Enquanto finalizo alguns artigos que estão em andamento, faltando apenas alguns detalhes, precisei dar uma escapadinha até São Paulo por conta de um compromisso inesperado. Como não queria ficar sem aparecer – quem não é visto não é lembrado, né? – pensei com meus botões, por que não contar um pouquinho desse final de semana até que consiga aprontar meus artigos pendentes? Afinal, a Terra da Garoa SEMPRE nos reserva muita coisa boa pra fazer, ainda que o tempo seja curto. Principalmente para que curte uma boa – e diferenciada – gastronomia…
Não faz tanto tempo assim estive em Sampa e contei todos os detalhes aqui, no ARTECULT, e vocês podem conferir nesse LINK. Foi uma viagem deliciosa, com muita diversidade de sabor! Não é à toa que a cidade é reconhecida mundialmente pela sua gastronomia rica e diversificada, por conta do caldeirão de influências de diversas culturas, sejam de portugueses, japoneses, coreanos, africanos e alemães. De acordo com informação obtida no portal da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho:
“São Paulo é uma das principais cidades do mundo no setor de alimentação e gastronomia. A capital paulista conta com cerca de 6% da população trabalhando com serviços de alimentação, mais de 23 mil restaurantes com culinária de diversos países do mundo, comida de rua, 13 cursos de universidades voltados à gastronomia, além de 30% da área voltada à agricultura familiar.“
Sempre que vou para São Paulo, gosto de ficar próximo da Avenida Paulista e do Metrô. Primeiro, porque essa avenida é o mais importante e simbólico logradouro do município mais rico e populoso do Brasil e, segundo, porque de Metrô se conhece muito da cidade, por conta de sua extensão e amplitude.
Pela manhã, iniciando a caminhada, nada melhor do que um café da manhã, né? O dia estava bonito, ensolarado… Andando pela rua do local em que fiquei, descobri uma pequena e acolhedora padaria, a PADANG (@padangbb), inspirada na vibe da praia de Padang Padang em Bali, Indonésia. Ela foi inaugurada em 2020 e possui duas unidades na Capital. O cardápio é bem interessante, com muita variedade de opções leves e saudáveis de café da manhã, brunch, bowls, saladas, toasts, smoothies e também algumas opções veganas.
Como não tinha muito tempo, pedi algo rápido: um típico pãozinho de queijo e torradas de levain na chapa com ovos mexidos, finalizado com pimenta do reino e cebolete. Estava tudo muito bom!
Fui caminhar, em família, pelo Parque Ibirapuera. Inaugurado em 1954 com uma área de 158 hectares (390 acres), entre as avenidas Pedro Álvares Cabral, República do Líbano e IV Centenário, é um parque urbano tombado e patrimônio histórico de São Paulo.
Voltando do passeio, dei de cara com a DEBETTI (@debetti), uma conhecida loja de carnes especiais.
“Desde 1880, a família Betti é formada por açougueiros. Eles começaram em Luca, na Itália, como comerciantes locais. Em 1920, Luis Betti veio para o Brasil e abriu seu primeiro açougue no centro de São Paulo. Após algum tempo, ele inaugurou uma nova unidade no bairro da Bela Vista, destinada aos filhos. Em 1970, Renato Betti fundou o primeiro “Carnes Flórida”, que posteriormente se tornou uma importante rede de açougues em São Paulo.“
O estabelecimento é muito bonito, as carnes expostas mais ainda. Além delas, uma boa variedade de produtos, como temperos, acessórios e vestuário estão espalhados pela loja. Eu bem queria ter feito minha parada pra comer ali mesmo – o ambiente é muito legal! – mas tinha horário e acabei só comprando alguns itens, já que não consegui resistir.
Dois passeios, hoje, quando viajo para São Paulo, são imperdíveis pra mim, ainda que um pouco seja por influência da minha filha dorameira: Liberdade e Bom Retiro.
