André Timm (@timmandre) nasceu em Porto Alegre e atualmente vive no oeste de Santa Catarina. Escreveu Insônia (2011), Modos inacabados de morrer (2017), romance finalista do Prêmio São Paulo de Literatura que também foi publicado na Itália, e Morte sul peste oeste (2020), vencedor do Prêmio Minuano de Literatura 2021. Além disso, participou de diversas antologias literárias.
Confira abaixo a entrevista exclusiva que preparamos pra você.
ArteCult: Como a Literatura entrou na sua vida?
André Timm: Lembro muito pouco da minha infância. Não sei se foram a entrada da literatura na minha vida, mas era vidrado em quadrinhos e, maiorzinho, também nos livros da clássica coleção Vaga-lume.
AC: Como é sua rotina de escritor? Escreve todos os dias? Reescreve muito? Mostra para alguém durante o processo?
AT: Tenho períodos. São sprints não muito longos. Duram dias ou semanas. Nessas ocasiões, acordo bem cedo, tipo 4h30 da manhã, e escrevo por uma hora e meia mais ou menos, até o momento em que começa o dia e tenho que levar minha filha para a escola, dar atenção às atividades físicas, trabalho etc. Se estou seguro da história, esses sprints podem se estender. Morte sul peste oeste foi escrito em alguns meses, sem intervalos. Se tenho pontos a desenvolver ou compreender melhor sobre a história, aí podem vir semanas ou meses de hiato, até que eu consiga, mentalmente, resolver o que precisa ser resolvido para voltar a escrever. Não reescrevo praticamente nada, apenas correções. Os textos como estão nos livros foi como foram escritos de pronto. E tenho alguns leitores de confiança com quem vou compartilhando os livros em processo.
AC: No seu caso, de onde vem a inspiração?
AT: Penso que cabe começar explicando que não acredito na ideia romântica da inspiração como uma fagulha, um momento eureca. Ele existe, mas é consequência de trabalho mental, do inconsciente trabalhando, mastigando tudo aquilo que consumimos, aquilo que nos cerca e nos impacta, que chega até nós por diferentes meios. Livros que lemos, filmes a que assistimos, músicas. A conversa das pessoas próximas no ônibus, no trem, na fila do pão. Tudo isso, de alguma maneira, vai se interiorizando em nós, se cristalizando até se tornar combustível fóssil. A inspiração vem do ato de perfurar e buscar esses veios, até que jorrem. Mas eles não vêm fortuitamente. É necessário trabalho ativo, precisamos nos colocar num estado de buscar e de estarmos aptos a receber. A inspiração aparece pra quem senta todos os dias para escrever.
AC: O fantasma da página em branco: mito ou verdade? Isso acontece com você? Em caso afirmativo, o que faz para resolver esse problema?
AT: Acontece. Penso que ela é sempre consequência de algo mal-engendrado em relação àquilo que se pretende narrar. Talvez ainda não conheçamos muito bem os personagens que estamos criando. Talvez não haja segurança do narrador ou da pessoa escolhida para narrar. Talvez ainda faltem muitas peças da história. Ao menos de acordo com minha experiência pessoal, é sempre nesses momentos que me pego diante de um bloqueio. E aí cabe investigar o que precisa ser melhor trabalhado para que a escrita volte a fluir. E volta.
AC: Um livro marcante. Por quê?
AT: Ruído branco, de Don DeLillo. Foi o primeiro autor em que tive contato com um tipo de literatura que podia ser ao mesmo tempo divertida, assustadora, profunda e literariamente excepcional, abordando temas como consumismo, tecnologia e terrorismo, tudo isso com uma construção de personagens brilhante e descrições arrebatadoras. Daqueles livros em que a maior parte das páginas está assinalada com marca-texto.
AC: Um escritor marcante. Por quê?
AT: Don DeLillo. Pelos motivos citados acima.
AC: Fale dos livros que já publicou até hoje.
AT: Insônia foi minha primeira publicação, um livro de contos. Todos eles se passavam em diferentes apartamentos de um mesmo edifício, de modo que os contos, de alguma maneira, se conectavam, se complementavam. Com Modos inacabados de morrer, veio o primeiro romance. Finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, narra a história de Santiago, um menino que sofre de uma condição severa de narcolepsia. Depois, Morte sul peste oeste, vencedor do Prêmio Minuano de Literatura 2021. Narra a jornada de Dominique, um imigrante haitiano que se vê forçado a vir para o oeste catarinense em busca de trabalho e, nesse lugar, será exposto a uma série de dificuldades e revezes.
AC: Projetos em andamento: o que vem por aí nos próximos meses?
AT: Em vias de finalizar um próximo romance cujo tema se dá em torno da perversidade da tecnologia. Mas não posso falar, por enquanto. Talvez seja publicado no ano que vem, não está definido ainda.
AC: Entre os seguidores do canal de Literatura do Portal ArteCult, muitos são aqueles que escrevem ou que desejam escrever. Que conselho ou dica você poderia dar a eles?
AT: Digo que, em começo de carreira, não sejam tão exigentes com suas produções. Há hora para tudo. E o excesso de autocobrança e perfeccionismo pode ser tóxico no início, porque, perceba, há um descompasso. Sonhamos alto, nossas pretensões literárias podem ser grandes, nos inspiramos em autoras e autores que admiramos. Em contrapartida, salvo raras exceções, ainda não temos o conhecimento, o talento trabalhado, a mão firme, a experiência para alcançar tudo isso, de modo que nos frustramos. Aconselho que não joguem fora suas produções. E passem para a próxima e para a próxima. Algum tempo depois, voltem a elas. Ali pode estar a semente para algo melhor, mais maduro. Não se apressem em publicar. É preciso um tanto de paciência e persistência, mas em algum momento o esforço começa a gerar resultado.
O projeto AC Encontros Literários venceu o troféu APPERJ (Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro) 2021 na categoria Encontros Literários on-line.
Bem, é isso. Até a próxima!
Colunista do canal LITERATURA
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AC Encontros Literários tem curadoria e apresentação (lives) de César Manzolillo (@cesarmanzolillo).