Jorge Ventura: O poeta, editor e ativista cultural é o convidado desta semana do AC Encontros Literários

 

Jorge Ventura (@jorgeventura4758) é escritor, roteirista, editor, ator, jornalista e publicitário. Tem 10 livros publicados e participação em dezenas de coletâneas nacionais e estrangeiras. É presidente da APPERJ (Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro), titular do Pen Clube do Brasil, membro diretor da UBE – RJ (União Brasileira de Escritores) e um dos integrantes do grupo Poesia Simplesmente. Recebeu diversos prêmios, nacionais e internacionais, como autor e intérprete. Tem poemas vertidos para os idiomas inglês, francês, espanhol, italiano e grego. É também sócio-proprietário da Ventura Editora e da Editora Iniciatta.

Confira abaixo a entrevista exclusiva:

 

ArteCult: Como a Literatura entrou na sua vida?

Jorge Ventura: Desde pequeno fui atraído pela literatura. Dos livros de Maria Clara Machado e Monteiro Lobato, passando pelas enciclopédias infantis, até as revistas em quadrinhos. Toda “palavra” me chamava a atenção. Eu tinha o costume de mudar o final da histórias, curioso isso. Já adulto, acabei por me dedicar, não só ao texto literário/dramático, mas igualmente ao jornalístico e publicitário, quando me formei em artes cênicas e comunicação social.

 

AC: Como nasce um poema? E um livro de poemas?

JV: Sempre que respondo a esta pergunta,  eu me lembro do Gullar. Eu também preciso de um “espanto”, de um estado catártico para ser motivado a escrever um poema. Toda e qualquer provocação, seja boa ou ruim, pode me levar a escrever um poema. Já a produção de um livro de poemas requer um tempo maior para a organização do projeto editorial: a seleção dos poemas a partir da unidade temática, a revisão, o título da obra, a tipografia, a diagramação etc. Eu diria que, durante o processo de produção de um livro, eu me equilibro entre a razão e a emoção.

 

 

O livro Palavra & Poesia, de Jorge Ventura. Foto: Divulgação.

AC: O fantasma da página em branco: mito ou verdade? Isso acontece com você? Em caso afirmativo, o que faz para resolver esse problema?

 

JV: Para mim, não é mito. É verdade. Muitas vezes isso acontece. E por diversas razões. O melhor a fazer é dar um tempo, deixar a página em branco de lado e ventilar  a mente com outras coisas. Há casos em que eu paro no primeiro verso. Em outros, sei como o poema irá acabar, mas não consigo desenvolvê-lo de imediato. Já cheguei a esperar dois anos para a conclusão de um poema. O poema deve nascer e/ou amadurecer sem pressão e no tempo certo. Em compensação, há raros casos em que o poema vem todo para mim em questão de minutos. Haja inspiração e muita transpiração!

 

AC: Fale dos livros que já publicou até hoje.

JV: Tenho 10 livros publicados. Seis de poesia, três de estudos jornalísticos e um de epigramas humorísticos, entre os quais, três livros em coautoria. Eu sempre digo que o melhor livro de minha autoria será o próximo a ser publicado. Penso que estamos sempre aprendendo, aprimorando. No entanto, se pudesse marcar o auge de minha maturidade poética, destacaria a obra Faca de ponta, fogo de palha (Oficina Editores, 2012).  E se tudo der certo, conforme planejado, lançarei até o final de 2022 o meu décimo primeiro  livro, o sétimo de poemas.

 

 

 

A violeta 19. E-book escrito por Jorge Ventura e Val Mello. Foto: Divulgação.

AC: Poesia simplesmente. Esse nome lhe parece familiar?

 

JV: Sim, certamente. Tenho a honra de fazer parte da história desse coletivo, que há 26 anos vem militando no cenário cultural carioca, proporcionando oportunidades a diversos artistas e poetas de todo o Brasil. Antes, como um poeta-ator convidado, eu já participava das produções cênico-poéticas com o grupo. Depois, passei a ser oficialmente integrante do Poesia Simplesmente. Entre tantas formações, estou com eles desde 2005, – há 17 anos, portanto – e somando quase cinquenta apresentações, encenadas não apenas no teatro Glaucio Gill (nosso polo de atuação no Rio de Janeiro) mas também em diversos espaços nas demais regiões do país.

 

AC: Sei que você também é editor. O que poderia nos dizer acerca dessa atividade?

JV: Nem tudo são flores na relação entre editor e autor, mas certamente é uma experiência muito gratificante pelo simples fato de poder conhecer o (a) autor (a) mais de perto, para além da obra. As pessoas não imaginam o quanto é interessante conhecer – e às vezes, acompanhar passo a passo – o processo de criação do autor até chegar à finalização do livro. Com respeito e esmero, o resultado do trabalho é sempre bem-sucedido.

 

AC: Projetos em andamento: o que vem por aí nos próximos meses?