Liberdade é um bairro situado na zona central do município de São Paulo, pertencente em parte ao distrito da Liberdade e, em parte, ao distrito da Sé, administrado pela Prefeitura Regional da Sé.
A Liberdade é conhecida como um “bairro japonês”, embora a presença nipônica não tenha ocorrido em todo o bairro, mas em ruas específicas. Imigrantes japoneses começaram a se estabelecer na região em 1912, vindos do interior de São Paulo, pois muitos não se adaptaram ao trabalho nas fazendas de café e passaram a buscar por melhores oportunidades na capital. Ainda hoje o bairro é famoso por seus restaurantes e comércio tipicamente japoneses, bem como pelas luminárias orientais e letreiros em japonês.
Atualmente, a maioria dos japoneses e descendentes já não reside no bairro, mantendo apenas seus estabelecimentos comerciais na região. Com a saída dos japoneses, a região passou a receber muitos imigrantes chineses e coreanos. (fonte: Wikipédia)
Era uma sexta feira, a Liberdade ainda estava “transitável”, já que, nos finais de semana, por conta da movimentação da feira japonesa, a quantidade de pessoas aumenta consideravelmente. Fui atrás do biscoito sembei, bastante tradicional e popular no Japão, que é uma massa leve e crocante, com mais de 30 centímetros que envolve o rercheio, que pode ser de lula, polvo e camarão, acompanhados de um molho: tarê, teriyaki, frutos do mar ou geleia de pimenta. O sembei é prensado em uma máquina importada a 330 graus e pode ser encontrado no IKA SENBEI (@ikasenbei_br).
É bem interessante acompanhar todo o processo de elaboração da iguaria. Eu pedi um de polvo e minha filha o de camarão. A prensa é tão forte que os ingredientes praticamente se fundem… Pra acompanhar, tomei uma cerveja Pilsen sem glutem chamada Onigiri, que se utiliza do arroz – daí o nome, em homenagem ao icônico bolinho japonês – como ingrediente para dar leveza e textura suave.
E, numa lojinha em frente, a Camille achou um doce bastante curioso…
Mas o grande objetivo dessa ida à Liberdade era conhecer o CU (@c.u_brasil). Sim, a famosa rede sul-coreana de lojas de conveniência, que se popularizou por aparecer em k-dramas e tem aproximadamente 17 mil operações em toda a Coreia do Sul, inaugurou a primeira unidade no Brasil. E é lógico que minha filha quis conhecer e viver e experiência, já que a rede conquistou um espaço no cotidiano dos coreanos, onde é extremamente popular na cultura local, oferecendo desde lanches e refeições prontas até itens de conveniência 24 horas. Ela queria por que queria preparar uma refeição no local, como já viu tantas e tantas vezes nos seus filmes e séries.
É lógico que fiquei curioso acerca do nome, né? Apesar de ser engraçadinha no Brasil, dando margem a um sem número de trocadilhos, os coreanos leem e pronunciam como “see you”, em inglês, que se traduz como “até logo”. No entanto, o letreiro costuma ser acompanhado de um “nice to” antes do CU, transformando a tradução em “foi bom te ver”.
Segundo a BGF Retail, dona da franquia coreana, a sigla significa “loja de conveniência para você”.
- C = convenience store (loja de conveniência)
- U = you (você)
Como vimos, no inglês, a pronúncia de “C U” soa como “see you”. No sentido literal, a frase significa “ver você”, mas também é comumente utilizada para despedidas informais. Se aproveitando disso, a marca utiliza os slogans “Nice to CU” (bom te ver), “Happy to CU” (feliz em te ver) e “CU again” (te vejo na próxima) em suas unidades.
