Com curadoria de Ana Paula Cohen, mostra abre ao público no sábado, 29 de julho, e segue até 1º de outubro. Em duas instalações, o artista mineiro explora interpretações sobre funções e usos que o espaço expositivo já teve
A Capela do Morumbi apresenta a partir de sábado, 29 de julho, o trabalho Texto, do artista mineiro Thiago Honório (1979). A mostra é uma espécie de segundo ato da exposição-processional Oração, realizada em maio e junho de 2023, na Galeria Luisa Strina, em São Paulo, com curadoria de Ana Paula Cohen. Na experiência de Texto, Thiago Honório toma a construção da Capela do Morumbi – a edificação em ruínas de taipa de pilão – e a parte externa do jardim rente à parede de seu “altar”, considerando o corpo arquitetônico e os deslocamentos do corpo do espectador no interior dele como texto, tecido e trama. O conceito de tecido aqui usado é o definido por Roland Barthes, em que o significado se constrói através de um entrelaçamento contínuo.
A partir da noção de texto foram consideradas as diversas hipóteses e interpretações das ruínas que constituem a Capela do Morumbi: ora como sendo uma capela consagrada a São Sebastião dos Escravizados, ora como capela acompanhada de sepulturas destinadas aos proprietários da Casa da Fazenda do Morumbi, ora, ainda, as ruínas de um paiol. Entre natureza viva e natureza-morta, entre paiol e capela, capela e paiol, esse segundo ato, desdobramento da exposição processional Oração, o trabalho Texto levanta tais questões, deixando em suspenso, a partir de uma dimensão simbólica, as funções e os usos desse espaço de exposições: a Capela do Morumbi.
A exposição é constituída por duas obras. Na sala principal da Capela do Morumbi, o espectador se depara com Texto. Trata-se de um trabalho constituído por uma trama de ramos de algodão natural que atravessa imaginariamente a parede do altar, “continuando” plantada numa pequena fatia do jardim atrás da Capela, em área retangular rente a essa parede. Tal parte do trabalho presente na área externa, colhida por floristas imigrantes japoneses no inverno de 2023, é transplantada de um algodoal e, para tanto, tem esse pequeno pedaço de seu solo tratado, cuidado, regado. Texto se relaciona com a ideia de trama, tecido e narrativas em suspenso, evoca tanto os tapetes processionais realizados com serragem natural tingida nas procissões da Semana Santa e de Corpus Christi, uma espécie de tapete-nuvem de ramos algodão, como um algodoal, relacionando-se, também, com as paredes de taipa de pilão, de terra em “carne viva”, da Capela do Morumbi. Vida e morte, peso e leveza, dentro e fora, gravidade e suspensão de algum modo são elementos que aparecem nesse campo-plantação-colheita-tapete que constituem o arranjo. O trabalho Texto conjuga, ainda, uma reunião de temporalidades distintas: o arranjo de ramos de algodão natureza-morta do lado de dentro da capela e a still life – natureza-viva na pequena área plantada transplantada – do lado de fora, no jardim.
O trabalho Aleijadinho está disposto no batistério da Capela do Morumbi, em meio aos afrescos que representam a cena do batismo de Cristo com anjos de fisionomias indígenas pintados pela artista pernambucana Lucia Suanê (1922-2020) nos anos 1940. Há nesse trabalho uma discussão sobre o estatuto da mão em diversos âmbitos, um trabalho realizado a várias mãos: as mãos do escultor Aleijadinho, as mãos dos assistentes de Aleijadinho, as mãos da imagem esculpida, as mãos dos santeiros populares responsáveis pela réplica, as mãos da arquiteta Lina Bo Bardi ao desenhar os cavaletes de cristal, as mãos dos técnicos que executaram o cavalete, as mãos do artista na realização dos projetos, croquis e estudos para o desenvolvimento da obra Aleijadinho, as mãos da assistente do artista, as mãos da curadoria, as mãos dos montadores que incrustarão as mãos esculpidas na pele de cristal.
A reunião de temporalidades distintas e deslocamentos, tão caros à produção de Thiago Honório, se relaciona diretamente tanto com o que se presentifica na construção da Capela do Morumbi, ruínas de uma arquitetura vernacular – a taipa de pilão – com a arquitetura moderna via gesto de restauro do arquiteto ucraniano Gregori Warchavchik (1896-1972), como na obra Aleijadinho, as réplicas das mãos esculpidas e encarnadas pelos santeiros populares mineiros na pele de cristal do cavalete criado pela também arquiteta moderna italiana Lina Bo Bardi.
Sobre o artista
Thiago Honório é um artista visual e professor nascido em Carmo do Paranaíba, Minas Gerais, cujo trabalho tem recebido reconhecimento tanto no Brasil quanto no cenário internacional. Bacharel em Artes Plásticas pela UNESP, possui Mestrado e Doutorado pela ECA/USP, atualmente vive e trabalha em São Paulo, atua como professor da Faculdade de Artes Plásticas da FAAP. Suas obras estão presentes em importantes museus e coleções públicas, como Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal; Itaú Cultural, São Paulo, Brasil; KADIST
Art Foundation, San Francisco, EUA / Paris, França; Museo de Arte Contemporáneo Atchugarry – MACA, Manantiales, Uruguai; Museu de Arte do Rio – MAR, Rio de Janeiro, Brasil; Museu de Arte Brasileira – MAB/FAAP, São Paulo, Brasil; New York Public Library, Nova York, EUA; Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil. Já realizou exposições individuais no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e no Museu de Arte de São Paulo (MASP). Também participou de coletivas em instituições relevantes, como o Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP.
SERVIÇO
Exposição Texto, de Thiago Honório
- Curadoria: Ana Paula Cohen
- Local: Capela do Morumbi
- Endereço: Avenida Morumbi, 5387 – Morumbi, São Paulo
- Abertura: 29 de julho de 2023, das 13h às 17h
- Período expositivo: 29 de julho a 1º de outubro de 2023
- Horário de funcionamento: terça a domingo, das 9h às 17h