JV: Com muita honra e satisfação, a Ventura Editora está próxima de sua centésima publicação, em menos de sete anos de atividade. Somente para este ano, estão previstos 15 títulos, entre os quais  destaco o Projeto Kosmos – que compreende a publicação de duas coletâneas, uma em prosa (Kosmokontos) e outra em verso (Kosmopoemas). Trata-se de um projeto com qualidade diferenciada, que tem como tema os 4 elementos da natureza (fogo, terra, água e ar). Há uma curadoria especializada na seleção dos textos e na organização de todo o trabalho editorial. Ainda contamos com a divulgação do portal ArteCult – este por onde sou entrevistado – o que nos dá a certeza de que será um grande sucesso. Aproveito a oportunidade para deixar aqui o link do edital (tiny.cc/edital-kosmos) e os endereços eletrônicos para o envio dos materiais (em verso, venturaeditora.kosmopoemas@artecult.com e, em prosa, venturaeditora.kosmokontos@artecult.com). As inscrições se encerram no dia 25 de março.

 

KosmoContos, coletânea organizada por Jorge Ventura e outros escritores, está com inscrições abertas, clique acima para saber mais. Foto: Divulgação.

 

 

Jorge Ventura, Antonio Gutman e Dalmo Saraiva são os autores de Trio Patinhas Two: em um escracho lírico. Foto: Divulgação.

AC: Entre os seguidores do canal de Literatura do Portal ArteCult, muitos são aqueles que escrevem ou que desejam escrever. Que conselho ou dica você poderia dar a eles?

 

JV: No início da carreira literária, é muito comum buscarmos referências, estilos de diversos autores e autoras. No decorrer do tempo, vamos afinando o tom até apresentarmos a nossa própria dicção. A minha é dica é: faça valer todo o seu talento de modo orgânico, mas jamais se esqueça de aprender a técnica, de estudar os fundamentos. Ninguém é inteiramente artista ou poeta apenas pelo dom, é preciso muita “ralação”, ou seja, dedicação. Antes de tentar desconstruir linguagens, aprenda, humildemente, a construí-las. É preciso estudar muito o “igual” para criar o “diferente”. No mais, acredite em si e siga.

 

 

AC: Para encerrar, pediria que deixasse aqui uma amostra de seu trabalho como autor.

 

Ponto de Cruz

choro

a erosão

do tempo

traçado

em ravinas

 

sei do que é deserto:

o caminho do homem

 

a vida é trama

dedicada à seca

 

entrelaçam-se

desmandos

desenganos

desenredos

 

no horizonte

de esperas

o sertão bordado

de mandacarus

 

escrevo meu rumo

no ponto de cruz

 

In: Faca de ponta, fogo de palha (Oficina Editores, 2012)

 

Origami

quando a ideia me perturba

entre o barulho e o silêncio

tudo é um só contrassenso

que inocência ou culpa

virá em vão me julgar

neste papel tumular?

reparto em dobras meus textos

discursos e manuscritos

(de abismos e de delírios)

nas páginas, palimpsestos

 

reparto também a folha

metade doutra metade

do que é múltiplo e arte

e antes que a ideia se recolha

e a angústia vire bolha

e o papel retorne seda

nas dobraduras das letras

o verso assim se desdobra

pois toda palavra é obra

pra muito além do poema

 

 In: Palavra & Poesia (Ventura Editora, 2018)

 

Tempos Inexatos

 

escorrem vão entre os dedos

minhas horas de descuido

dou-me corda como impulso

em elogio ao relógio

 

acerto ilógicos prazos

vencimentos validades

 

a máquina presa ao pulso

não me permite o atraso

 

ontem hoje amanhã

quando quando me expirar?

 

vida regida por Cronos

relativizo o autômato

 

todo horário é contrário

todo tempo, contratempo

 

busco viver o momento

na engrenagem dos meus dias

 

In: O ReVerso do Morcego (CQi, 2015)

 

Tribal

 

se nossos índios são índios

aqueles índios também são

não sei se índios só são índios

ou se índios também são árvores

 

ou se os morros são índios ou lagos

ou se os índios são chuvas ou sóis

ou se os rios não são índios

como são os bichos e os seringais

 

ou o fogo e os vendavais

sei que são mamelucos, caboclos,

mulatos e cafuzos – por que não?

índios são pedras de outras pedras

 

se nossos índios também são pedras

índios são terras de nossa terra

 

In: Faca de ponta, fogo de palha (Oficina Editores, 2012)

 

Dados de Contato do Jorge Ventura

E-mail: jorgeventura@terra.com.br | Venturaeditora.editor@gmail.com

WhatsApp: 21- 99962.6653

Facebook: Jorge Ventura Ator e Poeta

Instagram: @jorgeventura4758

 

 

ATENÇÃO: Confira a live realizada com JORGE VENTURA em 26/03/2022:

 

Bem, é isso. Até a próxima!

 

César Manzolillo

 

 

 

Clique abaixo para ler as demais entrevistas exclusivas do projeto!

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LIVES
AC Encontros Literários

AC Encontros Literários tem curadoria e apresentação (lives) de César Manzolillo (@cesarmanzolillo).

 

 

 

Author

Carioca, licenciado em Letras (Português – Literaturas) pela UFRJ, mestre e doutor em Língua Portuguesa pela mesma instituição, com pós-doutorado em Língua Portuguesa pela USP. Participante de vinte e quatro antologias literárias. Autor do livro de contos A angústia e outros presságios funestos (Prêmio Wander Piroli, UBE-RJ). Professor de oficinas de Escrita Criativa. Revisor de textos.