Sobre ética nas relações de disputa

“A Ética nas Relações de Disputa”. Crédito: ArteCult/CoPilot

 

Sobre ética nas relações de disputa

 

Hoje, dia 5 de Agosto, dia de aniversário de meu irmão e que se consagra também como o dia em que Rebeca Andrade ganha o ouro nos jogos olímpicos, colocando em segundo lugar nada mais, nada menos que Simone Biles, a norte-americana que se consagrou como uma das gigantes de todos os tempos. O que mais encantou foi o momento do pódio: a brasileira em primeiro lugar sendo reverenciada pelas duas adversárias.

A espécie humana forjou em sua história a disputa. Tanto as bélicas quanto às de distintas relações levaram em consideração o desejo de comparação e de luta. Em suma, a nossa sociedade se forja em sangue de disputas anteriores. É impossível chegar ao mundo que temos hoje sem o sangue de alguém não ter sido derramado. O desejo de Coubertin, quando imaginava os Jogos Olímpicos da Modernidade já serviu de palco para as mais belas racionalizações. As lutas, algumas profundamente políticas, já levaram à cessação de guerras. Vale, inclusive, a lembrança do poderio de Jesse Owens, quando a Alemanha, tomada pelo câncer corrosivo e purulento do Nazismo, viu aquele Deus do Ébano expor a falácia da supremacia ariana. Lindo. Histórico.

Hoje, ao ver a reverência das americanas à brasileira, três mulheres negras, é entender como se respeitam os processos em sua intimidade ética. Ao mesmo tempo, 3 mulheres negras estavam no pódio. Todas oriundas de países profundamente racistas. Acredito que vale a pena ver quantos atletas negros e brancos subiram ao pódio ao longo dos anos. Sei que essa Olimpíada é a mais democrática quanto ao quesito gênero. Demorou. Ainda é ano de 2024. No entanto, vemos acontecendo. Se acontece nas Olimpíadas, aos poucos veremos em nossa sociedade. O que não pode é esmorecer e acreditar que já está resolvido.

Espero que o exemplo de ética, de respeito, se tornem mais constante. Mesmo sabendo que a covardia é também profundamente humana e encontra em todo o Reino Animal, a ética pelo respeito ao adversário poderia ser a consequência basal da disputa. Deveriam aprender os torcedores de futebol, que usam da disputa de seus times um martírio à violência. Obrigado Rebeca, Simone e Jordan por tão belo espetáculo em todas as esferas em que atuam. O mundo se rende a vocês.

 

 

MÁRCIO CALIXTO
Professor e Escritor

Márcio Calixto. Foto: Divulgação.


Coluna de Márcio Calixto

 

 

 

 

Author

Professor e escritor. Lançou em 2013 seu primeiro romance, A Árvore que Chora Milagres, pela editora Multifoco. Participou do grupo literário Bagatelas, responsável por uma revolução na internet na primeira década do século XXI, e das oficinas literárias de Antônio Torres na UERJ, com quem aprendeu a arte de “rabiscar papel”. Criou junto com amigos da faculdade o Trema Literatura e atualmente comanda o blog Pictorescos. Tem como prática cotidiana escrever uma página e ler dez. Pai de dois filhos, convicto morador do Rio de Janeiro, do bairro de Engenho de Dentro. Um típico suburbano. Mas em seu subúrbio encontrou o Rock e o Heavy Metal. Foi primeiro do desenho e agora é das palavras, com as quais gosta de pintar histórias.