ROCINO CRISPIM: compositor e saxofonista resgata obras de Luiz Americano, um dos grandes nomes do choro

Rocino Crispim. Foto: Margo Margot

 

No dia 13 de junho, 5ª feira, o Teatro SESC Ramos apresenta o show Rocino Crispim e Regional Caboclo Tocam Luiz Americano. Rocino e o Regional fazem um resgate  da valiosa obra do compositor, saxofonista e clarinetista Luiz Americano, um dos grandes nomes do choro que ajudou a construir a história desse gênero no país. Ao todo, o espetáculo ocupa cinco palcos do Circuito Sesc RJ Pulsar 2023/24 no mês de junho: Barra Mansa, dia 07; Ramos, dia 13; Madureira, dia 14; Nova Iguaçu, dia 21 e São Gonçalo, dia 28.

A proposta do espetáculo, idealizado pelo compositor, saxofonista, ator e escritor Rocino Crispim,   não é mostrar apenas composições consagradas, mas as pérolas intocadas que poucos conhecem e que correm o risco de cair no esquecimento. É um resgate mais que necessário da obra de Luiz Americano. Nascido em 1900, em Aracaju (SE),  ele fez sucesso no Rio de Janeiro entre 1940 e 1960 e conquistou os ouvidos mais apurados, tornando-se um dos músicos mais respeitados e solicitados de sua época.

O compositor também atuou em teatro de revista, dancings e foi músico de estúdio da Rádio Mayrink Veiga e da Rádio Nacional até os anos 1960. O músico fundou a American Jazz Orchestra, ingressou no Grupo da Velha Guarda em 1932, trabalhou ao lado de artistas consagrados como Cartola, Pixinguinha, Donga, Jacob do Bandolim e outros grandes nomes daquele período.

Guido Tornagui, Leandro Ferreira, Rocino Crispim, Leo Careca e Kevin Shortallo. Foto: Margo Margot

Em 1940, convidado por Villa-Lobos, participou da gravação a bordo do navio “Uruguai”, para o disco “Native Brazilian Music”, idealizado e dirigido pelo maestro norte-americano Leopold Stokowski.

 

“Minha pesquisa focou nos arquivos sonoros gravados pelo próprio Luiz Americano. Recebi doações de amigos ou vasculhei áudios em acervos como o do Instituto Moreira Salles. Acredito que partir dos áudios originais do artista, e não de partituras ou releituras, tenha sido fundamental para acessarmos de fato a alma de Luiz Americano,” explica o músico e idealizador  Rocino Crispim.

 

A ideia principal é fazer um trabalho relevante de valorização da cultura musical brasileira e ampliar o conhecimento da obra de um dos maiores compositores da história do choro. Nesta entrevista para o ArteCult, Rocino conta mais detalhes sobre o processo de pesquisa, sua relação com a arte e como começou a tocar.

 

Entrevista com Rocino Crispim

1) Você é ator, saxofonista e compositor. O que veio antes, a música ou a atuação? Como começou a tocar e compor?

Tudo começou aos 7 anos de idade, quando ficava olhando meu tio estudar violão. Logo fiquei interessado em aprender e ele achou que eu tinha facilidade. Sem que eu soubesse, ele falou com minha mãe, que me deu  um violão de presente de Natal. Como eu sempre gostei de ler e escrever, compor foi algo natural para mim. Assim, a música veio primeiro, e com o violão. Já adulto, investi no saxofone, um instrumento. Tive aulas com o saxofonista Idriss Boudrioua. Certa vez, fiz seleção para a Cia. dos Comuns, uma companhia de teatro do Rio de Janeiro. Tocava violão e saxofone na Comuns e acabei me interessando por estudar teatro. A melhor coisa que fiz, pois hoje tenho mais essa ferramenta para me expressar, principalmente porque acabei fazendo curso de roteirista.

2) No cinema, você atuou no longa Capitães da Areia, dirigido por Silvia Carvalho e também compôs a trilha do filme. Como foi o processo de composição para a trilha?

Foi uma experiência magnífica.Tive toda liberdade para estudar as cenas e propor as sonoridades que ajudariam a compor o filme. Após decidir junto com a Silvia os melhores caminhos sonoros para as cenas, fui para o estúdio com os músicos e gravamos tudo rapidamente. Optamos por uma trilha completamente instrumental, o que agilizou o processo, pois tudo estava registrado nas partituras. Também optamos por gravação “ao vivo”, ou seja, com todos os instrumentos simultaneamente, o que deixou as gravações bem mais “quentes” e vivas, dentro do espírito dos Capitães da Areia.

3) Neste show do Circuito SESC você resgata músicas pouco conhecidas de Luiz Americano. Como foi a pesquisa? (quanto tempo durou, quais foram as surpresas, os locais de pesquisa, curiosidades, etc).

O trabalho de pesquisa durou cerca de dois anos. Ganhei doações de amigos e encontrei muita coisa em sites de cultura, como o Instituto Moreira Salles. Na época, havia pouco material na internet, mas hoje há muito mais material disponível por aí. O problema de pesquisas desse tipo é que você não pode se dar por satisfeito ao encontrar um bom volume de material. É preciso continuar pesquisando, pois sempre aparecem conteúdos novos. Então, em determinado momento, decidi que iria focar em composições do próprio Luiz Americano, ou naquelas que foram por ele imortalizadas, pois ele gravou muitas músicas de outros compositores. Assim, pude fechar o campo de pesquisa Então, parti para o outro desafio, que foi escrever as melodias e harmonias básicas. Foi um processo muito prazeroso e enriquecedor. Foi curioso, inclusive, notar a evolução do próprio Luiz Americano e a consolidação de seu modo de compor.

