revista. Andava deslumbrado pelo Rio, minha cidade mitológica, caminhava muito a pé. Morava em Botafogo, atravessava o túnel pra Copacabana, seguia pra Ipanema e Leblon, voltava pelo Jardim Botânico até Botafogo, tudo a pé, deslumbrado pelo Pão de Açúcar e pelo Corcovado, me sentindo o máximo por estar no Rio. Um dia, na avenida Atlântica, encontrei uma pessoa de minha admiração, o Zé Trindade, que caminhava tranquilamente em direção à TV Rio, a grande emissora da época. Reuni toda a coragem para vencer a timidez e o abordei:

– Seu Zé, eu vim do Ceará e quero ser um artista. Como faço pra chegar lá? Zé me olhou de uma forma simpática e perguntou:

– Meu filho, você está estudando?

– Sim.

– Então continue seus estudos. Quando tiver idade, procure uma escola de teatro.

Foi o que fiz. Quando terminei o secundário, fiz vestibular para o Conservatório Nacional de Teatro, interpretando Zé do Burro, de O pagador de promessas. Fui reprovado, foi uma grande decepção.  Depois descobri que tinha sido reprovado devido ao meu sotaque nordestino. Vá entender! Mas não desisti. Procurei a Fundação Brasileira de Teatro, da grande Dulcina de Moraes, e, no ano seguinte, fiz vestibular novamente para o Conservatório, que hoje é a escola de Artes da Unirio. Dessa vez, fui aprovado. Quando estava no segundo ano, apareceu a oportunidade de fazer um seriado de TV alemão, num ótimo papel. Fiquei três meses filmando em Penedo, Alagoas, às margens do rio São Francisco. Aí convivi com grandes atores da época: Paulo Porto, Grande Otelo, Jofre Soares, Carlos Eduardo Dolabella, além de atores e atrizes alemães. Foi um grande aprendizado. Durante essas filmagens, apareceu na cidade o Zé Trindade, que estava excursionando com um show chamado O negócio é mulher. Convenci toda a equipe de meu filme, elenco brasileiro e alemão, mais o pessoal da técnica, e lotamos o teatro-cinema São Francisco. Depois, convidamos o elenco do Zé para jantar conosco. Então, me aproximei dele e contei como ele havia me aconselhado a buscar uma escola de teatro e, se estava ali fazendo meu primeiro filme, foi por seguir seu conselho. Ele ficou emocionado. E eu mais ainda. Depois disso, nunca mais parei, minha vida foi escrever e interpretar, o que venho fazendo até hoje, tendo o meu trabalho de interpretar personagens se desviado para interpretar meus próprios poemas; não precisava criar personagens, o personagem sou eu mesmo. Com um longo intervalo, durante os dez anos que passei fora do Brasil na época da ditadura, peregrinando pelo mundo: Ásia, África e Europa. Fiz alguns trabalhos em teatro, TV e cinema. O palco e a poesia são minha razão de viver. De volta ao Brasil, retomei esse caminho.

 

AC: O que poderia nos falar a respeito do seu lado roteirista?

MM: Sempre escrevi muito. Ao voltar dessa viagem pelo mundo, um ex-colega, já falecido, me convidou para escrever um roteiro de filme com ele. Ele botou meu nome nos créditos como colaborador de roteiro, quando todos os diálogos eram meus, mas ele assinou como dele.  Não falo o nome do cara nem do filme, porque o cara já morreu, e foi uma grande decepção. Levei o maior calote, inclusive financeiro, num  momento de regresso ao Brasil, quando meus dólares tinham acabado e minha mulher estava grávida. Bom, vida que segue, não adiante chorar mágoas do passado.  Depois, estava um dia de bobeira em casa quando vejo uma reportagem anunciando um curso no MAM com o Syd Field, grande mestre do roteiro de Hollywood. Para escolher os alunos, ele pedia as vinte primeiras páginas de um roteiro. Escrevi a toque de caixa. Fui escolhido. Eu era o único  da turma que não escrevia pra Globo.  E O Syd elogiou muito meu roteiro, Chanchadas na Atlântida, até hoje inédito. Um filme caro de fazer, com um elenco enorme e muitas locações e viagens. Claro que ninguém se interessou. Pretendo transformar num álbum em quadrinhos, mas não encontrei um desenhista ainda. Depois, escrevi vários roteiros, dois longas e um curta. Todos inéditos. Não emplaquei no mercado como roteirista. Fiz alguns para institucionais, pro Canal Futura, essas coisas, mas só porque precisava de dinheiro pra pagar as contas.

