PUREZA: A história de uma heroína que, em busca de seu filho, desmascarou a escravidão rural

 

A história de Pureza Lopes Loyola, interpretada por Dira Paes, em “PUREZA” (estreia 19/05), é mais um dos casos inacreditáveis que acontecem no Brasil, de tão forte e impactante que é. O filme conta a trajetória real de uma mãe em busca de seu filho. Ao desconfiar que ele está sendo forçado a trabalho escravo, acaba descobrindo a dura realidade da existência desses atos cruéis em fazendas da Amazônia.

Cena de “Pureza”. Divulgação: Downtown Filmes.

O que começa com a tentativa de trazer o filho de volta para casa, se torna algo muito maior, ao expor para o Brasil uma realidade brutal que, mesmo depois de mais de 20 anos do acontecido, ainda existe. E o diretor Renato Barbieri faz uma ótima condução ao mudar o foco da história, sem perder a principal motivação da protagonista, que, mesmo depois de testemunhar atos desumanos contra gente inocente, ainda mantinha a esperança de resgatar seu filho cujo paradeiro ainda era desconhecido.

A forma como o diretor decide contar a história, com um ritmo mais distenso, foi uma boa escolha, já que a própria história apresenta uma sequência de atos violentos e fortes, provocando impacto no espectador. O ritmo só fica forçado por conta da trilha sonora, que, em momentos isolados, realça demais as emoções da cena, o que acaba se tornando algo insistente para que o público se emocione. Além disso, em alguns momentos, a trilha acaba não sendo muito coerente com o momento que ela acompanha.

Cena de “Pureza”. Divulgação: Downtown Filmes.

A montagem segue um bom ritmo, deixando a trajetória da protagonista mais fluida, mas a única coisa que não fica muito esclarecida é a passagem de tempo. Por exemplo, fica muito vago o tempo que durou a busca de Pureza pelo seu filho e são escassos os elementos e recursos que ajudam a ilustrar esse ponto. O ritmo tem uma grande ruptura no final do segundo ato, quando o filme muda o estilo e a forma de mostrar a crueldade dos fatos, e passa para a parte democrática, ao denunciar essa realidade, revelando que existia um esquema bem maior, com membros da política brasileira envolvidos para manter a escravidão de inocentes na área rural do país.

Cena de “Pureza”. Divulgação: Downtown Filmes.

No momento em que Pureza migra para Brasília, o filme fica mais artificial por conta da crítica consciente que o roteiro faz, ou seja, para a narrativa é algo que a história pede, mas, nesse ponto, parece mais um relato tirado de um documentário do que um filme biográfico que se baseia em fatos reais. Isso acaba se desconectando do estilo que o filme tinha adotado até então, embora retorne, depois dessa cena específica.

Cena de “Pureza”. Divulgação: Downtown Filmes.

Esse é um dos casos em que o filme se sustenta pela a atuação da atriz. Dira Paes entrega uma incrível performance, a de uma mulher simples, sem nenhuma ambição, que teve sua vida mudada repentinamente e descobre crueldades e atos monstruosos com outras pessoas e, possivelmente, contra seu filho. E, no meio de tantas reações de medo e desespero, Pureza ainda precisava manter a esperança acima de tudo. Além disso, seu instinto de mãe faz com que ela ajude a todos os homens que eram forçados a viver naquela situação precária, explorados dia após dia até morrer.

CONFIRA O TRAILER:

“Pureza” é mais uma obra do nosso cinema, que relata os atos desumanos que ainda existem, não só no país, mas em todo o mundo, contada a partir dos olhos de uma mãe, com o único objetivo de encontrar seu filho, desencadeando algo maior.

NOTA: 8

BRUNO MARTUCI


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Colaborador de Teatro Musical e CINEMA & SÉRIES dos sites ARTECULT.com, The Geeks, Bagulhos Sinistros, entre outros.

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