Autor premiado, escreve contos, romances e poemas. Paulo Scott conversa com a gente no AC Encontros Literários. Confira a entrevista exclusiva:
ArteCult: Como a Literatura entrou na sua vida?
Paulo Scott: Minha mãe lendo histórias infantis para mim e para meu irmão.
AC: Você escreve romance, conto e poesia. Tem preferência por algum gênero específico?
PS: Não faço distinção entre gêneros. Escrever é escrever, é parte de algo muito maior que é o meu processo de leitura: a jornada de aprendizado da linguagem, das outras pessoas, do mundo.
AC: Meu mundo versus Marta, que você escreveu com Rafael Sica, pode ser definido como uma graphic novel sobre amor e solidão. O que mais se pode dizer a respeito dessa obra?
PS: Quando sentei para escrever essa história especialmente para o Rafael Sica, pensei em contar algo sobre a extinção, sobre a possibilidade permanente do fim, sobre a iminência da destruição. Marta é a morte, é o Marte, a máquina da morte – e mesmo estando presente, explícita, para atenuar a violência do homem contra o homem, não é suficiente para assegurar uma solução política e social menos opressora. Como é uma história aberta, cada leitora, cada leitor assumirá, com suas inteligências, os próprios desdobramentos e racionalidades da narrativa. Por isso, MMXM (mesmo se posicionando de modo oblíquo contra o totalitarismo) é uma obra única, sem paralelos.
AC: Você é detentor de diversos prêmios importantes (Machado de Assis da Fundação Biblioteca Nacional e APCA, entre outros). Em que medida esse reconhecimento por parte da crítica ajuda na conquista de leitores?
PS: Premiações são boas para as casualidades do mercado, não são réguas do que tem ou não valor. É o que posso dizer.
AC: Seu livro de contos Ainda orangotangos foi adaptado para o cinema. Você interferiu, de alguma maneira, nesse processo? O que achou do resultado?
PS: Não interferi (houve um diálogo, dentro de uma cena específica, que pedi para suprimirem, e só). Acho que é uma leitura genial das personagens do livro, do seu desespero, das suas esperanças. Gustavo Spolidoro e sua equipe fizeram um trabalho excepcional.
AC: Em 2008, seu romance Ithaca Road, que faz parte do projeto Amores Expressos, o levou até Sydney, na Austrália. Como foi essa experiência?
PS: Por um mês inteiro aprendi a ser fantasma e apenas observar. Vaguei por Sydney sem falar com ninguém por um mês inteiro. Foi mágico e aterrador me invisibilizar da forma como acabei me invisibilizando.
AC: Em 2021, seu romance Habitante irreal está completando 10 anos. De que trata a obra?
PS: É um romance sobre a indiferença, a naturalização da indiferença, essa doença coletiva que faz de todos nós brasileiros participantes de um dos países mais desiguais e violentos do mundo, cúmplices de um modelo civilizatório muito perverso. Em outra chave, é o romance sobre o fracasso da minha geração. Uma geração inflacionada de pretensões, que, sob alguns aspectos, entregou para a geração seguinte um país tão ruim quanto o que recebeu.
AC: Inspiração ou transpiração: o que vale mais no fazer literário?
PS: Transpiração.
AC: Um livro marcante? E um escritor marcante?
PS: Vidas secas. Lima Barreto.
AC: Projetos futuros: o que vem por aí nos próximos meses?
PS: Um livro sobre antifascismo.
AC: Como lida com o fantasma da página em branco? Isso acontece com você?
PS: Com leitura.
AC: Entre os seguidores do canal Literatura do portal ArteCult, muitos são aqueles que escrevem ou que desejam escrever. Que conselho ou dica poderia dar a eles?
PS: Leia de tudo, não tenha preconceitos, não tenha arrogância, tente descobrir a sua própria fórmula de leitura criativa (não acredite em escrita criativa, acredite em leitura criativa) e tente suportar, com maturidade, a solidão que leva a essa fórmula, a essa condição.
Confira também o longa-metragem Ainda orangotangos (verifique a classificação indicativa, o vídeo tem restrição de idade): https://www.youtube.com/watch?v=Gi8UJ4dx2Pk
Até a próxima!
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