 

AC: No seu caso, de onde vem a inspiração?

MM: Vem pela observação do quotidiano, pela memória das coisas que vivi. Memória é um manancial inesgotável, tanto para atuar como para escrever. Mas principalmente pela minha fé, tenacidade  e resiliência. Escrever e atuar são trabalhos do dia a dia, escritor ou ator que não se dedica, que não estuda, que fica esperando inspiração atrofia. Tem que se dedicar, saber que, como dizia Paulinho, o da Viola, as coisas estão no mundo, só que é preciso aprender. Um pouco antes de sair do Brasil, conheci uma pessoa que foi  marcante na minha vida, um grande artista chamado Fauzi Arap. Depois, ele encasquetou comigo porque era contra a minha viagem, mas não dei bola, viajar era o que estava querendo no momento, ninguém poderia me tirar essa ideia da cabeça, queria conhecer o mundo, tatuar as paisagens na minha pele. Fui assistente do Fauzi num trabalho que fazia na Casa das Palmeiras, da doutora Nise da Silveira, outra grande influência. Na Casa das Palmeiras, a doutora Nise me franqueou o mimeógrafo da casa para fazer meu primeiro livro, O evangelho de Jimi Rango, com ilustrações de um artista plástico que trabalhava na casa, um gênio chamado José Paixão, pintor extraordinário. O Fauzi fazia uma reunião de artistas e intelectuais no Teatro Jovem, que ficava no Mourisco, em Botafogo. Um dia subi no palco e interpretei o poema que dava título ao livro O evangelho de Jimi Rango. Veio uma mulher, aliás muito bonita, linda mesmo, que perguntou se eu tinha o poema publicado. Falei que estava preparando a edição em mimeógrafo. Ela escreveu seu nome e telefone num papel e disse que tinha gostado muito do poema, que quando saísse o livro gostaria de comprar um exemplar. Só ao ler seu nome no papel, Clarice, é que percebi quem era a pessoa. Clarice Lispector. Sim, ela mesma. Quando o livro ficou pronto, telefonei. Ela me recebeu em sua casa, na rua Gustavo Sampaio, no Leme. Hoje quem mora lá nessa casa é a atriz Zezé Motta. Pois bem, Clarice me recebeu em sua casa, em seu quarto de trabalho. Era um dezembro ensolarado de verão. Ela tinha um olhar parecido com olhar de gata, que percebe tudo em sua volta, que olha pra dentro e pra fora ao mesmo tempo. Falei pelos cotovelos, já tinha comprado minha passagem para a Índia, estava muito excitado, pelo livro, pela proximidade da viagem, por estar sendo recebido por Clarice Lispector. Li poemas do livro, falei, falei muito, ela foi todo ouvidos, com uma paciência a toda prova. E disse que me reconhecia como realmente um poeta, que ia ler meu livro e guardar com muito carinho. Se uma pessoa como Clarice enxerga assim um jovem poeta de vinte anos, isso foi algo que mexeu muito dentro de mim, inflou minha autoestima, me fez acreditar. Daí, nunca mais parei.

 

Poemas do amor eterno, de Mano Melo. Foto: Divulgação.

 

AC: Sei que você viveu muitos anos no exterior. Como avalia essa experiência?