4) Quais são as suas principais referências musicais e porque escolheu o saxofone?

Referências são sempre múltiplas e variam no tempo. Lá em casa sempre tinha música ao vivo nas comemorações. Então, cresci com os sambas de Roberto Ribeiro João Nogueira cantados em família. Mas aos 13 anos já estudava violão em conservatório, quando tive contato com a obra de Dilermando ReisFrancisco Tárrega e outros mestres do instrumento. Como eu já gostava de compor músicas com letras, minha forma de composição tornou-se bastante particular, com uma música que traz uma pegada instrumental forte, mas com espaço para as letras. Dentro desse universo, o saxofone veio depois, preenchendo um campo mais instrumental da minha música. Pode parecer confuso, mas para mim é muito natural um dia compor uma música com letra ao violão e no dia seguinte pegar o saxofone e compor um choro, uma melodia inteiramente instrumental. Eu não escolho nada, simplesmente deixo a música acontecer.

5) Quais são os seus próximos passos? Algum novo projeto à vista?

No campo da música instrumental, meu objetivo é continuar levando o projeto de resgate da música de Luiz Americano às pessoas. Alguns amigos já estão pedindo as partituras para começarem a tocar Luiz Americano. Esse é o verdadeiro propósito desse resgate, fazer com que outras pessoas descubram e preservem nossa cultura. Já no meu lado MPB, estou em processo de produção de músicas autorais que serão lançadas nas plataformas digitais. É um trabalho que traz o amadurecimento de anos de composição e que vou mostrar ao lado de grandes e generosos nomes da nossa MPB. Os arranjos estão sendo feitos por Marcelo Caldi. Pretendo lançar esse trabalho ainda em 2024. Meu terceiro projeto está ligado ao teatro. É a montagem do meu roteiro Bird: Asas Quebradas. Reunimos uma equipe de peso, com vasta experiência em teatro negro, como Hilton CobraZezé MottaCridemar AquinoTatiana Tibúrcio etc.  Estamos inscrevendo o projeto em editais de cultura e temos certeza de que em breve iremos produzir esse trabalho tão necessário para a conscientização dos negros em nosso país.

 

Sobre Rocino Crispim

Rocino Crispim. Foto: Margo Margot.

É compositor, saxofonista, ator e escritor. Rocino idealizou e apresentou espetáculos como “Quem faz samba” (CCJF), show de sambas inéditos em que teve como convidados o sambista Wanderley Monteiro, Vilani Silva, Roberta Espinosa, entre outros. Durante anos, apresentou o espetáculo Choros Clássicos, em diversos palcos como CCJF, Casa de Cultura Laura Alvin, Confeitaria Colombo e Teatro Sesi, com uma formação de saxofone, piano e pandeiro. No Forte de Copacabana, apresentou o espetáculo Cartola & Eu, com composições suas e releituras de Cartola. Na área de produção de trilhas, Rocino compôs músicas que integraram o documentário “Dirty Games: Olympic Evictions in Rio de Janeiro”, sobre a desocupação da Vila Autódromo (RJ), produzido pela Universidade de Bergen, na Noruega. No cinema, atuou no longa Capitães da Areia, dirigido por Silvia Carvalho e também compôs a trilha sonora do filme.

No teatro, Rocino foi integrante da Cia. dos Comuns, companhia de atrizes e atores negros do RJ que atua com foco em temas africanos. Integrou o espetáculo Negro Olhar, idealizado por Tatiana Tibúrcio, com a participação da atriz Ruth de Souza, no Teatro Nelson Rodrigues (2010). Participou da montagem de “Ricardo III está Cancelada”, de Matéi Visniec, em que atuou como protagonista no papel de Ricardo III (2018).

@rocinocrispim.

 

 

SERVIÇO

Rocino Crispim e Regional Caboclo Tocam Luiz Americano

Circuito SESC :

  • Barra Mansa: 07 de junho
  • Ramos:  13 de junho
  • Madureira: 14 de junho.
  • Nova Iguaçu: 21 de junho.
  • São Gonçalo: 28 de junho.

Horário: 

19h (Ramos, Madureira e São Gonçalo)

20h (Nova Iguaçu)

Endereços:

13/06 | Ramos | 19h – R. Teixeira Franco, 38 – Ramos, Rio de Janeiro

14/06 | Madureira  | 19h – R. Ewbank da Câmara, 90 – Madureira, Rio de Janeiro

21/06 | Nova Iguaçu | 20h – Rua Dom Adriano Hipólito, 10 – Moquetá, Nova Iguaçu – RJ

28/06 | São Gonçalo | 19h – Av. Pres. Kennedy, 755 – Estrela do Norte, São Gonçalo – RJ

Ingressos: R$ 10 (inteira), R$ 5 (meia entrada) e gratuito (Credencial Plena Sesc e PCG).

Classificação: 12 anos

 

FICHA TÉCNICA 

Direção Musical, Pesquisa e Texto: Rocino Crispim
Músicos: Rocino Crispim (saxofone) e Regional Caboclo – Leandro Ferreira (cavaquinho); Kevin Shortall (violão7); Guido Tornaghi (violão 6); Leo Careca (pandeiro)
Figurinos: Margo Margot
Desenho de luz: Ademir Lamego
Técnico de som: Mank
Realização: Sesc Pulsar
Produção: Núcleo de Ensaio e Pesquisa de Artes Integradas – NEP
Assessoria de Imprensa: Cristiana Lobo
Marketing Digital: Mila Ramos

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Redação do Portal ArteCult.com.   Expediente: de Seg a Sex - Horário Comercial.   E-mail para Divulgação Artística: divulgacao@artecult.com.   Fundador e Editor Geral: Raphael Gomide.  

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