
Coluna de Márcio Calixto

Mãos desenhando. Escher. 1948.
Durante muito tempo fui do desenho. Até o final da minha adolescência, eu segui pelo desenho, foram os livros e minha paixão pela Língua Inglesa que me levaram às Letras. Se hoje lês estas palavras, aqui as estou desenhando.
Se não me engano, não é a primeira vez que dialogo em palavras tal posicionamento. No entanto, hoje, tem um quê especial. Estamos todos em um restaurante. O caderninho tornou-se companheiro. Arthur, meu segundo filho, também anda com seu caderninho. Para desenho. Ele já possuía um desejo genuíno para o desenho. Essa semelhança de gosto nos aproxima. Ele me mostra seus desenhos, que já possuem uma desenvoltura expressiva e impressionante para um menino de 8 anos. Com o caderninho, alvo de minha nova paixão, eu também voltei a me aventurar no desenho. Fiz um rascunho. Despretensioso. Este foi alvo do desejo de Arthur, que o elogiou e o analisou. Aqui na mesa, agora, trocamos canetas e experiências sobre escrita e desenho. A maravilha da vida está nisso.
Com o tempo, passei a afirmar que desenho com palavras, mas não escrevo de forma imagética, buscando descrições infindas. Gosto do psicologismo que a literatura abraçou com o tempo, quando as alegorias passaram a dar voz aos arquétipos. Eles desenham muito. Vejo o desenho de meu filho, um herói contemporâneo de mangá, o Goku, somado a uma perspectiva do Sonic, do qual ele gosta muito. Eu também. Quando garoto, logo depois que ganhamos o nosso primeiro videogame. Joguei Sonic em todas as plataformas. Vê-lo desenhando Sonic é lindo. È uma pluralização peculiar e fabulosa.
Os desenhos personificam universos particulares. Quando vemos um desenho, mesmo dentro de estilos fechados, como hoje é o mangá, é uma forma de acessar o mundo que um indivíduo é. Por isso, digo que cada pessoa deveria ser instrumentada à arte. Esse deveria ser o principal papel das escolas, não essa pasteurização absurda e ignorante que as escolas e a escolástica hoje fazem. Perdemos muito quando não entendemos a arte.
MÁRCIO CALIXTO
Professor e Escritor

Márcio Calixto. Foto: Divulgação.


Coluna de Márcio Calixto










Você não só desenha como suas palavras pintam e esculpem.