MM: Minha viagem ao exterior tem muito a ver com a situação difícil em que estava o Brasil. Um país amordaçado pela censura, um estado militarista onde não havia espaço para jovens artistas sonhadores. Cresceu minha vontade de conhecer o mundo, já havia viajado de carona à Bahia a e também para o Paraguai e Argentina, vivia o sonho hippie de quem não dormiu no sleeping bag nem sequer sonhou. A grande meta dos jovens alternativos da época era Goa, na Índia, tinha grandes amigos que estavam por lá. Então, vendi as cem cópias mimeografadas do O evangelho de Jimi Rango, a preço de ouro,  e comprei uma passagem para Mumbai, que nessa época ainda se chamava Bombaim. Esse sonho riponga durou dez anos, viajei pelo Oriente, um pouco pela África. Estava no Afeganistão na época do golpe de estado que derrubou a monarquia, essa época está retratada no livro O caçador de pipas. Quis voltar pra Índia, mas as estradas estavam minadas, porque era latente a invasão do país pela Rússia. Como não podia voltar pra Índia e não estava a fim de ficar entre o fogo cruzado da guerra, tomei o rumo da Europa. Foi uma longa viagem por terra, sem dinheiro, essas aventuras todas estão contadas no meu romance Viagens e amores de Scaramouche Araújo, que esgotou duas edições pela editora Five Star, que não existe mais. Quem quiser conhecer esse romance, com sorte encontrará algum exemplar perdido nos sebos virtuais. Essa viagem foi um tempo de desaprender. Eu estudei filosofia, simultaneamente à Escola de Teatro, estava com a cabeça impregnada de muitos livros e teorias, foi um tempo de ficar sem bibliotecas. O que li pelo caminho passava adiante, não acumulava. Então ficaram apenas os livros mais essenciais, os imprescindíveis. Essa desaprendizagem foi muito importante para mim. Na Europa, me fixei em Amsterdam, onde fiquei cinco anos. Fiz de tudo um pouco, trabalhei em hotéis, fui dono de um Tea House, onde ganhei um bom dinheiro que depois esbanjei em Portugal, atraído pelos ventos da Revolução dos Cravos. Mas voltei para Amsterdam. Escrevi algumas letras de música em inglês, mas vi que, se quisesse ser realmente um escritor, teria que optar por escrever em inglês ou ir para algum país de língua portuguesa. Voltei novamente a Portugal, gastei uns meses no Algarve escrevendo O cangaceiro elétrico, depois fui pra Lisboa batalhar uma edição. Tive êxito em editar por conta própria, vendi tudo fazendo shows de poesia na boca do metrô, ajudado por uma amiga, a Lisa, cantora de fados, aliás muito boa, que havia também passado uma temporada no Índia. Quando acabaram os livros, voltei para Amsterdam. Mas vi que, se quisesse seguir minha opção de escrever, precisaria retomar minha vivência de língua brasileira. Era meu novo sonho. Então vim para o Brasil. Nessa época, os ventos da anistia já estavam soprando, estávamos no governo Figueiredo, que prometia continuar em direção a uma abertura ampla, geral, mas restrita. Vivi a decepção com a derrota da campanha das diretas já. Minha namorada de Amsterdam veio me encontrar no Brasil, ficamos juntos, tivemos uma filha. Ela morreu dezesseis anos atrás. Vivemos juntos 24 anos. E se ainda estivesse por aqui, com certeza ainda estaríamos juntos. Tive muitas namoradas, com algumas vivi junto uns tempos, mas casamento mesmo foi com ela. Uma parceria de vida inteira.

 

O romance Viagens e amores de Scaramouche Araújo, de Mano Melo. Foto: Divulgação.

 

AC: Um livro marcante. Por quê?

MM: Já falei de dois: O lobo da estepe, pela grande identificação que tive com o personagem. A poesia completa de Fernando Pessoa, simplesmente porque Pessoa é Pessoa e tá falado, não precisa dizer mais nada. Jorge Amado, Graciliano, Zé Lins, que fizeram minha cabeça na adolescência. O pagador de promessas, de Dias Gomes, que me abriu as portas para o teatro. Cartas a um jovem poeta, do Rainer Maria Rilke, que consolidou o jovem poeta que havia em mim. Os frutos da terra, do André Gide, que me aproximou do mais essencial que existe na vida. Fausto, de Goethe, por aprofundar minha sede pelo Infinito e pelo Conhecimento. As viagens de Marco Polo, que me inspirou a escrever minhas próprias viagens. On the road, do Kerouac, que também me incentivou a escrever minhas viagens. E os inúmeros poetas, Gonçalves Dias, Castro Alves, Bilac, os dois de Andrades, Oswald e Mário, Ascenso Ferreira, Jorge de Lima, Paulo Leminski, Waly Salomão, uma plêiade enorme de grandes poetas, pessoas que se dedicaram de corpo e alma à poesia.

 

AC: Um escritor marcante. Por quê?

MM: Creio que já citei na resposta anterior. Mas acrescento Quintana e Manoel de Barros. Leiam, leiam muito Quintana e Manoel de Barros.

 

AC: Projetos em andamento: o que vem por aí nos próximos meses?