A loja possui uma estação para fazer macarrão instantâneo no local, um hábito comum na Coreia, onde se paga uma taxa pelo uso das máquinas. Além disso, a refeição pode ser personalizada com acompanhamentos diversos. Ela montou seu lamen apimentado com queijo e salsicha e um refresco de maçã verde…
Próxima parada: FEIRA DO BOM RETIRO (@feiradobomretiro). Sobre o bairro:
“Localizado entre os rios Tietê e Tamanduateí, ele foi formado, no século 19, por algumas chácaras e sítios, como a “Chácara do Bom Retiro” que deu origem ao nome do bairro. Estas propriedades eram usadas como retiros de fim de semana pelas famílias mais ricas e tradicionais da cidade. Hoje, a região é essencialmente comercial, com uma grande diversidade de lojas e preços populares. O comércio, que move a economia do bairro, atrai pessoas de todos os lugares da cidade. Ele é um dos oito distritos pertencente a Subprefeitura Sé.
A região é formada por imigrantes italianos, gregos, portugueses, judeus e iugoslavos que ajudaram no desenvolvimento do bairro oferecendo mão de obra para trabalhar em São Paulo. Hoje, o lugar abriga sul coreanos, que se tornaram proprietários de grandes lojas nas principais ruas do bairro.
A Rua José Paulino, popularmente chamada de “Zepa”, além de ser ponto de referência quando o assunto é compras, traz uma história curiosa: foi nela, que em 1910, operários da região fundaram o Sport Club Corinthians Paulista.
O Bom Retiro abrigou também o primeiro prédio no Brasil destinado à instalação de uma linha de montagem de automóveis, com a inauguração da fábrica da Ford do Brasil na Rua Solon em 1921. Esse prédio, que ainda existe, foi a sede da filial brasileira da Ford até 1953, quando foi transferida para uma fábrica maior (que foi recentemente demolida), no bairro de Vila Prudente.
O bairro possui também uma importante herança patrimonial e cultural da cidade. Ele abriga a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Museu de Arte Sacra de São Paulo, o Museu da Língua Portuguesa (dentro da Estação da Luz), a Estação Pinacoteca (no antigo DOPS) e o Centro de Estudos Musicais – Tom Jobim.
A Estação Júlio Prestes foi restaurada e atualmente abriga a Sala São Paulo, sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP). O antigo solar que pertenceu ao Marquês de Três Rios, Joaquim Egídio de Sousa Aranha, em sua Chácara “Bom Retiro” e mais tarde, abrigando a Escola Politécnica da USP hoje abrigando a FATEC e a ETESP (fonte).”
São Paulo e Coreia do Sul têm uma história que começou oficialmente em fevereiro de 1963. Foi nesta época que o primeiro navio com imigrantes vindos diretamente do país atracou em terras brasileiras, trazendo na mala sonhos e a esperança de uma vida melhor, depois de um período sombrio de guerra e grande crise econômica por lá e hoje, 61 anos depois, a estimativa é que 50 mil sul-coreanos e seus descendentes vivam no Brasil, mais especificamente em São Paulo, onde aproximadamente 90% desse número residem.
Para mergulhar na cultura coreana, um passeio pela feira é obrigatório. Ela, que tem entrada gratuita, acontece todos os sábados, das 10h às 17h, na Rua Cônego Martins e lá, você encontrará apresentações multiculturais, apresentações covers de K-pop, barracas de vestuário, comida e tudo de arte coreana. Já falei dela aqui no artigo que mencionei.
Só que dessa vez queria provar outros itens. Comecei com um bao recheado com carne suína e um frango apimentado (nem tanto assim!) crocante, acompanhado de uma bebida de Mangostim, que veio numa curiosa embalagem transparente.
Depois, parti para um espetinho, com uma carne muito macia, provavelmente marinado no shoyu, e um Gimbap (hangul: 김밥) também romanizado como kimbap, é um prato coreano feito de arroz cozido, legumes enrolados em folhas secas de algas marinhas. É o sushi coreano…
Para beber, que tal um Makgeolli (em coreano: 막걸리) ou Makuly(takju) (em coreano: 탁주)? Trata-se de um vinho de arroz típico da Coreia. É doce, dotado de uma consistência leitosa e de uma cor branca. É preparado através da fermentação de uma mistura de arroz cozido e água, possuindo uma taxa de álcool de cerca de 4–7%.
