
Com Ana Lúcia Gosling

Maurício Santos, em Unsplash
Minha página no Instagram dá publicidade ao meu trabalho no ArteCult.com e às Gingers, grupo de sapateado de que participo. Vez ou outra, também divulgo a Illusion Cat, banda maravilhosa que meu filho integra. Eventuais fotos pessoais ficam todas nos stories, por 24 horas, e somem no pó da rede social. Não é uma página pessoal, é voltada para quem acessa a publicação dos meus textos aqui e ali.
Abraçada à vontade de publicar um primeiro livro, venho me perguntando quem se interessaria em lê-lo. Insegura, tenho a sensação de que só meu irmão e meu filho seriam presenças confirmadas no lançamento. Mas concluo o livro ser um projeto pessoal, devendo preocupar-me, somente, a sua realização. Se venderá ou não, deixo para lá.
Estou bem com isso. Escrevo para lançar sementes. Se algumas encontrarem terreno estéril; outras acharão solo fértil. Seguirei escrevendo e louvando as conexões naturais que o ato provoca.
Mas o Instagram me deu um falso sinal de popularidade. Apontou um aumento de visualizações, convidando-me a saber o desempenho do meu conteúdo. Empolgada, achando que saberia quantos leitores tenho, caí do cavalo. As três postagens mais vistas não são de divulgação do meu trabalho. São fotos ocasionais nos stories. Uma da orla de Copacabana, outras duas com amigos.
O fato mais curioso: os dias de maior atividade na página foram as terças, quintas e domingos. Para quem publica uma crônica inédita toda quarta, foi um tapa na cara. O dia antes e o dia depois da quarta interessaram mais.
Já estava conformada de o livro ser, apenas, um projeto pessoal. Voltou-me a indagação que me assombra há um tempo: para que publicar um livro? Por quê? Tenho respostas prontas de tanto que pensei nelas: 1. documentar de forma sólida o que espalho por aí, reunindo meus textos pro meu filho, pra minha família; 2. esperar conexões – talvez o que me encanta e me aflige como narradora possa encantar e afligir algum leitor e minha palavra ser bálsamo. É pretensioso, sei, mas sonho íntimo nunca é pequeno; 3. ganhar um Jabuti na categoria (inexistente) dos textos que aquecem corações, com sentimentos reais. Em nada se apequenam diante dos livros que exercitam vaidades ou bandeiras.
Minhas respostas brincam com a ambição de ser escritora publicada. Mas minha motivação talvez seja egoísta: escrevo por mim, para vir à tona respirar, para elaborar o incompreensível, para inventar um mundo que eu entenda, onde possa habitar, porque tenho medo, porque sinto dor, às vezes rio de mim, porque carrego saudades. Por ter sempre gostado de brincar com palavra e vê-las com textura, peso, contorno e poderes farmacêuticos (remédio ou veneno).
Sinto gratidão pelos que me oferecem suas leituras. Acenam eu estar sendo lida, entendida. Mostram eu ser capaz de conectar meu coração a outros. No Instagram, é mais fácil navegar pelos sorrisos do que por palavras. Para a emoção, é bom mas não é necessário ocupar a casa do milhar. Basta tocar um único coração e tudo ganha sentido: o ato de escrever, as centenas de textos, a fé na literatura. E a minha presença, hoje, aqui.


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com César Manzolillo