MM: Durante a pandemia, escrevi muito. Revi textos inacabados. Foram dois anos sem sair de casa, sem fazer shows ao vivo. Estou na agulha pra publicar um livro infantojuvenil, Bela noite e o pássaro, mas as editoras que conheço estão sem capitalização. Vou publicar pela Amazon, estou só esperando as ilustrações que o Aroeira me prometeu. Publicar pela Amazon pode ser um canal diferente, estou de saco cheio de ficar esperando aval de editoras, no final eu sou minha própria livraria, vendo tudo nos shows e das editoras só recebo dez por cento. É uma indecência.  Vamos ver se pela Amazon, migrando para o livro digital, me liberto do jugo das editoras. Tenho também projeto de reativar o Mano a Mano Com A Poesia, que realizei com sucesso, intercalando poesia e música. Mas quero fazer com remuneração, para que possa pagar aos convidados, mesmo simbolicamente. Então estou entrando em tudo que é licitação. Tem uma peça de teatro que quero montar, um texto muito importante para mim, encontrei uma parceria, estamos também buscando financiamento. Não digo o nome da peça porque em boca fechada não entra mosquito. Dinheiro, sempre o dinheiro, ou a falta de, atravancando os caminhos, mas eles passarão, eu passarinho. Falta dizer que estou com um trabalho pronto, o Recital Mano Melo, aproveitando que a pandemia arrefeceu e levando por diversos palcos. Esse recital faço em teatros, escolas, festas e encontros literários, bares, auditórios, se calhar, até mesmo na rua. É muito fácil viajar com ele, não precisa de cenários ou adereços, só um microfone com pedestal com retorno para o palco.  O poeta no diante de seu público, num formato semelhante a um stand-up comedy, só que é stand-up poetry.  Durante uma hora, conto histórias que me aconteceram em minha trajetória de poeta e interpreto poemas. Se você que está lendo estiver a fim, se estiver produzindo algum encontro poético ou literário, pode me contatar pelo e-mail manomelo45@gmail.com. É um show de baixo custo, se for fora do Rio, hospedagem, passagens, alimentação e um cachê a combinar. Já levei esse formato através dos anos, meus versos já me levaram pelo Brasil inteiro, cidades grandes e pequenas, do Rio Grande do Sul à Amazônia. Sou um artista nômade, estou sempre com o pé na estrada.

 

AC: Entre os seguidores do canal de Literatura do Portal ArteCult, muitos são aqueles que escrevem ou que desejam escrever. Que conselho ou dica você poderia dar a eles?

MM: Se você é jovem, procure ler Cartas a um jovem poeta, do Rilke. Aí tem dicas essenciais para quem deseje seguir os caminhos da poesia. Leiam, leiam muito, leitura é essencial. E se dedique, se exercite quotidianamente, ouse, não tenha medo do futuro. Arte é uma deusa cadela, te cobra tudo e de início não te dá nada, mas para quem não desistir, haverá o momento em que a  deusa cadela começa a te recompensar. Como disse Rilke, pergunte dentro de si mesmo se é isso mesmo que você quer, pergunte no âmago: poderia viver sem escrever, sem atuar? Se a resposta for sim, então desista e procure alguma coisa mais lucrativa, vá jogar na bolsa, virar empresário, ou ser professor, ou fazer concurso público, ou procure um meio de vida mais lucrativo. Mas se a resposta for não, que não poderia viver sem escrever, ou atuar, ou pintar, ou cantar, ou musicar, então se empenhe nisso até o último fio de cabelo, pois afinal tudo vale a pena se a alma não é pequena.

 

AC: Para encerrar, pediria que deixasse aqui uma amostra de seu trabalho como autor.

MM: Lhe deixo o poema mais recente, escrevi ontem à noite:

SOBRE JESUS E OS BEATLES

Jesus era cabeludo,

Mas ao que consta

E se não me iludo,

Não fumava maconha

Nem batia bronha,

Ora bolas!

Seu barato era transformar água

Em vinho.

Bebia uns copos,

Afogava as mágoas,

E criava parábolas

E Sermões,

Posando de adivinho, profeta,

Filósofo e poeta

Para ensinar ao povo a vida como ela é.

E nessa assim

Fez mais goal

Que o tal de Pelé.

Foi Jesus quem inventou o rock and roll

E até hoje tem fãs e seguidores.

Sim,

É mais famoso do que foram os Beatles,

Embora o Lennon tivesse opinião contrária,

Mas isto é história

Pra boi dormir.

Dos quatro rapazes de Liverpool,

George e John cantaram pra subir,

Ringo se perdeu no lixo da escória

E Paul ficou caretão,

Perdeu a razão

De ser

E virou Sir

 

E tem mais um inédito:

O MAIOR INVENTOR DO MUNDO

Maior que Oppenheimer

Que inventou a bomba atômica

Porque achou que no dos outros era refresco.