“Makgeolli é a bebida alcoólica mais antiga da Coreia. Registros históricos mostram que os coreanos bebem makgeolli desde a Dinastia Goyreo (918-1392). Na verdade, makgeolli era uma das bebidas alcoólicas mais consumidas da época. Em seu poema intitulado “The White Brew”, o estudioso Yi Kyu-bo (1168-1241) reflete sobre makgeolli – a única bebida que ele podia se dar ao luxo de consumir durante seus dias como plebeu e a única bebida que ele não teve a liberdade de aproveitar quando se tornou um alto funcionário da corte. No ‘Relato Ilustrado de uma Missão Oficial à Coreia durante o Reinado Xuanhe’ de 40 volumes escrito por Xu Jing (徐兢), um enviado da Dinastia Song da China que ficou por mais de um mês na Corte de Goryeo em 1124, ele afirma: “O povo de Goryeo fabrica álcool usando arroz não glutinoso, pois o arroz glutinoso não está disponível aqui. O teor de álcool é alto, então a pessoa fica bêbada rapidamente e fica sóbria com a mesma rapidez… Os plebeus não têm acesso ao álcool de boa qualidade produzido pelo governo, então eles fabricam o seu próprio, que é desagradável e de cor turva.”
Como todos os aspectos da cultura da época, beber era estritamente segregado com base no status social, e makgeolli era uma bebida barata feita com excedentes de colheitas favorecidas por fazendeiros e pela classe trabalhadora. Por causa do baixo teor alcoólico e da carbonatação refrescante do makgeolli, era costume — até recentemente — servir makgeolli aos fazendeiros e trabalhadores durante suas pausas do trabalho intenso. (fonte)”
Existem de diversos sabores, optei pela de uva verde.
Hora de adocicar a vida. E, para isso, nada melhor que seguir a tradição. Fui de Taiyaki, doce japonês em formato de peixe, feito de massa semelhante a waffle e recheado, normalmente, com pasta de feijão vermelho; um delicioso crepe japonês; e uma bebidinha a base de café, para arrematar…
Depois, para completar o dia, fui conhecer as instalações do CENTRO CULTURAL COREANO NO BRASIL (@kccbrazil), que é uma organização cultural oficial do governo coreano e fica ali na Avenida Paulista.
E uma pausa pra um cafezinho, depois de garimpar alguns livros, ali no CAFÉ MESTIÇO (@cafe_mestico), que fica localizado na sobreloja da Livraria Martins Fontes, na Avenida Paulista com a Brigadeiro Luis Antônio.
A estadia foi curta – São Paulo demandaria muito mais tempo! – mas ainda deu pra fazer um último programa: experimentar os sanduíches artesanais da ANTICA SALUMERIA (@antica.salumeria), localizada na Rua Pamplona desde 2019.
Ainda dei sorte que fui exatamente no dia em que se costuma ter degustação na loja. Fui muito bem recepcionado pela atendente, que me mostrou uma boa variedade de queijos e outros produtos, bem como me guiou na prova dos embutidos de fabricação própria. Já garanti, ali, meu pecorino romano e o guanciale pro meu Carbonara…
Mas vamos aos sanduíches, acompanhados de uma soda italiana: pedi uma schiacciata – sanduíche italiano preparado na focaccia de fermentação longa – com recheio de pancetta defumada, queijo stracciatella, tomate confit e rúcula; e um misto quente, feito com o pão da vó, manteiga, lombo e muçarela. Estava divino!
E assim foi o meu passeio por terras paulistas. É sempre muito prazeroso descobrir os sabores dessa cidade e, com certeza, já estou me programando para uma nova aventura.
Pude recarregar minhas baterias e já estou pronto para dar andamento aos novos artigos. Tem bastante novidade vindo por aí.
Até a próxima!