 

Maior que Einstein

Que descobriu que tudo é relativo,

Que as marés

Atraem

Luas

E a Física tanto pode ser quântica

Quanto quantia.

 

Maior que Copérnico

Que descobriu que a forma da Terra

Se assemelha a um grande penico

 

Maior que Galileu,

Que desvendou o segredo

Das estrelas

E teve que negar,

Para escapar da fogueira

Dos politicamente corretos

E da caretice carola  de sua época.

 

Maior que Arquimedes

Que inventou a alavanca

E descobriu que o cavalo de Troia

Não era nada mais que uma mula manca

 

Maior que Da Vinci

Que inventou o helicóptero,

Maior que Santos Dumont

Que inventou a libélula

 

Maior que os inventores todos

Que já existiram no mundo,

Foi o cara que inventou…

A mala com rodinhas.

 

O cara que inventou a mala com rodinhas

É um benfeitor da Humanidade.

Devia ser homenageado em praça pública,

Ganhar o Nobel duplo da Ciência e da Paz

E o Oscar de Efeitos Especiais.

 

Mas não lhe ergueram nenhuma estátua

Para enfeitar sua rua,

Nem foi patrocinado por nenhum Mecenas,

Não ganhou nem mesmo um par de meias furadas

para agasalhar o pé.

 

Ele é apenas

Um dos bilhões do mundo

Que ninguém sabe quem é

 

E mais este, que é o atual carro-chefe de meus shows ao vivo:

NADA VAI APAGAR MEU SORRISO
Podem ameac?ar com as bombas e morteiros
da Marinha americana,
podem roubar meu dinheiro
e chamar os ho?mes pra me levar em cana.
Nem que as vacas tussam e as porcas torc?am seus rabos, nem que eu seja atacado por mil cachorros brabos, mesmo que me acusem de tudo que e? heresia
e arranquem meu dente de siso
sem anestesia,
nada vai apagar meu sorriso.

Podem ameac?ar com o Armageddon
e as trombetas do Jui?zo Final.
Podem pintar o mar de marrom
e botar dez mil crianc?as assaltando no sinal, podem parar o mundo e apagar a luz,

abrir a caixa dos pregos e me pregar na cruz, podem rodar a baiana, podem soltar a franga, bordar tudo mais feio que o ca?o chupando manga, destruir a ferro e fogo os frutos do parai?so,

nada vai apagar meu sorriso.

Podem sujar a atmosfera
ate? fazer doloroso o ato de respirar.
Podem abrir a jaula e soltar a besta-fera com sua boca horrenda para me devorar, perfurar meus olhos com setas envenenadas ate? que fiquem cegos,
me fechar no escuro junto com morcegos, ratazanas e baratas aladas,
sem nenhum sinal ou pre?vio aviso,
nada vai apagar meu sorriso.

Entre os campos de batalha dessa guerra infame,
busco trocar amor com quem tambe?m me ame.
E sei que a maioria das pessoas sa?o pessoas decentes, gente do bem trabalhando para criar filhos
e passar sua heranc?a de conhecimentos.
Por isso, quando o trem parece correr fora dos trilhos
e o draga?o ameac?a cuspir fogo pelas ventas,
eu sei que tudo na vida tem uma explicac?a?o
e que existem razo?es que sa?o estranhas ate? a? pro?pria raza?o. Na?o importa as teias que a aranha tec?a,
a gente tem que se cuidar pra na?o virar presa.
Se a aranha ta? a fim de te jantar,
voce? na?o pode permanecer passivo.
Na?o apenas navegar, viver tambe?m e? preciso.
Eu fico mais forte quando penso nisso:
nada vai apagar meu sorriso.

 

Axé pra todos. E viva a POESIA, único Deus vivo que restou no Olimpo. Tá limpo. E amém.

 

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Bem, é isso. Até a próxima!

César Manzolillo

Colunista do canal LITERATURA

 

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AC Encontros Literários

AC Encontros Literários tem curadoria e apresentação (lives) de César Manzolillo (@cesarmanzolillo).

 

 

Author

Carioca, licenciado em Letras (Português – Literaturas) pela UFRJ, mestre e doutor em Língua Portuguesa pela mesma instituição, com pós-doutorado em Língua Portuguesa pela USP. Participante de vinte e quatro antologias literárias. Autor do livro de contos A angústia e outros presságios funestos (Prêmio Wander Piroli, UBE-RJ). Professor de oficinas de Escrita Criativa. Revisor de textos.

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